Dura mais de um ano a prova de leite a pasto para seleção dos melhores vacas
A
Prova Brasileira de Produção de Leite a Pasto do Zebu Leiteiro já vem
acontecendo desde 2015 e é realizada através do Centro de Tecnologias
para Raças Zebuínas Leiteiras da Embrapa Cerrados, no Distrito Federal. O
objetivo é melhorar a qualidade genética dos rebanhos leiteiros da
região do Brasil central e, assim, aumentar a produtividade dos animais,
que, apesar de similar à média nacional, 1.600 litros/vaca/ano, ainda é
baixa se comparada à dos estados do Sul, de 2.900 litros/vaca/ano, de
acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE).
A prova zootécnica, inédita em condições de Cerrado do Brasil
Central, foi desenvolvida em uma parceria entre Embrapa e Associação dos
Criadores de Zebu do Planalto (ACZP), representante em Brasília da
Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), com apoio da
Associação Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), do
Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB) e das Faculdades
Associadas de Uberaba (Fazu). A metodologia tem como objetivo
identificar e disponibilizar ao mercado matrizes melhoradoras de raças
zebuínas leiteiras como Gir Leiteiro e Sindi, ou seja, com maior
potencial genético para a produção de leite a pasto, nas condições do
Cerrado brasileiro.
De acordo com dados da Emater-DF, o Distrito Federal conta com 1.230
produtores de leite e, em 2016, produziu 29,9 milhões de litros, volume
ínfimo diante do demandado pelos consumidores brasilienses – 221,8
milhões de litros anuais, se for multiplicada a população – cerca de 3
milhões de habitantes – pelo consumo recomendado pela Organização
Mundial de Saúde, de 200 mL/dia. “Precisamos encontrar genética que se
adapte ao nosso sistema de produção a pasto. Não é comprar genética e
depois inventarmos um sistema que não temos condições de manter.
Coordenador da prova, o pesquisador da Embrapa Carlos Frederico
Martins explica que a metodologia tem como premissas a seleção genética
confiável, com no mínimo cinco meses de mensuração de leite; o sistema
de produção pecuária característico do Brasil, que tem o pasto como base
alimentar sustentável; e a produção do leite seguro e saudável, sem
qualquer aditivo.
Os animais participantes da prova são novilhas contemporâneas,
provenientes de criatórios do DF e de estados vizinhos. A prova tem
duração de 14 meses, sendo dois de adaptação, em que os animais são
alimentados com silagem de milho e concentrado, e 12 meses de lactação,
dos quais são considerados 305 dias de lactação, período em que as
novilhas se alimentam de pasto rotacionado de Brachiaria brizantha cv.
BRS Piatã, variedade recomendada para o Cerrado e integrante do
portfólio de cultivares da Embrapa, e suplementação proteica, como
ocorre nas fazendas da região. O leite produzido é pesado e avaliado em
um laboratório da Universidade Federal de Goiás (UFG). As ordenhas são
realizadas mecanicamente duas vezes ao dia, com a presença do bezerro ao
pé, sem indutores de lactação.
Durante o período de lactação, são mensurados parâmetros de
importância econômica em condições de pastagem no bioma Cerrado quanto à
produção de leite (com peso ponderado de 40% na avaliação), intervalo
do parto à concepção (15%), percentagem de gordura no leite (5%),
contagem de células somáticas (CCS) no leite (5%), percentagem de
proteína no leite (10%), persistência de lactação (10%) e conformação da
morfologia racial (15%). As mensurações são conduzidas em conjunto com
técnicos da ACZP e da ABCZ.
Os atributos medidos compõem o índice fenotípico que classifica os
animais na prova. Cada atributo é expresso considerando-se a média do
grupo avaliado com o valor de 100% – ou seja, os animais acima da média
recebem valores superiores a 100% e os abaixo da média, valores
inferiores a 100%. “Assim, o animal primeiro colocado não é o que produz
mais leite, mas é o mais equilibrado nesses fatores avaliados”, afirma
Martins. Outros fatores avaliados, mas que não compõem o índice
fenotípico, são os sólidos totais e a lactose presentes no leite.
Além das avaliações zootécnicas feitas por técnicos da Embrapa e da
ACZP, um laboratório externo faz a genotipagem das novilhas para a
beta-caseína A2, proteína do leite menos alergênica que a variante A1 –
segundo estudos médicos desenvolvidos na Nova Zelândia, na Austrália e
na China, em populações que consomem o leite A2 há menor incidência de
doenças cardiovasculares, diabetes do tipo 1 e alergias. “Oitenta por
cento dos zebuínos carregam essa característica, que agrega valor ao
zebuíno leiteiro”, explica o pesquisador. A variável também não faz
parte do índice fenotípico de classificação das novilhas.
O CTZL busca ainda formar um banco genético com as cinco melhores
fêmeas de cada raça classificada na prova. Caso haja interesse do
criador, após a prova, os animais são submetidos à aspiração folicular e
coleta de embriões. Os produtos (embriões) são compartilhados
igualmente entre o criador e a Embrapa, que assinam um contrato de
parceria pecuária de pesquisa.
Marcelo Toledo, superintendente técnico da ACZP, revela a satisfação
da entidade em realizar a prova com a Embrapa. “Foi uma felicidade muito
grande. Sempre tivemos desejo de desenvolver esse projeto junto com o
CTZL e deu tudo certo. Tudo foi feito para que o produtor se beneficie
com as informações geradas.”
As pesagens terminam em novembro deste ano e os resultados finais
devem ser divulgados em dezembro. A terceira edição já está com
inscrições abertas para as raças Gir Leiteiro, Sindi, Guzerá e
Guzolando.