sábado, 18 de fevereiro de 2023

 

Protagonismo feminino supera contingências familiares em assentamentos


ES Etelvina

Viúva, a assentada Etelvina (ao centro) passou a gerir o lote com o apoio dos filhos Merolísia e Evandro. Foto: Acervo pessoal

Situações das mais diversas nas configurações familiares se refletem na força de trabalho em assentamentos da reforma agrária no Espírito Santo. As circunstâncias influenciam e ressignificam a dinâmica dos processos produtivos locais, sem as famílias perderem de vista o desejo de conquistar a sonhada independência socioeconômica.

São casos nos quais mulheres, com o apoio dos filhos, superaram a perda do cônjuge, demonstrando todo o esforço para alcançar seus objetivos diante da realidade social do meio rural. O protagonismo feminino e o estímulo ao empreendedorismo – derivado do incremento de políticas públicas específicas a esse público, como o Crédito Instalação na modalidade Fomento Mulher, executado pelo Incra – têm feito a diferença.

Nos últimos cinco anos, 307 famílias de 13 assentamentos capixabas tiveram acesso ao investimento, no valor de R$ 5 mil por unidade familiar, perfazendo recursos que ultrapassam R$ 1,5 milhão, além do acesso a outras modalidades.

Na área de reforma agrária Cachoeira das Garças, localizada no município de Mimoso do Sul (região Sul do estado), as irmãs Alana e Rosana moramA assentada Regina conta com o apoio da filha Rosana para tocar o lote da família desde a perda do marido. Foto: Incra/ES com a mãe, a agricultora Regina Gomes de Jesus. Criado pelo Incra em dezembro de 2011, o assentamento conta com 70 famílias distribuídas em uma área de mil hectares.

A filha mais velha, Alana, é enfermeira e contribui no orçamento familiar por trabalhar na cidade junto a prestadoras de serviços de atendimento médico móvel. Já a filha mais nova, Rosana, resolveu dedicar-se ao sítio da família desde a perda do pai delas. Além das tarefas de cultivo do lote, ela contribui com um trabalho esporádico dedicado à associação de seringueiros do assentamento, agregando à família uma renda média mensal de cerca de R$ 450. “Este lugar é especial porque nasci aqui (o pai era empregado da fazenda originária da área) e, dos meus 23 anos de vida, 11 deles passei no lote”, afirma a jovem.

A principal atividade produtiva é o plantio de milho, destinado tanto ao consumo familiar quanto à comercialização de excedentes e silagem para alimentar o gado. Entre janeiro e fevereiro de2023, a estimativa é obter, aproximadamente, R$ 3 mil com o produto. Além disso, são plantados feijão, acerola e banana para subsistência da família e venda do sobressalente.

A silagem atende a demanda de suplementação alimentar de duas vacas de leite e dois bezerros. A produção diária de leite (por volta de 12 litros) é dividida entre o consumo da família e o trato dos bezerros. Com o reforço da força de trabalho, a assentada Regina espera aumentar a produção de silagem nos próximos anos e elevar o plantel dos animais.

O acesso ao Crédito Instalação na modalidade Apoio Inicial, em 2015, e sua complementação, em 2017, referentes, respectivamente, a R$ 2,4 mil e a R$ 2,8 mil, possibilitaram a aquisição das primeiras ferramentas e materiais para início das atividades produtivas no lote da família. E o acesso a duas operações do Fomento, em 2018, perfazendo R$ 6,4 mil, propiciaram implementar o cultivo em maior escala e adquirir os primeiros gados.

Gestão no plantio de café

Criado em 2006, o assentamento São Felipe localiza-se no município de Guaçuí (região Sul capixaba) e abriga 18 famílias em uma área de 252,8 hectares. Uma das beneficiárias é Etelvina Ferreira Firme. A morte do marido, Sebastião, em fevereiro de 2020, trouxe outra perspectiva aos processos produtivos do sítio para sobrevivência da família: a participação mais intensa dos filhos Evandro e Merolísia na gestão dos negócios, até então conduzida pelo casal titular do lote.

Os primeiros 3 mil pés de café foram plantados em 2009, a partir de recursos próprios da família, seguidos de mil pés em 2011 e mais 3 mil em 2013. Entretanto, a participação efetiva dos filhos aumentou o resultado, gerando, em 2020, o cultivo de mais 8 mil pés do grão na propriedade (totalizando hoje 15 mil pés cultivados), a aquisição de um veículo seminovo em 2021 e uma boa produção de café no mesmo ano – cerca de 70 sacas do produto pilado (beneficiado), comercializado por R$ 56 mil.

O acréscimo de mudas elevou também a produção alcançada em 2022, estimada em 80 sacas do café beneficiado. Para 2023, é prevista alta na quantidade de sacas a serem obtidas na colheita. Há o cultivo, ainda, de feijão, milho, frutas e hortaliças para a subsistência e comercialização de excedentes.

Os recursos concedidos pelo Incra possibilitaram o implemento produtivo e a melhoria da qualidade de vida da família. Como o crédito Fomento, no valor de R$ 3,2 mil, acessado em 2009 e utilizado em investimentos na cultura do café, e o crédito Aquisição de Materiais de Construção, no valor de R$ 7 mil, disponibilizado em 2008 ao casal assentado, propiciando a edificação da casa da família.

Segundo a agricultora Etelvina, “o assentamento é um paraíso porque as famílias se dão bem e a vizinhança toda é formada por pessoas boas”. Sua filha Merolísia explica que o sítio foi batizado de Bela Vista pelos pais em homenagem ao relevo montanhoso da região. “Também pela vista maravilhosa oferecida, completada pela beleza da cachoeira Sabiá. Meu pai gostava muito do lugar pois aqui se sentia tranquilo”, lembrou a jovem.

Assessoria de Comunicação Social do Incra

Agricultura e Pecuária

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