Brasil monta barreira sanitária contra a entrada da Peste suína africana no criatório nacional
Este é o desafio das autoridades sanitárias do Brasil que pretendem manter animais livres da doença letal e sem cura, mas que não afeta humanos. A peste suína africana é uma doença altamente contagiosa e que não tem cura nem tratamento. Ela acomete suínos e javalis, mas não causa efeitos em humanos. O vírus da PSA foi identificado pela primeira vez na África, no início do século 20, e se estima que chegou à Europa em 1957 por meio de restos de alimentos servidos em aviões contendo produtos derivados de suínos contaminados com PSA. No Brasil, o vírus foi identificado em 1978 em suínos de subsistência, em Paracambi, no Rio de Janeiro. A PSA foi erradicada e o Brasil é considerado livre da doença desde 1984.
“A PSA é causada por um vírus DNA. Já foram identificados 24 genótipos diferentes desse vírus. A maioria é altamente virulenta, ocasionando taxas de mortalidade elevadas”, diz o pesquisador da Embrapa Suínos e Aves Luizinho Caron. Ele explica que o vírus da PSA tem o potencial de se disseminar rapidamente e ser extremamente resistente à inativação. A principal via de transmissão é pelo contato direto entre suínos infectados ou através da ingestão por esses animais de produtos de origem suína contaminados com o vírus (esta tem sido frequentemente a via pela qual o vírus se disseminou por longas distâncias). “Outra via de transmissão, mas menos comum, com exceção de países na África, é por carrapatos, quando estes sugam o sangue de suínos infectados e depois se alimentam de outros suínos”, explica o pesquisador.
Doença de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, a PSA tem potencial para rápida disseminação e drásticas consequências socioeconômicas. “O impacto da introdução da PSA nos Estados Unidos foi estimado em US$ 16,5 bilhões apenas no primeiro ano de surto. Uma avaliação superficial da introdução do vírus na população de suínos do Brasil mostra que o prejuízo ficaria em torno de US$ 5,5 bilhões, baseado no número de suínos abatidos por ano. Porém, fica difícil estimar os custos para o cenário brasileiro, devido às particularidades da produção e diferenças nos sistemas de vigilância e monitoria”, diz a pesquisadora e chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, Janice Zanella.
Uma vacina já está em desenvolvimento pelo USDA, órgão da agricultura do governo norte-americano. Mas, enquanto ela não é aprovada e comercializada, em casos de surtos da doença o abate sanitário dos animais e a destinação adequada das carcaças são obrigatórios. Não há números oficiais, ao menos divulgados, mas se estima que o abate de animais na China por causa da peste suína africana já chegou a dezenas de milhões.
No Brasil, o vírus foi identificado em suínos de subsistência, em Paracambi, no Rio de Janeiro, em 1978, que haviam sido alimentados com restos de alimentos contaminados com o vírus de um voo proveniente de Portugal. A PSA foi erradicada em todos esses países, inclusive do Brasil, que é considerado livre. Em 1982 o vírus foi introduzido na Sardenha (Itália), onde permanece endêmico. Em 2007, a PSA surgiu e se espalhou na Geórgia, sudeste da Europa e Rússia.
Em 2014 a PSA alcançou a Europa (Estônia, Letônia, Lituânia e Polônia) e Ucrânia; em 2016, a Moldávia; e em 2017, a República Tcheca e a Romênia. Em setembro de 2018, o vírus da PSA foi detectado em suínos de subsistência na China e na Romênia e em javalis na Bélgica. A partir desta data, até agora, a doença já se espalhou por outros países, como Hungria, Mongólia, Vietnã, Cambodja e Hong Kong.
O período de incubação da doença em geral é de 4 a 19 dias e sua severidade está relacionada a diferentes fatores. “Vai depender, por exemplo, da virulência da estirpe viral, da via e dose de infecção e do status imune do animal hospedeiro”, diz a pesquisadora da Embrapa Suínos e Aves Rejane Schaefer.
Rejane explica que em sua forma aguda a doença se caracteriza por vermelhidão e hemorragias na pele; anorexia, apatia, cianose e falta de coordenação motora dentro de 24-48 horas antes da morte; aumento da frequência respiratória; vômitos, diarreia (por vezes sanguinolenta) e secreções oculares. “Nesses casos, a taxa de mortalidade geralmente se aproxima de 100%”, diz.
“Já estirpes menos virulentas ocasionam sinais clínicos leves e muitas vezes inespecíficos, como febre ligeira, apetite reduzido, depressão, sinais respiratórios e aborto, que podem ser confundidos com muitas outras enfermidades em suínos e podem não levar à suspeita de PSA”, diz a pesquisadora. É importante o diagnóstico diferencial rápido, pois os sinais clínicos podem não ser tão acentuados no início. Animais que se recuperam de infecções se tornam portadores do vírus e se transformam em grandes problemas do controle da doença.
Para prevenir a entrada do vírus no Brasil, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) implementou cuidados nas fronteiras e na importação de produtos agrícolas e alimentos de países onde a PSA está ocorrendo. “A prevenção em países livres da doença, como o Brasil, depende de políticas de importação rigorosas, garantindo que nem os suínos vivos infectados nem os produtos de origem suína oriundos de países ou regiões afetadas pela PSA sejam introduzidos nessas áreas livres”, diz Janice Zanella, chefe-geral da Embrapa Suínos e Aves, lembrando que a Embrapa “tem o papel de fornecer informações sobre a doença, seu controle e os impactos na cadeia produtiva de suínos, subsidiando a tomada de decisão dos órgãos competentes”. Ela explica que não existem pesquisas suficientes sobre a PSA no país porque é uma doença exótica para a suinocultura nacional. “Mas a Embrapa Suínos e Aves tem pesquisas lideradas pela pesquisadora Virgínia Santiago em monitoramento de javalis e suídeos asselvajados na zona livre de peste suína clássica, o que pode embasar estudos e análises de risco para a PSA”, diz.
As principais medidas de controle para evitar a PSA no Brasil já estão em prática e são as seguintes:
1 Políticas de importação rigorosas de suínos vivos e de produtos de origem suína de países ou regiões afetadas pela PSA
2 Descarte adequado (que inclui o tratamento térmico) de resíduos de alimentos de aeronaves, navios ou veículos provenientes de países com ocorrência da PSA
3 Não alimentar suínos com produtos cárneos de origem suína, oriundos de restos da alimentação humana
4 Treinar veterinários e produtores para reconhecer a doença
5 Caçadores que tenham participado de atividades de caça em países com ocorrência da PSA não devem trazer subprodutos da caça para o país
6 Os casos suspeitos devem ser reportados ao Serviço Veterinário Oficial Estadual. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) tem um Laboratório Oficial, o Lanagro, em Minas Gerais, com capacidade para diagnóstico da PSA
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