terça-feira, 19 de abril de 2022

 

Programa leva orientações sobre sanidade e nutrição de caprinos e ovinos a produtores do Nordeste


Maíra Vergne - Coleta de amostra em propriedade rural no Cariri Paraibano

Coleta de amostra em propriedade rural no Cariri Paraibano

Criadores de caprinos e ovinos em três estados do Nordeste brasileiro já começam a contar com informações fornecidas por serviços da Embrapa, para orientações à sanidade e nutrição dos rebanhos. Por meio do programa AgroNordeste, os produtores rurais da bacia leiteira na divisa entre Paraíba e Pernambuco (que compreende Cariri Paraibano e Sertão de Pernambuco) já contam com boletins de orientação nutricional e de informações sobre as principais doenças manifestadas em seus rebanhos. Essas informações sobre sanidade também já chegam aos criadores da Bacia do Jacuípe (BA).

Os boletins técnicos sobre sete enfermidades mais frequentes (Clamidiose, Toxoplasmose, Micoplasmose, Artrite-Encefalite Caprina (CAE), Maedi-Visna, Brucelose Ovina e Paratuberculose) foram entregues a 117 propriedades rurais em 2021, com informações sobre manejo para prevenção das doenças, identificação dos sintomas, modos de transmissão, entre outros aspectos.

Cada uma das propriedades também recebeu um laudo específico sobre a situação sanitária de seu rebanho para cada uma das doenças analisadas. O objetivo é mapear as realidades locais, para favorecer prevenção e controle das enfermidades, numa estratégia de Inteligência Zoossanitária.

Segundo o pesquisador Selmo Alves, da área de Sanidade Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos (Sobral-CE), o levantamento para identificar as principais doenças foi baseado em exames sorológicos (cerca de 14 mil testes foram realizados pela equipe da Embrapa e parceiros), observando também os relatos mais frequentes de produtores e técnicos nos territórios. “Os relatos frequentes de abortos, má-formação e animais nascidos mortos nos levaram a dar atenção a doenças que impactam a etapa reprodutiva”, exemplificou ele.

Além de orientar produtores e técnicos, as informações sistematizadas pela Embrapa já começam a subsidiar ações para controle de doenças por parte de órgãos de defesa agropecuária em nível estadual e federal.

“Os resultados sobre micoplasmose obtidos na Paraíba, a partir do nosso levantamento, chamaram atenção da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, afirmou Rizaldo Pinheiro, também pesquisador de Sanidade Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos, que acrescentou que o Ministério deverá usar as informações para ações de controle da doença no Cariri Paraibano.

O médico veterinário Flávio Mergulhão, que atuou como técnico do AgroNordeste na região do Cariri Paraibano, disse que as informações levadas aos produtores, no seminário em que os resultados dos laudos e boletins foram apresentados, trouxeram impacto junto a criadores, técnicos e autoridades municipais convidadas. “Pudemos mostrar ao produtor a existência de doenças que eles não tinham noção da existência e que este problema poderia estar no seu rebanho. Eles ficaram muito agradecidos”, ressaltou ele.

Flávio ressaltou a preocupação com doenças que são zoonoses (se manifestam nos animais, mas também podem contaminar seres humanos), como uma alta incidência de toxoplasmose nos rebanhos examinados e afirmou que, com os dados apresentados pela Embrapa, alguns gestores municipais participantes do seminário realizado pela Embrapa na região já começaram a perceber necessidade de integração entre as equipes de Agricultura e de Saúde para combate a este tipo de doença.

Outro ponto positivo, para ele, foram as capacitações realizadas sobre manejo sanitário, que mostraram ao produtores e técnicos a possibilidade de não somente proteger os rebanhos, mas também evitar proliferação de zoonoses entre famílias no meio rural.

O trabalho de diagnóstico, análise, sistematização e apresentação das informações, coordenado pela equipe da Embrapa Caprinos e Ovinos, contou também com parceiros como as universidades Federal de Campina Grande (UFCG) e Federal da Bahia (UFBA), além de estudantes de pós-graduação que desempenham pesquisas na Embrapa.

Para a zootecnista Ana Milena Lima, que participou das atividades como bolsista de doutorado em Ciência Animal pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), as informações prestadas ao setor produtivo são úteis para a adoção de medidas preventivas e de controle nas propriedades rurais. “O produtor consegue identificar qual animal foi testado e os resultados dos testes. Nisso, já busca no boletim técnico informações sobre determinada doença. A informação já fica disponível ao produtor e de fácil acesso”, avalia ela.

 

Nutrição Animal

Os criadores do Cariri Paraibano também já recebem os boletins de orientação nutricional, elaborados a partir do AssessoNutri. O serviço utiliza a tecnologia de espectroscopia de infravermelho próximo (NIRS) para analisar amostras de fezes de animais e conseguir especificar a composição da dieta de rebanhos que muitas vezes são criados em condições extensivas, tendo as pastagens como a principal fonte de alimentação.

Com a tecnologia, é possível observar, com maior precisão, a necessidade de nutrientes para cada animal e direcionar, de forma mais eficiente, recomendações de suplementação ou outras mudanças na alimentação, otimizando custos.

Em março, a equipe da Embrapa, em parceria com a UFCG – campus de Sumé (PB), disponibilizou a versão mais recente dos boletins de orientação nutricional, baseados em amostras coletadas no início de março, em sete propriedades rurais integrantes do AgroNordeste, representando a disponibilidade de pastagem nesta época chuvosa no Cariri Paraibano. O laboratório para análise foi estruturado na Universidade com recursos do programa e os técnicos da instituição foram treinados pela equipe da Embrapa para análises diagnósticas e formulação de suplementos.

Marco Bomfim, pesquisador de Nutrição Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos, reforça que, no território do Cariri Paraibano, a suplementação alimentar se torna uma prática indispensável, em razão das limitações de clima da região. Por isso, produtores devem buscar orientação técnica que possa indicar o sistema de suplementação de menor custo possível para seus animais.

“Como a alimentação é o item de maior custo, é fundamental que os produtores façam a suplementação de forma estratégica, evitando desperdícios que podem trazer prejuízos à produção, em especial nesse momento de alta considerável no preço dos insumos”, destaca ele. 

O pesquisador destaca que um dos principais desafios para formulação de dietas é diagnosticar com precisão os nutrientes do pasto a que os animais têm acesso, uma vez que a suplementação alimentar complementa o que os animais consomem na pastagem.

“O AssessoNutri tem, em sua estrutura, um serviço de diagnóstico do que os animais estão consumindo naquele momento, que, associado a uma ferramenta de formulação de rações de baixo custo, permite orientação da suplementação de forma mais precisa e eficiente, reduzindo o custo da alimentação e, portanto, aumentando o lucro”, explica Bomfim.

De acordo com Marco, uma vez que as recomendações são feitas com base em análises de propriedades de referência na região, as formulações de rações sugeridas nos boletins podem alcançar a maioria dos produtores rurais naquele território, ajudando na redução de desperdícios, aumento de produtividade e lucro das propriedades.

 

AgroNordeste

O programa AgroNordeste é coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, e conta com participação da Embrapa, em parceria com o Projeto Dom Helder Câmara (PDHC) e financiamento do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA). O programa tem atividades em polos produtivos do Semiárido brasileiro, com objetivo de promover a inovação por meio da disseminação de conhecimentos e tecnologias voltadas para a realidade local. 

Em quatro territórios contemplados pelo programa, a Embrapa atua para adoção de soluções tecnológicas voltadas para as atividades da caprinocultura e ovinocultura. São eles: Sertão dos Inhamuns (CE), Cariri Paraibano (PB), Sertão de Pernambuco, Bacia do Jacuípe (BA) e Vale do Itaim (PI).

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