Enxofre é indicado para controle do oídio do cajueiro
O oídio do cajueiro, doença que na última década vem devastando pomares
em todo o País, pode ser controlado com a aplicação de enxofre – um
produto inócuo à saúde humana e ao meio ambiente e apropriado para
cultivos orgânicos. Cientistas da Embrapa Agroindústria Tropical (CE)
observaram que o enxofre é capaz de controlar a doença, reduzindo a
incidência a menos de 10% nos pomares acometidos.
Muito agressivo, o oídio ataca os tecidos jovens da planta, as
inflorescências, pedúnculos e castanhas. Provoca o abortamento das
flores e deformações, rachaduras e varíolas nos pedúnculos e frutos. O
ataque provoca prejuízos tanto ao mercado de castanha quanto ao de caju
de mesa. Um sintoma comum é a variegação (presença de zonas com
alteração de cor) na maçã do caju. Esse dano é observado em quase todos
os clones comerciais acometidos e provoca redução do preço como fruta de
mesa, um importante nicho de mercado do agronegócio do caju.
O pesquisador Emilson Cardoso explica que além do enxofre elementar,
que pode ser polvilhado nos pomares, os produtores têm à disposição um
produto industrializado à base de enxofre com registro no Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A recomendação é para que
os produtores façam três aplicações semanais com o produto logo na
primeira florada dos cajueiros.
Emilson
Cardoso acrescenta que o enxofre elementar é um produto natural e
acessível, mas que apresenta a desvantagem de necessitar de um
equipamento específico para polvilhamento. Por este motivo, os
produtores obtiveram em 2015, a partir de recomendação da Embrapa, o
registro no Mapa de produto à base de enxofre. O defensivo agrícola
liberado é solúvel em água e pode ser aplicado com equipamentos de
pulverização facilmente encontrados nas propriedades, o que facilita o
controle.
O Pseudoidium anacardii,
fungo que provoca a doença, apresenta disseminação explosiva, germinando
em poucas horas. O patógeno pode ser facilmente disseminado por vento
ou insetos. "Não depende muito de chuva para germinar, bastam poucas
horas de orvalho, o que é comum mesmo nos sertões. Uma vez germinado,
penetra facilmente nos tecidos jovens", detalha Cardoso.
O pesquisador considera fundamental o controle pela magnitude da
epidemia da doença. Apesar de a Embrapa não ter, ainda, dados sobre os
prejuízos provocados pelo oídio do cajueiro, os pesquisadores acreditam
que esta seja, atualmente, uma das principais causas da queda de
produtividade, associada a outros fatores como a predominância de
pomares velhos, a seca e a falta de tratos culturais em muitas regiões.
"O oídio é uma ameaça à sobrevivência da cultura do caju, por isso o
controle e o trabalho de pesquisa são muito relevantes", declara o
especialista.
A Embrapa tem feito visitas
técnicas a várias cidades das regiões produtoras e observado excelentes
resultados no controle com enxofre. Apesar disso, continua sendo
constatado o avanço da epidemia. "Estivemos recentemente em Surubim,
Pernambuco, que fica longe das regiões produtoras, e constatamos um
ataque forte do fungo, o que muito nos preocupou", revela o
pesquisador.
Novos estudos
Nos últimos três anos, os pesquisadores avaliaram o comportamento dos
clones comerciais de cajueiro com relação à doença, identificando quais
os mais resistentes e tolerantes. Os resultados da pesquisa estão em
finalização e devem ser publicados em breve. Os pesquisadores estão
identificando também progênies com resistência para o desenvolvimento de
novos clones resistentes à doença.
Estão em
andamento, também, estudos com controle químico e alternativos, manejo,
avaliação de danos e avaliação genética. "Estamos com 70 amostras de
diferentes estados e diferentes plantas hospedeiras. Nossa meta é isolar
o DNA de todos, fazer a caracterização e identificar a filogenética da
população de oídio", explica Emilson Cardoso. Nesses estudos, estão
envolvidos diversos pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical, da
Embrapa Monitoramento por Satélite e alunos da Universidade Federal do
Ceará.
O caso africano
O Oidium anacardii foi
descrito pela primeira vez no Brasil, em 1898, por F. Noack no
Instituto Agronômico de Campinas. No Brasil, o oídio se manteve, até
recentemente, como uma doença de importância secundária, porque
apresentava ocorrência endêmica e os sintomas não eram tão graves,
atacando predominantemente os tecidos mais velhos da planta.
O oídio foi registrado pela primeira vez como importante problema
agrícola no fim dos anos de 1960, na costa leste da África. Durante a
primeira metade daquela década, países como Tanzânia, Moçambique, África
do Sul e Madagascar sustentavam a posição de maiores produtores
mundiais de amêndoa de castanha-de-caju. Até que a região começou a
enfrentar sérios problemas de produtividade. Entre os principais fatores
que contribuíram para isso estava o oídio do cajueiro.
A doença foi descrita como muito agressiva, com ataque muito intenso
aos tecidos jovens das plantas. Em oito anos, a produção da Tanzânia
caiu 90%, passando de 145 mil toneladas para 16 mil toneladas. Nesse
período, o governo daquele país contratou a consultoria do professor
britânico Clive Topper, que sugeriu renovar os pomares e implantar um
sistema de controle baseado no polvilhamento de enxofre em pó. Em 1978,
foi implantado um sistema compulsório de controle da doença, que começou
a surtir efeito, reduzindo a epidemia. "Eles conseguiram controlar, mas
foi de forma compulsória. Os produtores recebiam o enxofre e eram
obrigados a fazer a aplicação. Assim, o governo garantiu a efetiva
aplicação em todas as áreas", conta o pesquisador Emilson Cardoso.
No Brasil, o início de problema semelhante ao registrado na África
começou em 2004, quando produtores do Piauí procuraram a Embrapa,
reclamando de uma doença que provocava varizes nos pedúnculos, o que
estava comprometendo o mercado de caju de mesa. "Houve muitas suspeitas,
mas, analisando os esporos, observamos que eram semelhantes a
descrições feitas do oídio registrado na África", relembra o pesquisador
Emilson Cardoso.
A equipe da Embrapa
Agroindústria Tropical iniciou, então, uma série de ensaios para avaliar
a eficiência do tratamento com enxofre no Ceará e Piauí. "Quando
observamos a eficácia do tratamento, a Câmara Setorial da Cajucultura
entrou com pedido para a liberação de produto à base de enxofre no
Mapa", conclui.
Embrapa Agroindústria Tropical
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