sábado, 21 de setembro de 2013

ARTIGO

O desperdício e a fome no mundo

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) em uma reunião, em Roma, em que estive presente, saiu em defesa de erradicar a fome no mundo. Era o ano de 1996 e havia 1 bilhão de pessoas famintas ao redor da Terra. A meta era reduzir em 5% ao ano esse universo, com o aumento da produtividade agrícola e a redução da miséria. Nesses 17 anos, as tecnologias das ciências agrícolas evoluíram. Com a criação de alternativas para o desenvolvimento da agricultura, a produtividade “explodiu”. No entanto, as metas não foram alcançadas, pois cerca de um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido durante os processos de produção e venda, um desperdício equivalente a US$ 1 trilhão, de acordo com informações da FAO. Em um mundo com uma população de 7 bilhões de pessoas, que deve chegar a 9 bilhões até 2050, o desperdício de alimento não faz sentido, seja do ponto de vista econômico, ambiental ou ético. Além da perda de produção, são desperdiçados também recursos como água, terras cultiváveis, insumos agrícolas e tempo de trabalho _ sem contar a geração de gases de efeito estufa pela comida em decomposição e o transporte dos alimentos. Precisamos transformar a maneira como produzimos nossos alimentos, para alcançarmos a verdadeira sustentabilidade. Chama a atenção o impacto ambiental causado por essas perdas. Os números são astronômicos. A quantidade de terras cultiváveis usada para produzir comida desperdiçada ao ano é o equivalente ao tamanho do México; 24% da água usada na agricultura anualmente é gasta com alimentos desperdiçados; 70 milhões de piscinas olímpicas seriam cheias com o volume de água usado para produzir os alimentos desperdiçados a cada ano; e 28 milhões de toneladas de fertilizantes são usados para cultivo do alimento que é perdido. O desperdício de alimentos no mundo choca quando sabemos da necessidade de tantos. Dados indicam que não são consumidos 44% de frutas e vegetais; 20% de raízes e tubérculos; 19% de cereais; 8% de leite; 4% de carnes; 3% de oleaginosas e leguminosas e 2% de frutos do mar. A luta contra o desperdício de alimentos tem que envolver todos os elos da cadeia, dos produtores aos consumidores. Assim poderemos atuar de forma a consolidarmos segurança alimentar à população mundial. A conscientização é o primeiro passo. Reduzir as perdas pode ser uma das principais estratégias mundiais para se conseguir um futuro alimentar sustentável.   (ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL  ZERO HORA)

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