domingo, 19 de novembro de 2023

 

Pesquisadores desenvolvem amora-preta para produção de geleias e sucos

  • Cultivar BRS Ticuna tem produtividade de até 20 toneladas por hectare.
  • Produtores que a testaram obtiveram produtividade entre 20% a 30% maior que as cultivares mais usadas.
  • Nova amoreira é adaptada aos estados da Região Sul do Brasil..
  • Pode ser produzida em sistema orgânico.
  • Alta acidez permite a produção de doces sem a adição de ácidos.

 

Desenvolvida com foco no processamento, a amoreira-preta BRS Ticuna chega ao mercado de frutas como opção para a produção de geleias e sucos. O tamanho do fruto é atrativo aos olhos, que aliado à acidez acentuada faz com que a cultivar ocupe um espaço para fins industriais. Um hectare pode render até 20 toneladas de frutas, o que a posiciona entre as cultivares mais produtivas e superior ao material de referência, a amoreira BRS Tupy.

A BRS Ticuna é uma cultivar de amoreira-preta (blackberry) obtida por hibridação controlada, altamente produtiva e testada nos mais variados ambientes e sistemas de cultivo. Foi testada principalmente nos estados da Região Sul do País, o que não significa que não tenha adaptação a outras regiões.

 

Lançamento

Essa novidade da pesquisa agropecuária será lançada oficialmente na semana de 6 a 10 de novembro de 2023, durante a programação do 28º Congresso Brasileiro de Fruticultura, que ocorre em Pelotas (RS).

 

Desde 2018, ela vem sendo avaliada pela pesquisa nos Campos de Cima da Serra, numa parceria entre a Estação Experimental de Vacaria (RS), a Embrapa Uva e Vinho e a Embrapa Clima Temperado, em Pelotas (RS). O material foi apresentado há um ano aos produtores, para que conhecessem a nova cultivar e tivessem acesso ao material com os parceiros já licenciados para produção de mudas.

Foto: Francisco Lima

De acordo com a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, coordenadora do projeto que desenvolveu a nova amoreira, a cultivar tem plantas de porte ereto, frutas grandes e colheita mais tardia que a cultivar Brazos. “A sua acidez mais elevada limita a aceitação para consumo in natura e a direciona para a indústria, a qual, logicamente, paga menos em comparação ao preço obtido no mercado de frutas frescas. Para compensar, é importante que a cultivar seja altamente produtiva”, pondera.

O fato de as frutas não serem comercializadas in natura com facilidade pode desestimular o produtor a plantá-la, segundo Raseira. Porém, ela acredita que, além da produtividade superior, a menor necessidade de tratamentos fitossanitários nessa cultura é capaz de compensar economicamente o fruticultor proporcionando melhor retorno.

A BRS Ticuna, como a maioria das cultivares de amora-preta, é bastante rústica, sendo necessário o controle de ferrugem e cuidados com a mosca-das-frutas (Drosophila suzukii). A cientista relata que a cultivar é considerada resistente a doenças.

O pesquisador Rodrigo Franzon, conta que a nova variedade tem características similares às de outra amoreira, a Brazos, bastante antiga e introduzida do estado norte-americano do Texas. “A BRS Ticuna é mais produtiva, produz frutas mais firmes e apresenta menor reversão de cor das frutas após a colheita”, compara o cientista.

O especialista revela que a maior contribuição desse material ao mercado industrial é a acidez elevada do fruto, desejável para o processamento. “Isso diminui a necessidade de corrigir a acidez por meio de aditivos”, detalha Franzon.

De acordo com um dos produtores que testaram a cultivar de amoreira, ela se destacou pela sua produtividade. “Ela produz entre 20% a 30% a mais que as outras variedades BRS Tupi, BRS Caiguangue e BRS Guarani e tantas outras que se tem a disposição”, relata o fruticultor Roque Casset.

 

Oportunidade para produção orgânica

Raseira aponta oportunidades para a cultivar, como o seu direcionamento para produção de doces, principalmente geleias e chimias, sem a necessidade de adição de ácidos. “Além disso, há a possibilidade de cultivo no sistema orgânico”, reforça, indicando que a cultivar é adequada a uma produção mais sustentável, por ser um alimento mais limpo e de maior qualidade.

A industrialização da amora é bastante utilizada devido ao baixo período de conservação da fruta, e mesmo produtores de frutas para o mercado in natura destinam parte da produção para a industrialização, em períodos de picos de safra.

O preço médio pago ao produtor varia em função da época de produção e da forma de comercialização. A indústria, dependendo da região do País, paga ao produtor entre R$ 4,50 e R$ 6 por quilo. Se a fruta for congelada esse valor varia entre R$ 8 e R$ 15; contudo, em áreas próximas a grandes centros consumidores, o valor pode chegar a até R$ 20 por quilo de amora produzido.

 

Amora-preta no Brasil e no mundo

Os dados referentes ao mercado de amora-preta no Brasil não são precisos. Em 2014, havia uma área plantada superior a 500 hectares (ha) e, atualmente, estima-se uma área superior a 1,2 mil ha e em expansão, de acordo com informações coletadas com os produtores do Sul e Sudeste.

A cultura está ocupando, por exemplo, áreas de altitude na Região Nordeste, como a Chapada Diamantina, na Bahia, região não tradicional de cultivo. Sua produção tem maior destaque no Rio Grande do Sul, onde também é tradicional a indústria de doces e conservas, exatamente o nicho da nova cultivar.

Não há dados atualizados sobre a produção de amora-preta no mundo. Os dados mais recentes são de 2007, segundo os quais a produção mundial de amora-preta, em 2005, ocupou 20 mil hectares, sendo 7,7 mil ha cultivados na Europa, 7,2 mil ha na América do Norte, 1,6 mil ha na América Central, 1,6 ha na América do Sul, 297 ha na Oceania e 100 ha na África.

A produção mundial, em 2005, foi de 140 mil toneladas (t), tendo como principais países produtores os Estados Unidos (31,8 mil t), o México (27 mil t), a China (26,35 t), a Sérvia (25 mil t) e a Hungria (12 mil t).

 

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