Pesquisa desenvolve forrageira para a Região Sul que fixa nitrogênio no solo
Forrageira melhora a qualidade do solo e economiza adubação nitrogenada
Uma
das leguminosas forrageiras mais cultivadas do mundo, o trevo-vermelho
tem agora uma nova cultivar selecionada e melhorada, com boa adaptação
às condições de clima e solo da região Sul do Brasil. Trata-se da URS
BRS Mesclador, desenvolvida pela
Embrapa e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (
UFRGS),
no âmbito do convênio com a Associação Sul-brasileira para o Fomento de
Pesquisa em Forrageiras (Sulpasto) e que vai ser lançada oficialmente
na 21ª edição da Expodireto Cotrijal, no município gaúcho de
Não-Me-Toque, no início de março.
A cultivar recém-desenvolvida é
recomendada para formação de pastagens cultivadas consorciadas e para
sobressemeadura em pastagens naturais na região Sul do Brasil,
apresentando um bom estabelecimento e competitividade inicial de
plantas. De modo geral, o trevo-vermelho (
Trifolium pratense L.),
quando consorciado com gramíneas (azevém, aveia, etc) ou sobressemeado
em campos naturais, incrementa a qualidade dessas pastagens por possuir
elevado valor nutritivo (boa digestibilidade e elevados teores de
proteína).
Além disso, por ser uma leguminosa, através da simbiose com bactérias do gênero
Rhizobium,
fixa nitrogênio atmosférico, reduzindo a necessidade de adubações
nitrogenadas com o passar do tempo. Essa característica pode ser
potencializada por meio de consórcios com as gramíneas forrageiras de
inverno mais comumente usadas no sul do Brasil.
“Essas gramíneas
também têm uma boa qualidade, porém, como em grande maioria são espécies
anuais, apresentam uma oscilação dessa qualidade e produtividade ao
longo do seu ciclo, que podem ser compensadas pela produção do
trevo-vermelho, que é uma espécie perene de vida curta,” explica o
pesquisador de forrageiras da área de forrageiras da
Embrapa Pecuária Sul,
Daniel Montardo.
Por isso, ele acredita que o uso da cultivar URS BRS Mesclador em
consórcio com essas gramíneas de inverno é capaz de promover maior
produção total e maior qualidade de forragem. Ele relata que o novo
material possibilita melhor distribuição da produção e da qualidade ao
longo do tempo. “Sem contar os menores custos de adubação nitrogenada da
pastagem. Além de economia, essas características contribuem para
melhoria da qualidade do solo”, destaca Montardo que também é
chefe-geral daquela Unidade de pesquisa.
A cultivar URS BRS
Mesclador foi selecionada para produção de forragem e persistência,
sendo recomendada para áreas bem drenadas de média a alta fertilidade do
solo.
Parceria de resultado
Primeira
cultivar de trevo-vermelho lançada pelo trabalho cooperativo entre
Embrapa, UFRGS e Sulpasto, a URS BRS Mesclador reforça a parceria entre
as instituições, que vem gerando bons frutos nos últimos anos, como, por
exemplo, as cultivares de aveia BRS Centauro; de aveia BRS Madrugada; de milheto BRS 1503; de Azevém BRS Integração; e de aveia-branca URS F Flete.
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Desenvolvida no Brasil para as condições nacionais
O
trevo-vermelho é uma das leguminosas forrageiras mais cultivadas no
mundo. Seu cultivo foi introduzido no Rio Grande do Sul por meio dos
imigrantes europeus, na região da Serra e Planalto do estado, e mostrou
boa aptidão para uso como forragem.
Porém, ainda são poucas as
cultivares de trevo-vermelho registradas para uso no Brasil. “Hoje não
existe nenhum material nosso desenvolvido para as nossas condições, é
lógico que quando se traz um material de fora ele tem alguma adaptação,
mas essa nova cultivar é produto nosso, mais adaptado às nossas
condições e vai gerar recursos que vão ficar no Brasil. Um material que é
produzido na Argentina ou no Uruguai, por exemplo, gera renda lá,
porque a semente é produzida lá”, destaca o professor da UFRGS, Miguel
Dall’Agnol.
O trevo-vermelho é uma espécie bienal ou perene de
curta duração. No entanto, a espécie, em geral, sofre com as altas
temperaturas do verão na maior parte das regiões do Sul do Brasil. “A
cultivar URS BRS Mesclador é oriunda de plantas selecionadas para
produção de forragem e persistência desde 1995, com bom nível de
persistência nas regiões com verões mais amenos no Sul do Brasil, desde
que bem manejadas e com bom nível de fertilidade. Nas demais regiões,
também apresenta boa contribuição na produção de forragem em pastagens
consorciadas até o fim da primavera, quando pode ser diferida para se
permitir uma ressemeadura natural e, dessa forma, uma longevidade maior
na área”, destacou Montardo.
“Esses materiais foram selecionados
com o foco principal na persistência, e em segundo lugar pela produção
de forragem. Por isso, ele produz bastante forragem e também persiste,
sem esquecer que também gera semente, porque os materiais que não as
geram não têm apelo comercial para os produtores de semente.
Basicamente, a cultivar tem essas três características: persistência,
produção de forragem e de semente”, completa Dall’Agnol.
O trevo-vermelho
O trevo-vermelho (
Trifolium pratense L.)
é originário do sudeste da Europa e Ásia Menor. Atualmente encontra-se
distribuído pela maior parte das regiões de clima temperado do mundo: em
praticamente toda a Europa; na maior parte da América do Norte; do sul
da América do Sul até o norte do Chile e Argentina e regiões elevadas no
Peru; na Nova Zelândia e Austrália; no norte da China e no Japão.
Na
América do Norte, a espécie apresenta grande importância econômica, se
destacando em cultivos isolados ou consorciados com gramíneas para a
produção de feno no nordeste dos Estados Unidos. Além de estar presente
em grandes áreas de pastagens e de produzir feno em grande quantidade,
também apresenta grande importância econômica devido à produção de
sementes, especialmente na região noroeste dos Estados Unidos.
O
trevo-vermelho foi introduzida no Brasil pelos imigrantes italianos no
Rio Grande do Sul, onde diversos trabalhos científicos ao longo do tempo
consideraram a espécie como boa produtora de forragem em praticamente
todas as regiões, com destaque para aquelas que apresentam verões com
temperaturas mais amenas e boa quantidade e distribuição de chuvas.