Governo impõe restrições de uso a novos defensivos
Controle de pragas
Dosagem, distância mínima e época de uso devem ser observadas, com o objetivo de proteger insetos polinizadores
Seis novos produtos formulados que tiveram os registros publicados dia (22) no Diário Oficial da União terão restrições de uso estabelecidas
pelo Ibama. Já registrado em 82 países, incluindo Estados Unidos e
países da Europa, o ingrediente ativo sulfoxaflor, que controla pragas
como pulgão, mosca-branca e psilídeo, só poderá ser usado nas lavouras
brasileiras se obedecer a várias restrições.
O uso do inseticida no Brasil
deverá seguir as orientações estabelecidas pelo Ibama para a mitigação
de risco para insetos polinizadores como, por exemplo, a restrição de
aplicação em períodos de floração das culturas, o estabelecimento de
dosagens máximas do produto e de distâncias mínimas de aplicação em
relação à bordadura para a proteção de abelhas não-apis. Essas
restrições constam na rotulagem dos produtos e são estabelecidas de
acordo com cada ingrediente e cultura.
O ingrediente ativo
sulfoxaflor teve o registro do produto técnico (de uso industrial)
concedido no fim de 2018 e o produto formulado estava em avaliação final
das autoridades ambientais. Depois de passar por consulta pública,o
produto foi aprovado
pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Segundo a Instrução Normativa (IN) n° 02/2017,
do Ibama, o registro de novos defensivos no país deve ser condicionado à
"apresentação de informações que permitam o uso adequado desses
produtos, sem efeitos que comprometam a sobrevivência, a reprodução e o
desenvolvimento das abelhas". Além da avaliação do risco para abelhas do
gênero apis, o Ibama foi a primeira autoridade regulatória de
pesticidas no mundo a realizar a avaliação de risco para abelhas
não-apis.
"Do ponto de vista da saúde
humana, o sulfoxaflor está entre os inseticidas 20% menos tóxicos hoje
aprovados. Há um possível impacto sobre insetos polinizadores, por isso a
importância da avaliação do Ibama. Foram apresentados estudos técnicos
sobre o impacto dos resíduos nas abelhas para determinar o que pode ou
não ser aprovado. O Ibama tem a liberdade técnica de aprovar ou não o
produto ou para estabelecer restrições de uso que garantam a segurança
para os insetos polinizadores”, explica o coordenador-geral de
Agrotóxicos e Afins da Secretaria de Defesa Agropecuária, Carlos
Venâncio.
Os produtos formulados
aprovados à base de sulfoxaflor apresentaram estudos laboratoriais de
toxicidade aguda e crônica para abelhas adultas e larvas, estudos de
resíduos em néctar e pólen em diversas culturas, além de um estudo
específico com o objetivo identificar a ação desta substância sobre
colônias de abelhas. Todos os estudos, realizados no Brasil e no
exterior foram conduzidos de acordo com as Boas Práticas Laboratoriais
(BPL) seguindo normas de qualidade, segurança e rastreabilidade
reconhecidas internacionalmente.
Na semana passada, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos
retirou restrições de uso do sulfoxaflor e aprovou novos usos para o
produto a longo prazo. No entanto, também é preciso seguir recomendações
de uso, como distâncias mínimas e épocas de aplicação. Segundo a EPA, o
sulfoxaflor é uma ferramenta importante para proteger as plantações e
evitar perdas econômicas potencialmente significativas.
Novo herbicida
Entre os produtos formulados
registrados hoje também está um herbicida à base do ingrediente ativo
florpirauxifen-benzil. O produto técnico foi aprovado em junho deste ano.
O produto formulado
à base deste novo herbicida poderá ser utilizado para o controle de
plantas daninhas na cultura do arroz. O ingrediente ativo ganhou o
prêmio de química verde em 2018.
“Com este novo herbicida, o
produtor rural terá agora uma nova alternativa altamente eficiente para
plantas daninhas de difícil controle e de menor toxicidade do que os
disponíveis hoje no mercado”, destacou Carlos Venâncio.
Genéricos
Estes sete produtos novos fazem parte de um conjunto de 51 defensivos que tiveram os registros publicados no Diário Oficial da União
desta segunda-feira (22). Desse total, 44 são produtos equivalentes,
ou seja, genéricos de princípios ativos já autorizados no país.
A aprovação de novos
moléculas tem como objetivo disponibilizar alternativas de controle mais
eficientes e com menor impacto ao meio ambiente e à saúde humana. Já a
aprovação de produtos genéricos é para promover a concorrência no
mercado de defensivos, o que faz cair o custo de produção.
Do total de registros, 18
referem-se a produtos técnicos de uso industrial e outros 33 produtos
são formulados, sendo quatro de origem microbiológica. Os produtos
técnicos são os ingredientes ativos para uso industrial, que são
destinados à fabricação dos defensivos e os produtos formulados são
aqueles que já podem ser adquiridos pelos produtores rurais em lojas
especializadas, mediante a emissão do receituário agronômica, para
controle de pragas na agricultura brasileira.
Processo de registro
Para serem registrados, os
pesticidas devem ser avaliados e aprovados pelo Ministério da
Agricultura quanto à eficiência agronômica, pela Anvisa quanto ao
impacto para a saúde humana e pelo Ibama quanto aos impactos ao meio
ambiente.
Atualmente, são mais de 2 mil
produtos na fila para serem avaliados e o prazo legal para a liberação é
de quatro meses. Há produtos que estão na fila há mais de oito anos.
Com a publicação do ato nº 48,
do Departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas da Secretaria
de Defesa Agropecuária, chega a 262 o número de produtos autorizados
desde o início do ano. O aumento da velocidade dos registros se deve a
ganhos de eficiência possibilitados por medidas desburocratizantes
implementadas nos três órgãos nos últimos anos, em especial na Anvisa,
que modernizou seu processo a partir de 2015.
“Há uma avaliação
criteriosa do registro de agrotóxicos no Brasil, que é feita com muita
seriedade pelos órgãos envolvidos no registro”, explica o secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, José Guilherme Leal. Segundo
ele, nos próximos meses o Ministério vai atuar mais fortemente na
fiscalização do uso dos produtos, apoiando os órgãos estaduais.
O objetivo de fazer a fila andar
no Brasil é justamente para aprovar novas moléculas, menos tóxicas e
ambientalmente corretas, e assim substituir os produtos mais antigos.
Atualmente, são cerca de 2 mil produtos na fila para serem avaliados e o
prazo legal para a liberação é de quatro meses. Há produtos que estão
na fila há mais de oito anos.“A partir do momento que você melhora a análise, é natural que você tenha um número maior de concessões. Esse é um processo que começou em 2015, desburocratizando, mas preservando o rigor técnico necessário para soltar um novo registro à disposição do agricultor”, diz o secretário.
O fato de haver mais marcas disponíveis no mercado não significa que vai aumentar o uso de defensivos no campo. O que determina o consumo é a existência ou não de pragas, doenças e plantas daninhas. Os agricultores querem usar cada vez menos em suas plantações, pois os defensivos são caros e representam 30% do custo de produção.
De 2016 para 2017, o
número de registros de defensivos passou de 277 para 405, segundo dados
do Ministério da Agricultura. No mesmo período, o valor total das vendas
de ingredientes ativos no país caiu de 541.861,09 toneladas para
539.944,95 toneladas, de acordo com o Boletim Anual de Produção,
Importação, Exportação e Vendas de Agrotóxicos no Brasil, elaborado pelo
Ibama.
O Brasil aparece em 44º posição em um ranking da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) sobre uso de defensivos agrícolas.
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