segunda-feira, 14 de março de 2011

Artigos: Utilização de farelo de algodão na nutrição animal X gossipol





O custo com a alimentação do rebanho varia de acordo com os alimentos que compõem a dieta, por isso, a busca por alimentos alternativos de qualidade e menos onerosos é fundamental para a redução dos custos com alimentação. Entretanto, a redução dos custos não deve ser feita a “qualquer preço”, pois uma dieta que não atende as exigências de mantença e produção dos animais resultará em queda no desempenho animal e perdas econômicas.

A utilização de subprodutos de indústrias pode ser boa alternativa de alimentos menos onerosos. O uso de derivados do algodão na ração animal, como o farelo de algodão, é bastante difundido pela sua composição nutricional e por conter proteína de boa qualidade. O farelo de algodão é o terceiro farelo protéico mais produzido no mundo, perdendo apenas para o farelo de soja e de canola. Porém, a planta do algodão produz um pigmento tóxico, um aldeído polifenólico denominado gossipol. A semente do algodão pode conter quinze pigmentos diferentes do gossipol, sendo que no processamento das sementes, as glândulas se rompem e liberam o gossipol, assim, a concentração de gossipol nos derivados de algodão é em função do grau de extração do óleo e do método utilizado.

Outro processamento que contribui para diminuir o potencial de toxicidade do gossipol é a peletização, pois o calor úmido provoca modificação em suas propriedades. No entanto, este procedimento, abaixa significativamente o valor biológico das proteínas, principalmente a disponibilidade da lisina. Além disso, a peletização apenas reduz o potencial de toxicidade e não soluciona o problema por completo.

O gossipol é altamente tóxico para animais monogástricos e, apesar de ruminantes tolerarem níveis mais altos, esse composto também é tóxico para ruminantes. O gossipol não é metabolizado pelos microorganismos do rúmen e, por isso, é necessária atenção aos teores de gossipol nas dietas, principalmente, para animais com alta ingestão de matéria seca, como animais de alta produção.

Grande parte do gossipol é removido durante a manufatura da torta de sementes de algodão na fase de cozimento, no entanto, ainda assim podem ser encontradas as formas “livres” e “conjugadas” do gossipol. A forma “livre” é considerada tóxica, reduzindo a capacidade de transporte de oxigênio do sangue, resultando em respiração mais curta e edema pulmonar. Os sintomas de intoxicação são: anorexia, dispnéia, fraqueza, deficiência reprodutiva, edema cardíaco agudo, alterações nos glóbulos vermelhos e morte. O principal efeito tóxico do gossipol observado em ruminantes é a alteração dos glóbulos vermelhos.

O gossipol atua no metabolismo de aminoácidos, ligando-se às proteínas que contém aminoácidos livres. Além disso, o ferro forma complexos com o gossipol e estes complexos não são absorvidos pelo organismo. As ligações com proteínas, bem como os altos níveis de ferro na dieta podem inativar os pontos de ligação do gossipol, diminuindo sua toxicidade. Recomenda-se adicionar sulfato de ferro, óxido ou hidróxido de cálcio a dietas para ruminantes contendo subprodutos de algodão, no entanto, o uso de sulfato ferroso nas rações é pouco comum, pois onera o custo da produção.


Produtos derivados do algodão podem ser altamente tóxicos para animais monogástricos, mesmo quando tratados termicamente e utilizado juntamente com sais de ferro, portanto o nível de inclusão destes produtos nas dietas deve ser cuidadoso. O teor de gossipol, nos derivados de algodão, muda em função da variedade de algodão, do grau de extração do óleo e do método utilizado. Além disso, por ser um subproduto de indústrias possui variações não só no teor de gossipol, mas também na concentração dos nutrientes. Por isso, devem ser realizadas análises para determinação de gossipol livre no farelo de algodão, como ferramenta para calcular seu nível de inclusão na dieta.

Para suínos o nível máximo de gossipol livre no farelo de algodão sugerido por Ezequiel (2002) é de 400 ppm. Os valores de concentração do gossipol livre na dieta total que provocam toxicidade são de aproximadamente 100 ppm (Tanksley Jr., 1992). Com a adição de 12% de Farelo de algodão contendo 330 ppm de gossipol livre, a ração contém 40 ppm de gossipol livre, o que está bem abaixo dos 100 ppm indicados por esses autores. Assim, a inclusão de até 12% de farelo de algodão (36% de PB) em rações balanceadas para leitões (15 a 30 kg) não prejudica o desempenho desses animais, sendo desnecessária a inclusão de sulfato de ferro (Moreira et al., 2006).

O farelo de algodão pode ser usado nas rações de crescimento de frango de corte, se o gossipol livre não exceder a 0,03%, pois abaixo deste nível o ferro, na proporção 2:1 ferro:gossipol livre, pode completamente superar o efeito antinutricional. Segundo Butolo (2002) a formulação das rações para aves de postura deve conter níveis de gossipol abaixo de 0,015%, considerado como limite.

Para bezerros e cordeiros com menos de quatro meses de idade não é recomendado o fornecimento superior a 100ppm de gossipol livre. Quanto mais velho o animal, mais gossipol é capaz de tolerar, no entanto, 400-600 ppm é toxico para jovens ruminantes. Bezerros acima de quatro meses de idade toleram até 200 mg/kg (Morgan, 1989). Bovinos adultos podem tolerar quantidades muito maiores de gossipol livre, mas a toxicidade tem sido relatada com níveis de 800 ppm alimentado por um longo período de tempo (Morgan, 1989). O efeito tóxico do gossipol nos ruminantes parece ser cumulativo.

O gossipol tem efeito anticoncepcional em animais reprodutores e, por isso, alguns pesquisadores recomendam a não utilização de derivados de algodão em dietas de reprodutores machos. Dietas com até 30 mg de gossipol por quilo de peso vivo não causam efeito tóxico sobre a quantidade e qualidade do sêmen. Em fêmeas o consumo de mais de 36,0 mg de gossipol livre/kg de peso vivo resulta em redução na qualidade e desenvolvimento embrionário in vivo e in vitro. De fato, a ingestão de quantidades excessivas de gossipol aumenta a sua concentração plasmática e não só reduz a taxa de concepção em vacas de leite, mas também aumenta a perda de prenhez após os 45 dias de gestação (Santos et al., 2003). Além disso, embriões provenientes de novilhas alimentadas com gossipol reduzem a taxa de prenhez quando transferidos para vacas em lactação (Galvão et al., 2006).

Outro fator antinutricional presente no algodão são os ácidos graxos ciclopenóides encontrados no óleo contido na semente. Estes ácidos provocam a deposição de ácido esteárico e ácido palmítico na gordura do ovo e na carne de aves. Estes ácidos também são conhecidos por ser carcinogênico como a aflatoxina.

A utilização de derivados do algodão, como o farelo de algodão, em dietas de animais monogástricos ou ruminantes é uma boa alternativa para redução dos custos com alimentação, pois pode ser utilizado como fonte protéica e substituição do farelo de soja. Porém, o cuidado com seu nível de inclusão na dieta é imprescindível para obtenção de bons resultados de desempenho animal e produção.


Literatura consultada

BUTOLO, J.E. Qualidade de ingredientes na alimentação animal. Ed. FACTA, Campinas, SP. 430p., 2002.

EZEQUIEL, J.M.B. Farelo de algodão como fonte alternativa de proteína alternativa de origem animal In: SIMPÓSIO SOBRE INGREDIENTES NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL., 2., Uberlândia. Anais... Uberlândia: Colégio Brasileiro de Nutrição Animal, p.137-162, 2002.

GALVÃO, K.N., J.E.P. SANTOS, A.C. COSCIONI, S.O. JUCHEM, R.C. CHEBEL, W.M. SISCHO, AND M. VIALLASEÑOR. Embryo survival from gossypol-fed heifers after transfer to lactating cows treated with human chorionic gonadotropin. J. Dairy Sci. 89: 2056-2064, 2006.

MOREIRA, I.; SARTORI, I. M.; PAIANO, D.; MARTINS, R. M.; OLIVEIRA, G. C. Utilização do farelo de algodão, com ou sem a adição de ferro, na alimentação de leitões na fase inicial (15-30 kg). R. Bras. Zootec., v.35, n.3, p.1077-1084, 2006.

MORGAN, SANDRA. Gossypol Toxicity in Livestock. VTMD-9116 Oklahoma Cooperative Extension Fact Sheets are also available on our website at: http://osufacts.okstate.edu

TANKSLEY JR., T.D. Cottonseed meal. In: THACKER, P.A.; KIRKWOOD, R.N. (Eds.) Nontraditional feed sources for use in swine production. Washington, D.C.,p.139- 151, 1992.

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