quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Você Sabe o que é Cabra Digital Influencer? Vale a pena ler a matéria.

A cabra Cremosa em uma de suas viagens com a família (Foto: Arquivo Pessoal)
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A família Apolinário estava viajando pelo interior da Paraíba no dia 17 de setembro de 2016, por uma estrada de terra. A 25 quilômetros de Caraúbas, já chegando no Rio Grande do Norte, a família pernambucana ouviu um choro. Acharam que se tratava de um urubu, mas resolveram estacionar e checar de onde vinha. Foi desse jeito que o mecânico de tratores Hélio Apolinário, a artesã Lucilene e as filhas Heleine,19, e Julieth, 15, encontraram um bebê cabra abandonada, à beira da morte.
“Mãe, ela tá toda cremosa, vai morrer”, disse Heleine, a primogênita, desesperada, sem saber que assim já estava nomeando seu mais novo bichinho de estimação. A origem do nome foi associada à condição que estava o animal no momento do encontro. A cabra estava fraca, mole, por isso “Cremosa”. Os Apolinários colocaram a cabra no carro e a levaram até um lugar com melhor infraestrutura. Encontraram uma mulher que com um recém-nascido. Ela emprestou uma mamadeira à família Apolinário e alimentaram a cabra com leite de vaca.


Segundo veterinários da Universidade Federal Rural de Pernambuco, para onde a nova membro da família foi levada, a mãe da cabra deve ter abandonado a cria. Isso normalmente acontece com mães muito novas. Elas não sabem o que fazer com a cria e por isso as deixam. A falta do leite materno e o fato de ter tomado primeiro leite que não fosse de cabra causou alguns danos ao animal - como uma infecção na pata que atrapalhou o crescimento. Mas, com muita ajuda da UFRP, a Cremosa sobreviveu e fez até mesmo amizade com os outros animais que viviam por lá, como outras cabrinhas e ovelhas.
A cabra Cremosa dormindo em sua casa (Foto: Arquivo Pesosal)
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Problema de saúde resolvido, era chegada a hora de encontrar um lugar para Cremosa morar. Ela foi para o sítio de um tio das tutoras, mas não conseguiu se acostumar longe da família - e nem eles. Segundo Lucilene, quando foram visitar a cabrinha um dia, Julieth, na época com 13 anos, percebeu que o animal estava triste e decidiu que só sairia de lá com a Cremosa ao seu lado.
E assim foi: a cabra foi morar no apartamento dos Apolinários, em Recife. Desde então, ela é tratada como um animal de estimação. Talvez ela seja ainda mais mimada que um pet normal: além das vacinas em dia, até hoje Hélio compra leite de cabra para ela. Em contrapartida, ela é extremamente obediente, faz até mesmo xixi no dentro do box do chuveiro, que depois é devidamente lavado com água sanitária, dizem os donos. A vizinhança já está mais do que acostumada com ela, que quer brincar com os cachorros.
Cremosa é temperamental, segundo a família Apolinário, pois fica nervosa quando alguém sai por muito tempo de casa, só assim para ela fazer “os barulhos normais de uma cabra”. Lucilene conta que sua casa nunca mais foi a mesma: “Ela comeu todo o meu sofá e não dá para deixar nada que ela come, principalmente quando está brava”. Até dinheiro a cabrinha já comeu. “E quando eu brigo com ela, ela me olha com cara de quem não fez nada, fico com dó”, conta Lucilene, que classifica sua relação com Cremosa de “amor e ódio”.

Viagens, depressão e terapia

A família viaja muito e na maior parte das vezes Cremosa vai junto. Ela tem o GTA (Guia de Trânsito Animal), uma espécie de autorização para se viajar com animais. A cabrinha já passou por diversas cidades e estados do Norte e Nordeste. Quando precisar fazer suas necessidade fisiológicas, faz como um bebê: barulhos específicos que avisam que é melhor parar. Mas passar mal, não passa; segundo Lucilene, ela adora passear de carro.
Os hotéis que aceitam cachorros e gatos costumam aceitar também a hospedagem de Cremosa. Algumas vezes ela até mesmo vira atração. Foi apenas um local, em Belém do Pará, que não quis recebê-la. Como família unida permanece unida, ninguém a deixou para trás.
Festa de aniversário da cabra Cremosa (Foto: Arquivo Pessoal)
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Houve apenas um episódio no qual a cabra ficou em Recife enquanto os Apolinários viajaram para o Sertão da Bahia. Para o conforto do animal, acharam melhor deixá-la com uma cuidadora. Porém, quando voltaram, a cabrinha não comia mais, não ruminava ou fazia seus barulhos habituais. Com medo de que algo estivesse errado, encaminharam o animal à UFRP, onde foi diagnosticada com depressão.
Os veterinários indicaram então sessões de acupuntura e pronto: Cremosa voltou a ser a cabra de sempre. “Agora não viajamos mais todos juntos, sempre tem que ficar alguém com ela, mas mesmo assim ela não gosta, parece que quer a família inteira junta”, conta Lucilene. Uma da vezes, Julieth ficou cuidando do animal quando os pais viajaram, mas reparou que a cabra não ruminava mais. Foi então que uma ideia surgiu: videochamadas. “A Julieth me ligou pelo celular e começamos a conversar com a Cremosa, que parecia responder. Logo depois disso, ela voltou a ruminar e ficar bem.”

Digital influencer

Ao contar todas as aventuras de sua cabrinha para os colegas, Julieth era desacreditada pelos amigos. “Eles não acreditavam que levamos a Cremosa para as viagens, então eles sugeriram fazer um Instagram para publicar as fotos dela”, e foi assim que nasceu o @cremoapolinario, onde a família publica a rotina e peripécias do animal, que aparece de moletom, em viagens, com amigos e sua festa de aniversário. Quando completou um ano, Julieth reuniu os amigos e comemorou o aniversário da Cremosa em grande estilo, com direito a bolo e parabéns.
Festa de aniversário da cabra Cremosa (Foto: Arquivo Pessoal)
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Em 2017, Cremosa foi abençoada em uma missa feita a São Francisco de Assis, protetor dos animais. Mas, além da proteção divina, todos da família a defendem. “Um senhor ofereceu dinheiro por ela. Óbvio que não aceitamos. Outra vez, queria matá-la para fazer guisado. Eu disse: ‘Você mataria sua filha?`”. E assim, como filha, Cremosa vive muito bem, acompanhada de sua família.

Cremosa sendo abençoada pelo padre na missa de São Francisco de Assis (Foto: Arquivo Pessoal)

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