sexta-feira, 24 de agosto de 2018

 Basta um pedaço de terra para a semente ser pão







Acampamento Vida Nova - Niquelândia-GO

FOTO: Arquivo pessoal


Morador do acampamento Vida Nova, em Niquelândia-GO, Romerson Figueira da Silva, de 21 anos, é o retrato de uma dura realidade enfrentada por milhares de brasileiros e brasileiras que vivem debaixo da lona.

“Enfrentamos muitas dificuldades. Não temos estrada, a escola mais próxima fica a 30 quilômetros e o hospital a 70 quilômetros do acampamento. São muitas pessoas carentes que não têm nem o que comer, pois não podemos plantar na área até que a situação seja resolvida pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)”, compartilha o jovem que luta com mais de 100 famílias para o Vida Nova se tornar um Projeto de Assentamento.


(Romerson Figueira da Silva - acampado)

Números da Ouvidoria Agrária Nacional - Incra apontam que nos dois anos de governo Temer apenas 2.800 famílias foram assentadas, ou seja, apenas 2,4% da média anual dos governos Lula e Dilma, de 57,5 mil assentamentos por ano. E em 2017 não houve assentamento de nenhuma família no Brasil.


(Acampamento Vida Nova - Niquelândia-GO)

Enquanto a reforma agrária caminha em passos lentos, o Agronegócio avança com a ocupação de terras e a borrifação de veneno, em todo o território nacional. É o que confirma informações preliminares do Censo Agropecuário 2017 – do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com a pesquisa apenas 2 mil latifúndios (com terras equivalentes a 500 mil m², ou 70 campos de futebol cada) ocupam área maior que 4 milhões das terras dos agricultores e agricultoras familiares.

O Agronegócio que tem a maioria das terras do País trabalha com aplicação de veneno, produção de monucultura e voltada para a exportação. Já a Agricultura Familiar mesmo com menos área, produz sem veneno, com diversidade e é responsável direta pela alimentação que vai para a mesa do povo brasileiro.


(Aplicação de veneno pelo Agronegócio na região do MATOPIBA)

Preocupada com a atual situação fundiária do país, a CONTAG, através da sua Secretaria de Política Agrária, vem realizando em todo o País, Oficinas Estaduais de Formação e Capacitação para Acesso a Terra e Política de Permanência no Campo. Mediadas pela CONTAG e as Federações do Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR), as Oficinas são espaços de negociação direta entre acampados(as) e assentados(as) da reforma agrária junto a representantes do Incra e dos Institutos de Terras dos Estados, que em dois dias têm a oportunidade de debaterem e construírem caminhos relacionados a Obtenção de Terra e o Desenvolvimento dos Projetos de Assentamentos.


(Ofic. de Formação e Cap. para Acesso a Terra e Política de Permanência no Campo- Pernambuco)

Após receberem as demandas, os representantes do Incra se comprometem em dar resposta a pauta apresentada pela base. Cabendo a CONTAG, as Federações e aos Sindicatos monitorarem todos os compromissos acordados e assumidos pelos órgãos fundiários.


(Acampamento Vida Nova - Niquelândia-GO)

“Mesmo sem uma efetiva reforma agrária no Brasil sempre é bom lembrar que a Agricultura Familiar é responsável pela maior produção e geração de emprego no campo. É esse segmento da Agricultura que mesmo em condições desfavoráveis coloca na nossa mesa um café da manhã, almoço e jantar com variedade de alimentos e saudável. Enquanto organização sindical que representa os trabalhadores e trabalhadoras rurais o nosso objetivo é claro e fixo: lutar pelo acesso a terra, a infraestrutura do meio rural e o consequente fortalecimento da economia e da garantia de vida do povo brasileiro através da Agricultura Familiar”, afirma o secretário de Política Agrária da CONTAG, Elias D’Angelo Borges.



(Produção da Agricultura Familiar)

Como resultado das Oficinas, a CONTAG articulou uma reunião na Casa Civil, na última segunda-feira (20), no qual representantes do governo federal sinalizaram a possibilidade de disponibilizar R$ 400 milhões para áreas já empenhadas a desapropriação e a aquisição de imóveis. A expectativa é que 15 mil famílias em todo o Brasil sejam beneficiadas.


(Reunião na Casa Civil)

AGENDA DAS OFICINAS
Ao todo são 27 Oficinas nas cinco Regiões da Brasil. Até agora já foram realizadas nos estados do Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Roraima, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Pará (Belém - Santarém), Pernambuco, Bahia e Minas Gerais. As próximas acontecem nos estados do Sergipe, Amapá, Paraná, Distrito Federal, Maranhão, Rondônia, Alagoas, São Paulo, Tocantins, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Pará (Marabá).

“Ficamos na expectativa para que o nosso projeto de assentamento seja concluído e a gente possa ter como produzir e permanecer com dignidade na terra”, Romerson Figueira da Silva.


(Acampamento Vida Nova - Niquelândia-GO)

“(...)Se somos todos irmãos, se todos somos amigos, basta um pedaço de chão para a vitória do trigo”. (A Vitória do Trigo - Dante Ramon Ledesma)




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