Esta cabra quer ser digital influencer
Animal foi encontrado à beira da morte em rodovia da Paraíba e hoje tem festa de aniversário, viaja e faz até acupuntura
“Mãe, ela tá toda cremosa, vai morrer”, disse Heleine, a primogênita, desesperada, sem saber que assim já estava nomeando seu mais novo bichinho de estimação. A origem do nome foi associada à condição que estava o animal no momento do encontro. A cabra estava fraca, mole, por isso “Cremosa”. Os Apolinários colocaram a cabra no carro e a levaram até um lugar com melhor infraestrutura. Encontraram uma mulher que com um recém-nascido. Ela emprestou uma mamadeira à família Apolinário e alimentaram a cabra com leite de vaca.
E assim foi: a cabra foi morar no apartamento dos Apolinários, em Recife. Desde então, ela é tratada como um animal de estimação. Talvez ela seja ainda mais mimada que um pet normal: além das vacinas em dia, até hoje Hélio compra leite de cabra para ela. Em contrapartida, ela é extremamente obediente, faz até mesmo xixi no dentro do box do chuveiro, que depois é devidamente lavado com água sanitária, dizem os donos. A vizinhança já está mais do que acostumada com ela, que quer brincar com os cachorros.
Cremosa é temperamental, segundo a família Apolinário, pois fica nervosa quando alguém sai por muito tempo de casa, só assim para ela fazer “os barulhos normais de uma cabra”. Lucilene conta que sua casa nunca mais foi a mesma: “Ela comeu todo o meu sofá e não dá para deixar nada que ela come, principalmente quando está brava”. Até dinheiro a cabrinha já comeu. “E quando eu brigo com ela, ela me olha com cara de quem não fez nada, fico com dó”, conta Lucilene, que classifica sua relação com Cremosa de “amor e ódio”.
Viagens, depressão e terapia
A família viaja muito e na maior parte das vezes Cremosa vai junto. Ela tem o GTA (Guia de Trânsito Animal), uma espécie de autorização para se viajar com animais. A cabrinha já passou por diversas cidades e estados do Norte e Nordeste. Quando precisar fazer suas necessidade fisiológicas, faz como um bebê: barulhos específicos que avisam que é melhor parar. Mas passar mal, não passa; segundo Lucilene, ela adora passear de carro.Os hotéis que aceitam cachorros e gatos costumam aceitar também a hospedagem de Cremosa. Algumas vezes ela até mesmo vira atração. Foi apenas um local, em Belém do Pará, que não quis recebê-la. Como família unida permanece unida, ninguém a deixou para trás.
Houve apenas um episódio no qual a cabra ficou em Recife enquanto os Apolinários viajaram para o Sertão da Bahia. Para o conforto do animal, acharam melhor deixá-la com uma cuidadora. Porém, quando voltaram, a cabrinha não comia mais, não ruminava ou fazia seus barulhos habituais. Com medo de que algo estivesse errado, encaminharam o animal à UFRP, onde foi diagnosticada com depressão.
Os veterinários indicaram então sessões de acupuntura e pronto: Cremosa voltou a ser a cabra de sempre. “Agora não viajamos mais todos juntos, sempre tem que ficar alguém com ela, mas mesmo assim ela não gosta, parece que quer a família inteira junta”, conta Lucilene. Uma da vezes, Julieth ficou cuidando do animal quando os pais viajaram, mas reparou que a cabra não ruminava mais. Foi então que uma ideia surgiu: videochamadas. “A Julieth me ligou pelo celular e começamos a conversar com a Cremosa, que parecia responder. Logo depois disso, ela voltou a ruminar e ficar bem.”
Digital influencer
Ao contar todas as aventuras de sua cabrinha para os colegas, Julieth era desacreditada pelos amigos. “Eles não acreditavam que levamos a Cremosa para as viagens, então eles sugeriram fazer um Instagram para publicar as fotos dela”, e foi assim que nasceu o @cremoapolinario, onde a família publica a rotina e peripécias do animal, que aparece de moletom, em viagens, com amigos e sua festa de aniversário. Quando completou um ano, Julieth reuniu os amigos e comemorou o aniversário da Cremosa em grande estilo, com direito a bolo e parabéns.Em 2017, Cremosa foi abençoada em uma missa feita a São Francisco de Assis, protetor dos animais. Mas, além da proteção divina, todos da família a defendem. “Um senhor ofereceu dinheiro por ela. Óbvio que não aceitamos. Outra vez, queria matá-la para fazer guisado. Eu disse: ‘Você mataria sua filha?`”. E assim, como filha, Cremosa vive muito bem, acompanhada de sua família.
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