segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Cultivar do Feijão Carioca com Resistências a Doenças

BRS FC402: cultivar de Feijão Carioca da Embrapa inova com resistência a doenças

Depois do Pérola, uma nova joia para a produção de feijão no Brasil

Um lançamento recente da Embrapa está movimentando a rede de produtores de feijão carioca no país, na preparação para a safra de verão. Trata-se da BRS FC402, cultivar de ciclo normal (entre 85 e 94 dias da emergência à maturação), que se destaca pela excelente produtividade, resistência inédita a doenças e alta qualidade de grãos. Os trabalhos foram desenvolvidos pela equipe de melhoramento de feijão da Embrapa Arroz e Feijão, com grande expectativa de que substitua junto aos produtores a Pérola, lançada no mercado em 1996, outra excelente cultivar da Empresa, que sempre teve grande aceitação e adoção.

A BRS FC402 pode contribuir de forma eficiente para a sustentabilidade da cultura do feijão-comum no agronegócio brasileiro. Ela se destaca, em relação às suas antecessoras, por maior produtividade de grãos, apresentando potencial médio de 4.500kg/ha, e resistência à antracnose e à murcha-de-fusário, dois dos principais problemas que atacam essa lavoura. Sua excelente sanidade e versatilidade permitem adoção em diversos ambientes e condições, sendo indicada para todas as regiões produtoras. O maior impacto deve ocorrer, principalmente, no cultivo de inverno, sob pivô central, e em áreas antigas e de uso intenso, devido à sua resistência à murcha-de-fusário. Na época “das águas”, é indicada para regiões com altitude elevada e em todo o Centro-Sul do Brasil, em virtude de sua resistência à antracnose.


 

Com relação às características de qualidade de grãos, a cultivar BRS FC402 possui alto valor nutricional, com teores de ferro 4,5% acima da Pérola e 19% da BRS Estilo; e 7% de zinco acima das duas testemunhas. Os grãos têm coloração uniforme e clara, com estrias também claras, características desejadas pela indústria e consumidores, apresentando-se de alto valor comercial. A cultivar possui arquitetura semiereta, com tolerância intermediária ao acamamento, podendo ser utilizada para colheita mecânica, inclusive direta.

Segundo Pedro Henrique Sarmento, especialista de Transferência de Tecnologia da Embrapa Arroz e Feijão, um ponto que se destaca nessa cultivar é a sua capacidade de se manter com plantas uniformes, saudáveis e produtivas, mesmo em ambientes que, para outras, sejam suscetíveis a doenças de solo e comprometimentos diversos. “Geralmente, locais onde se produz o feijão são menos equilibrados, em relação a biologia do solo, são pivôs antigos, até, às vezes, com manejos inadequados. Fomos a uma área no município de Acreúna, em Goiás, em que o produtor plantou, lado a lado, o BRS 402 e outra cultivar em lançamento. Vimos esta outra bastante comprometida por doenças de solo, como a murcha-de-fusário e nematoides, enquanto a 402 estava intacta e se desenvolvendo dentro das expectativas”, afirma Pedro Sarmento. 


 

Ainda segundo o analista da Embrapa, existem atualmente no mercado cultivares que tem características agronômicas muito boas, como produtividade, resistência a doenças, ciclo, arquitetura, e qualidade de grão. Isso faz com que os produtores possam rotacionar e testar aquelas que mais se adequem a sua realidade. 

A equipe de pesquisadores do Melhoramento Genético de Feijão da Embrapa Arroz e Feijão, vinha trabalhando nas duas década passadas, em busca de um material que superasse a Pérola e o Estilo. O uso de boas sementes na lavoura é determinante para a obtenção de bons resultados, em especial, no combate a doenças diversas, para as quais a pesquisa encontrou solução.  Na Embrapa, os trabalhos do programa de melhoramento de feijão-comum buscaram, ao longo do tempo, associar características desejáveis presentes em cultivares distintas, como resistência a doenças, baixa perda na colheita mecanizada, precocidade, maior potencial produtivo e estabilidade de produção, o que contribuiu para o aumento na produtividade da cultura, de 810 kg/ha, no ano 2000, para 1.353 kg/ha, no ano de 2013, incremento de 67%; chegando, em 2018, a 1.510 kg/ha, 11% acima da média anterior.

No entanto, um ponto continuava inviabilizando a adoção das sementes: a restrição do uso de cultivares a áreas e condições climáticas específicas, com recomendação para uma determinada região de cultivo ou época de semeadura e não para outras. Com isso, o pequeno volume demandado não gerava escala de produção que garantisse retorno econômico satisfatório para a indústria sementeira. Diante desse quadro, adotou-se na pesquisa a estratégia de seleção de linhagens que possuíssem grande adaptação, possibilitando ampla adoção, aumentando a demanda por sementes e permitindo a manutenção de sua competitividade, nas mais diferentes condições de cultivo e sistemas de produção. O resultado pode ser percebido no catálogo de cultivares de feijão-comum da Empresa, que conta com materiais propícios às mais diversas regiões produtoras do país.

A Embrapa possui parceria estabelecida com os principais programas de melhoramento de feijão-comum do Brasil e do mundo. Essas parcerias permitem que o desenvolvimento da cultura no país seja amplamente integrado, gerando vantagens técnico-científicas para todas as instituições.

VERSATILIDADE DA BRS FC402

Com base no seu desempenho, a BRS FC402 foi registrada para cultivo nas diversas regiões, da seguinte forma:

  • Nas épocas "DAS ÁGUAS" e "DE INVERNO"
    Bahia, Mato Grosso e Tocantins;
     
  • Nas épocas "DAS ÁGUAS”, "DE INVERNO” e “DA SECA”
    Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Distrito Federal;
     
  • Na época “DA SECA”
    Mato Grosso do Sul;
     
  • Nas épocas "DAS ÁGUAS” e “DA SECA”
    Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul;
     
  • Na época "DAS ÁGUAS”
    Maranhão, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí, Ceará e Paraíba.

 

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