quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Caderno Técnico: Influência das variáveis climáticas sobre o comportamento de ovinos da raça Santa Inês


caderno técnco - santa inês


RESUMO – Objetivou-se avaliar a influencia das variáveis climáticas sobre o comportamento de ovinos Santa Inês mantidos a pasto. Foram utilizados nove carneiros e as categorias comportamentais avaliadas foram: consumo de alimento, ócio em pé, ócio deitado e ruminação. As observações ocorreram das 8h às 17h, durante dois dias da semana, totalizando 12 dias em cada período (seco e chuvoso) do ano de 2015. As variáveis climáticas: temperatura (TºC) e umidade relativa do ar (Ur), velocidade do vento (Vv) e pluviosidade (Pluv). As médias foram comparadas teste Tukey a 5% de probabilidade e analisadas a correlação de Pearson entre as categorias com as variáveis climáticas. No período chuvoso, quando os animais estão consumindo alimento (CA), as principais variáveis climáticas que influenciam para a diminuição ou interrupção do pastejo são a Vv e a Pluv. No período seco, são TºC e Ur. Concluímos que as variáveis climáticas influenciaram na expressão do comportamento de ovinos Santa Inês

Introdução
A ovinocultura é uma atividade de grande importância social e econômica no Brasil e, além disso, representa uma boa alternativa para o agronegócio brasileiro. No entanto, o crescimento do setor em número de animais nem sempre é acompanhado de maior produtividade da cadeia produtiva, ocorrem perdas no processo produtivo em função dos projetos de implantação não considerarem as peculiaridades da espécie criada e, principalmente, das características de cada região. As variáveis climáticas são um dos principais fatores que devem ser considerados durante a criação de ovinos em região de clima quente úmido, tendo em vista que quando adaptados ao ambiente os animais respondem positivamente com relação à produtividade. Neiva et al. (2004) descreveram o estresse por calor tem sido reconhecido como um importante fator limitante da produção ovina nos trópicos. Sendo assim, o estudo do comportamento de ovinos merece atenção especial tendo em vista que é fundamental expandir o conhecimento sobre as estratégias adaptativas dos animais antes de realizar mudanças nos sistemas de criação e no manejo, de forma a adequar recomendações técnicas às necessidades das diversas espécies de animais de produção (BROOM E FRASER, 2010). Com isso, o objetivo desse trabalho foi avaliar a influencia das variáveis climáticas sobre o comportamento de ovinos da raça Santa Inês mantidos a pasto.
Revisão Bibliográfica
Os ovinos são geralmente criados em sistema extensivo, e no pasto, onde passam a maior parte do dia, geralmente ocorrem às atividades desses animais, as quais são alternadas em pastejo, ócio e ruminação (SANTOS et al., 2011). Essas atividades, quando desempenhadas a pasto, podem ser influenciadas por fatores relacionados ao local, características da pastagem, práticas de manejo, fornecimento de suplementação alimentar, pelas atividades dos animais em grupo, e condições climáticas (POMPEU et al., 2009; LIN et al., 2011; SEJIAN et al., 2012). Dentre as atividades exercidas pelos animais criados extensivamente, o pastejo pode ser considerado a mais importante, pois é nessa atividade que os animais gastam mais tempo para realizá-la. Dessa forma, sob o ponto de vista da produção, os fatores que influenciam e resultam em um maior tempo de pastejo são significativos para o desempenho animal (SIQUEIRA e FERNANDES, 2014). O tempo de pastejo pode ser influenciado pela estrutura da pastagem, qualidade e quantidade da forragem, pela seletividade e pelo clima. O ovino, mesmo diante de alterações na estrutura da pastagem, ajusta o seu comportamento ingestivo visando manter o consumo. Além disso, independente da causa, se a quantidade de bocado diminui, o animal procura compensar pela elevação do tempo de pastejo ou alteração na taxa de bocados (ROMAN et al., 2007). Nas atividades ingestão de alimento, ruminação e ócio são parâmetros comportamentais, e resultam no padrão comportamental do animal. O padrão comportamental a pasto pode ser avaliado a cada 5 minutos durante 24 horas ininterruptas, a uma distância que não interfira no comportamento natural dos animais (LIMA et al., 2014). De modo geral, os ovinos pastejam dez horas por dia, em grupos, buscam as horas mais amenas, são indefesos, e esses comportamentos são gerais, inerentes à espécie, e são altamente variáveis de acordo com o ambiente (BLACKSHAW, 2003).
Materiais e Métodos
O experimento realizou-se no Centro de Pesquisa em Caprinos e Ovinos do Estado do Pará (CPCOP), na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA), Belém-PA. Avaliaram-se dois tratamentos, CHUVA (T1 – 02/03 a 10/04) considerado o período chuvoso e SECO (T2 – 17/08 a 25/09) o período seco, de acordo com o regime de chuvas. O período de observação foi de 12 dias alternados, duas vezes por semana. Foram utilizados nove machos ovinos Santa Inês, pelagem preta, pesando em média 32,5 Kg e faixa etária média de um ano. Não dispuseram de sombra em piquetes com Panicum maximum cv. Massai das 8h às 17h. Água e sal mineral foram fornecidos ad libitum. Registrou-se às 8h, 10h, 12h, 14h, 16h e 18h as variáveis climáticas: temperatura (TºC) e umidade relativa do ar (Ur), velocidade do vento (Vv), pluviosidade (Pluv), temperatura de bulbo seco (Tbs), de bulbo úmido (Tbu) e de globo negro (Tgn) por estação meteorológica (INCOTERM – NEXUS Funk Wetterstation) e equipamentos analógicos, colocados em 0,70 m de altura. As categorias comportamentais observadas foram: pastejo (CA), ruminação (RM), ócio em pé (OP) e deitado (OD), em observação direta, com rota de amostragem focal e registro contínuo a cada 5 minutos (MARTIN E BATESON, 1993). Os dados foram submetidos à Análise de Variância (ANOVA) e, se significativo, as médias dos tratamentos foram comparados pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Em caso de parâmetros não normais, foi utilizado a Análise de Variância unidirecional de Kruskall-Wallis. Foram analisadas as correlações dos parâmetros comportamentais com as variáveis climáticas através da utilização da correlação de Pearson.
Resultados e Discussão
Nos períodos do ano, os carneiros passaram, em média, 66,2% ±27,1 pastejando, 21,3% ±19,8 em ócio em pé, 1,6% ±2,4 em ócio deitado, e 10,8% ruminando (Tabela 1). A similaridade dos comportamentos registrados, em ambos os períodos do ano, pode se atribuir ao fato de que os carneiros desenvolveram padrões comportamentais de consumo de acordo com as condições ambientais as quais foram submetidos. Em ambos os períodos observados, os parâmetros comportamentais registrados apresentaram valores aproximados, e a principal atividade foi o pastejo totalizando em média 6,62 h/dia. No período chuvoso, quando os animais estão consumindo alimento (CA), as principais variáveis climáticas que influenciam para a diminuição ou interrupção do pastejo são a velocidade do vento e a precipitação pluviométrica (Tabela 2). Por interferência da Vv (m/s), os ovinos diminuem ou param de consumir alimento, e registra-se o ócio em pé. Segundo Nããs (1989), quando essa se encontra com valores fora da zona de conforto térmico, pode influenciar negativamente a produção animal, o que corrobora com os nossos resultados. Além disso, quando há influência da PP (mm), observa-se também a diminuição ou a interrupção do pastejo para realizarem outra atividade, a ruminação. Dessa forma, o regime pluviométrico não só influencia na termorregulação e disponibilidade de alimentos, mas também no comportamento dos animais (PEREIRA, 2005). Por outro lado, no período seco, as variáveis climáticas que mais influenciam, principalmente no pastejo, são a temperatura e a umidade relativa do ar. Com um aumento da T (ºC), os animais interrompem o pastejo e ficam ou em ócio em pé ou em ócio deitado, entretanto, por influência da UR (%), há uma diminuição em ambos os ócios e registra-se o pastejo. De acordo com Figueiredo et al. (2013), quando as condições ambientais não são favoráveis, os ruminantes adaptam-se às diversas condições de ambiente modificando os seus parâmetros de comportamento ingestivo para alcançar determinado nível de consumo, compatível com as exigências nutricionais. Então, a temperatura do ar, dependendo do período do ano, pode atingir valores extremos e se tornarem aversivas, influenciando no pastejo desses animais (BROOM e FRASER, 2010).
Conclusões
As variáveis climáticas influenciaram na expressão do comportamento de ovinos da raça Santa Inês. Estudos mais aprofundados sobre as respostas fisiológicas e comportamentais dos animais criados em ambiente tropical úmido devem ser realizados.

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