Integração da lavoura com a pastagem, bom para ambas
Por:
Amélio Dall’Agnol
O título deste
artigo sinaliza os potenciais benefícios da prática de integrar as
atividades de lavoura com as de pecuária no processo produtivo agrícola,
favorecendo a oferta de grãos, carnes e fibras a um custo mais baixo,
dado o sinergismo que se estabelece entre a lavoura e a pastagem. O
sistema integração lavoura-pecuária (ILP) é praticado desde os
primórdios da agricultura, mas sem o apoio da pesquisa, que só iniciou
trabalhos efetivos na área a partir dos anos 90. A pesquisa ainda é
pouca por causa do alto custo dos experimentos (necessidade de muitos
animais e extensas glebas de terra) e à sua longa duração.
A ILP é um sistema de produção agrícola
que envolve a rotação de culturas agrícolas - em geral grãos - com
pastagens, resultando em melhoria das características físicas e químicas
do solo, além do aumento da sua atividade biológica e a quebra do ciclo
de pragas e doenças das culturas tradicionais. Outra vantagem do
sistema, é o de permitir a diversificação da produção e o uso mais
racional de insumos, máquinas e mão-de-obra na propriedade.
No Brasil, o Sistema ILP tem como
objetivos principais a recuperação de pastagens degradadas, a melhoria
das condições físicas e biológicas do solo, a produção de forragem para
alimentação animal, a redução dos custos de produção e o aumento da
diversificação de atividades agrícolas.
Uma das modalidades de ILP bastante
conhecida e difundida é o sistema Santa Fé, representado pelo consórcio
de uma cultura produtora de grãos (geralmente ‘o milho), com uma
forrageira - via de regra, uma braquiária - para a produção de pasto na
entressafra ou de cobertura morta para apoiar o sistema de plantio
direto. Para evitar a competição da forrageira com a lavoura, o sistema
recomenda estabelecer a forrageira alguns dias depois da lavoura, ou
semeá-la a uma profundidade maior que as sementes da cultura ou, ainda,
usar um herbicida supressor na forrageira para retardar o seu
desenvolvimento.
Boa parte das pastagens brasileiras
apresentam de médio a alto grau de deterioração, e recuperá-las pelos
métodos tradicionais de preparo do terreno, calagem e fertilização é
muito oneroso, o que faz da estratégia de recuperar a pastagem em
conjunto com o consórcio de culturas de grãos, uma alternativa econômica
e eficiente. O sistema associa o baixo risco da atividade pecuária, com
a possibilidade de alta rentabilidade na produção de grãos.
Os produtores rurais dificilmente são
igualmente eficientes nas atividades agrícola e pecuária. Por essa
razão, ou eles se dedicam à agricultura ou são pecuaristas, o que
dificulta a execução da ILP com perfeição. Mas esse cenário de dedicação
exclusiva a uma ou outra atividade tem mudado nos últimos tempos e cada
vez mais produtores rurais estão apostando na integração de ambas as
atividades, principalmente os pecuaristas, ansiosos por recuperar a um
custo menor suas pastagens de baixo rendimento.
Apesar de ser mais difícil para um
pecuarista se adaptar ao sistema de ILP, isso poderia ser facilitado por
meio de arranjos contratuais entre pecuaristas e agricultores, onde um
cuida das plantas e o outro dos animais, resultando em benefício para
ambos. Já existem iniciativas em andamento, onde o pecuarista cede
gratuitamente a terra com pastagem degradada para o agricultor
recuperá-la e devolvê-la com pastagem melhorada. O lucro do agricultor
fica por conta dos grãos colhidos na fase de recuperação da capacidade
produtiva do solo e o pecuarista ganha pelo posterior aumento da
produtividade das pastagens melhoradas.
Com a integração lavoura-pecuária ganha o
agricultor, cuja lavoura aumenta a produtividade de grãos e fibras após
um ou mais anos de pastagem e ganha o pecuarista, cujos animais
produzirão mais carne após um ou mais anos de lavoura. Esta alternância
interrompe a sobrevivência de pragas e doenças, principalmente nas
lavouras.
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