Insetos polinizadores melhoram produtividade agrícola
O aumento da quantidade e da diversidade de insetos polinizadores como
as abelhas em áreas de plantio é uma estratégia barata e sustentável
para melhorar o rendimento de diversas culturas agrícolas em pequenas e
grandes propriedades. A constatação está no artigo "Resultados
mutuamente benéficos para diversidade de polinizadores e produtividade
agrícola em pequenas e grandes propriedades", publicado na revista
científica Science na última sexta-feira (22), e é fruto de um estudo internacional realizado com a coparticipação da Embrapa.
Os resultados publicados no artigo fazem parte do projeto "Conservação e Manejo de Polinizadores para uma Agricultura Sustentável, através da Abordagem Ecossistêmica",
executado com o apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente GEF/PNUMA, órgãos ligados à Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO) e coordenado no Brasil pelo Ministério
do Meio Ambiente.
O estudo da Science
analisou dados coletados em 33 culturas agrícolas que dependem em algum
grau de polinizadores em 344 áreas, pequenas e grandes propriedades na
África, Ásia e América Latina. No Brasil, foram incluídos dados
coletados sobre caju, canola, maçã, tomate, melão e algodão, sendo as
duas últimas culturas estudadas pela Embrapa Semiárido (PE) e Embrapa
Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), respectivamente.
Os resultados mostram que a intensificação ecológica, que no jargão
científico significa melhorar a produtividade das culturas por meio da
gestão da biodiversidade, pode ser uma saída para o aumento da produção
de alimentos, especialmente nos países mais pobres.
A análise dos dados mostrou que em áreas pequenas (menores do que dois
hectares), um aumento da densidade de polinizadores leva a um aumento
constante da produtividade. Já em grandes áreas (campos com mais de dois
hectares) os benefícios só foram detectados quando a diversidade de
espécies era elevada.
"A intensificação
ecológica tem sido proposta por ecólogos como uma saída para manter a
produção agrícola em áreas pequenas. O pequeno produtor, que não tem
recursos para comprar insumos, pode se beneficiar da própria
biodiversidade local para produzir alimentos", explica a pesquisadora
Carmen Pires, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. "Manter
polinizadores e outros insetos benéficos é utilizar um serviço que a
própria natureza oferece gratuitamente", complementa.
Os autores afirmam ainda que a polinização deve ser considerada um
insumo crítico na gestão das áreas agrícolas, e que a intensificação
ecológica cria cenários do tipo "ganha-ganha" entre a biodiversidade e o
rendimento das culturas, contribuindo dessa maneira para o
desenvolvimento de sistemas agrícolas mais sustentáveis.
Abelhas aumentam produtividade do algodão em 18%
A contribuição da Embrapa no estudo deteve-se nas culturas do
algodoeiro e meloeiro. Carmen Pires estudou a cultura do algodão e as
pesquisadoras Márcia Ribeiro e Lúcia Kill, da Embrapa Semiárido, se
debruçaram sobre a polinização do meloeiro. No caso do algodão, a
cientista trabalhou entre 2010 e 2012 em três biomas brasileiros onde
essa cultura tem grande expressão socioeconômica: o Cerrado, o sul da
Amazônia e a Caatinga.
Os estudos foram
feitos em pequenas e grandes propriedades, em áreas com e sem o uso de
mecanização e insumos agrícolas, e também em locais que adotam o sistema
agroecológico. Os resultados mostraram que há uma grande variedade de
abelhas visitando as flores do algodoeiro, cerca de 130 espécies, e que a
presença desses insetos está diretamente relacionada ao aumento de 18%
em média na produtividade dessa cultura.
"O
algodoeiro é uma planta que não depende da polinização promovida pelas
abelhas, mas ele se beneficia quando é visitado por esses insetos, com
aumento de produtividade", afirma a pesquisadora Carmen Pires.
Ao contrário do algodoeiro, no caso do melão, cabe às abelhas o papel
quase exclusivo de polinizar as flores que se transformam nos frutos.
Quando a presença delas e de outros polinizadores está em quantidade
adequada ao tamanho da área cultivada, o agricultor pode ter certeza de
uma boa produção.
Os estudos realizados pelas
pesquisadoras no Nordeste resultaram na indicação das melhores práticas
para a apicultura (sistema de criação de abelhas com ferrão); e a
meliponicultura (criação de abelhas sem ferrão), com a finalidade de
incrementar a produção do meloeiro.
As
informações colhidas pela Embrapa e instituições parceiras resultaram no
desenvolvimento de metodologias que demonstram de forma prática para os
agricultores que é possível implementar formas mais eficientes de
cultivo, baseadas em práticas de manejo que aumentem a diversidade de
polinizadores nas plantações.
Perda de polinizadores é problema mundial
Instituições de pesquisa de diversas partes do mundo já detectaram que
há uma perda sensível de polinizadores a nível mundial. Responsáveis
pela transferência de pólen das anteras (parte masculina das flores)
para o estigma (parte feminina das flores), permitindo que aconteça a
fecundação, diversos estudos afirmam que os principais polinizadores −
aves, morcegos, besouros, borboletas, mariposas e abelhas − atuam
diretamente na polinização de 75% das variedades de cultivos para
alimentação humana.
O estudo que deu origem ao artigo publicado na revista Science
se concentrou em países que sofrem com a ameaça da insegurança
alimentar: Brasil, África do Sul, Índia, Paquistão, Nepal, Gana e
Quênia. O ponto de partida se concentrou em análises anteriores segundo
as quais a polinização interfere na produção de mais de 70% dos
produtos vegetais.
"Vários trabalhos mostram
que a intensificação agrícola, que recorre ao uso de insumos químicos,
ao desmatamento de áreas de vegetação nativa e à remoção de margens ao
longo dos campos que possam servir de refúgio a fauna e flora, tem
levado ao declínio acentuado de polinizadores", contou a pesquisadora do
Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) e coautora
do artigo, Luísa Carvalheiro, em entrevista ao jornal Correio
Braziliense. "Isso representa uma séria ameaça para a produtividade
agrícola", conclui.
Os dados compartilhados
entre as instituições brasileiras participantes da pesquisa − UnB,
Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal do Ceará, Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Universidade Federal de
Sergipe, Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Universidade Estadual do
Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Instituto do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos da Bahia, Universidade de São Paulo, Fepagro Vale do Taquari e
Embrapa − sobre os ganhos de produtividade relacionados à presença de
polinizadores devem resultar, no futuro, numa política pública nacional
sobre polinizadores.
Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
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