Oficinas sobre os biomas revelam realidade e desafios regionais para o Brasil
Um
retrato do Brasil sob a ótica e as peculiaridades de cada bioma,
delineado com o objetivo de nortear ações estratégicas que vão
contribuir com a superação dos desafios do futuro, no qual a
participação brasileira de país produtor de alimentos, energia e água
tem se consolidado fundamental. Esse foi o resultado da série de
oficinas temáticas, realizadas nos meses de março, abril, maio e junho,
pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o apoio da
Embrapa, para discutir sistemas agroalimentares. Com enfoque abrangente,
integrado e multidimensional, a série de eventos chamou a atenção para a
fragmentação de informações e a falta de estudos aprofundados,
principalmente relacionados aos biomas Caatinga e Pampa.
A iniciativa, que vai ajudar a identificar prioridades para o Brasil pelos próximos quatro anos, é fruto de um convênio firmado no ano passado entre o BID e a Fundação Eliseu Alves. Com a participação de especialistas, conhecedores dos biomas e representantes dos setores público e privado interessados no desenvolvimento de sistemas agroalimentares, entre eles organizações não-governamentais, entidades representativas, poder público, pesquisadores, empresários e produtores rurais e terceiro setor, as oficinas foram realizadas em Brasília (DF), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Campinas (SP), Campo Grande (MS) e Porto Alegre (RS).
“Era evidente a necessidade de se discutir os biomas, mas a partir de um olhar diferenciado, considerando-se os desafios que precisam ser enfrentados pelo País, como estratégias para aumentar a produção de alimentos, de energia, de água e ainda sequestrar carbono”, disse o pesquisador da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa, Elísio Contini. “O que se percebe é que, apesar dos esforços e avanços, é grande a deficiência de estudos, com a abordagem integrada que contemple as dimensões social, ambiental e econômica e que situe a agricultura em suas relações com o urbano e respectivos potenciais, problemas e oportunidades”.
Mesmo com realidades diferentes, as oficinas concluíram que, de uma maneira geral, há desafios comuns a serem superados, como desmatamento ilegal, pobreza rural, necessidade de preservação, recuperação e promoção do uso intensivo e sustentável dos recursos naturais, além dos aspectos econômicos relacionados à infraestrutura, logística, sanidade, gestão dos riscos e inovação.
Para o pesquisador da Sire, Pedro Abel Vieira Júnior, responsável pela elaboração do relatório final das oficinas, a inteligência regional é um ponto que merece mais atenção na elaboração das estratégias para o desenvolvimento nos biomas. “Não basta somente aumentar a produção e a organização de dados sobre os territórios”, diz ele. “É fundamental pensar os biomas ou um recorte dele, produzir análises que permitam identificar oportunidades e formas de monitoramento e uso dos recursos naturais, por isso é indispensável aprimorar o conhecimento sobre esses espaços geográficos”.
Outra conclusão do trabalho foi a de que, em praticamente todos os biomas, a agricultura 4.0 -ou a agricultura conectada tecnologicamente - ainda é incipiente, carece de comunicação e infraestrutura necessária para o atendimento das necessidades dos produtores rurais. “Parece não haver dúvidas de que a realidade da maioria dos agricultores familiares e produtores rurais reflete a falta de capital e conhecimento apropriado para o uso dos recursos disponíveis, o que resulta em situações de exclusão”, comenta o Abel.
A organização de mercados e a “inovação do eixo de inovação” também mereceram destaque entre os principais desafios para o desenvolvimento da nova agricultura. Segundo o pesquisador, o eixo de inovação deve focar o aumento da produtividade econômica por meio do aumento na produtividade física, agregação de valor, diversificação da produção e reduções do desperdício. “Mas não se pode perder de vista a sustentabilidade ambiental e social da produção no espaço rural”, completa.
A previsão é a de que o documento final, resultante das oficinas sobre os desafios dos sistemas agroalimentares nos biomas brasileiros, seja entregue ao Banco Interamericano de Desenvolvimento até o final do ano. A partir das conclusões, a instituição internacional vai ter subsídios para formular estratégias de investimento, como a abertura de programas e linhas de financiamento específicas em áreas e setores apontados como prioritários em cada bioma.
Principais desafios de cada bioma
Amazônia: intensificação do conhecimento do bioma com vistas à inteligência regional, recuperação de pastagens degradadas e incentivo aos sistemas agroflorestais; dotação de infraestrutura de energia, transporte e armazenamento, combate à pobreza, regularização fundiária, promoção do ecoturismo e da aquicultura.
Caatinga: superação das alternativas agrícolas limitadas, a partir da articulação e do desenvolvimento, considerando-se a existência de várias “caatingas” com desafios distintos, redução da defasagem de indicadores sociais, concentração no bioma da agricultura familiar e dos mais pobres, superação do baixo dinamismo econômico e produtividade da agropecuária, desertificação e restrições de água e promoção da multifuncionalidade, incluindo atividades como o turismo.
Cerrado: aumento da produtividade econômica e preservação do meio ambiente, por meio da intensificação produtiva, gestão de recursos hídricos, infraestrutura com ênfase na agricultura 4.0, uso da biodiversidade na geração de novos negócios, viabilização da pequena produção, aprimoramento das políticas públicas e informação e planejamento com base na inteligência regional.
Mata Atlântica: dimensionar e considerar a heterogeneidade do bioma nos projetos, tratar a questão ambiental com ênfase na gestão hídrica e serviços ecossistêmicos, promover a utilização de recursos com potencial econômico, dualidade entre o urbano e o rural, conciliar rentabilidade com preservação ambiental, com incentivo a programas como Plano ABC, produtores de água, entre outros, e recuperação do bioma original em áreas remanescentes e o esvaziamento populacional de áreas inadequadas à produção agrícola.
Pantanal: conciliação entre pecuária e conservação, diversificação das atividades (considerando os eixos econômicos, como turismo, extrativismo e apicultura), desenvolver mecanismos de proteção do bioma frente ao desenvolvimento em outros biomas e fronteiras, melhorar a infraestrutura considerando a diversidade de atividades possíveis de serem desenvolvidas no bioma e promover a extensão rural, assistência técnica e capacitação de mão de obra.
Pampa: fortalecimento dos sistemas produtivos, com o objetivo de aumentar a produtividade, a competitividade e a sustentabilidade (econômica, social e ambiental), exploração do potencial de arranjos produtivos locais, informação e planejamento voltados à inteligência regional, capacitação de mão de obra, fortalecimento de pesquisas dedicadas ao fortalecimento da agricultura sustentável na região e atenção aos efeitos sociais, ambientais e econômicos associados à “sojicização” (produção de soja) no Pampa.
A iniciativa, que vai ajudar a identificar prioridades para o Brasil pelos próximos quatro anos, é fruto de um convênio firmado no ano passado entre o BID e a Fundação Eliseu Alves. Com a participação de especialistas, conhecedores dos biomas e representantes dos setores público e privado interessados no desenvolvimento de sistemas agroalimentares, entre eles organizações não-governamentais, entidades representativas, poder público, pesquisadores, empresários e produtores rurais e terceiro setor, as oficinas foram realizadas em Brasília (DF), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Campinas (SP), Campo Grande (MS) e Porto Alegre (RS).
“Era evidente a necessidade de se discutir os biomas, mas a partir de um olhar diferenciado, considerando-se os desafios que precisam ser enfrentados pelo País, como estratégias para aumentar a produção de alimentos, de energia, de água e ainda sequestrar carbono”, disse o pesquisador da Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas (Sire) da Embrapa, Elísio Contini. “O que se percebe é que, apesar dos esforços e avanços, é grande a deficiência de estudos, com a abordagem integrada que contemple as dimensões social, ambiental e econômica e que situe a agricultura em suas relações com o urbano e respectivos potenciais, problemas e oportunidades”.
Mesmo com realidades diferentes, as oficinas concluíram que, de uma maneira geral, há desafios comuns a serem superados, como desmatamento ilegal, pobreza rural, necessidade de preservação, recuperação e promoção do uso intensivo e sustentável dos recursos naturais, além dos aspectos econômicos relacionados à infraestrutura, logística, sanidade, gestão dos riscos e inovação.
Para o pesquisador da Sire, Pedro Abel Vieira Júnior, responsável pela elaboração do relatório final das oficinas, a inteligência regional é um ponto que merece mais atenção na elaboração das estratégias para o desenvolvimento nos biomas. “Não basta somente aumentar a produção e a organização de dados sobre os territórios”, diz ele. “É fundamental pensar os biomas ou um recorte dele, produzir análises que permitam identificar oportunidades e formas de monitoramento e uso dos recursos naturais, por isso é indispensável aprimorar o conhecimento sobre esses espaços geográficos”.
Outra conclusão do trabalho foi a de que, em praticamente todos os biomas, a agricultura 4.0 -ou a agricultura conectada tecnologicamente - ainda é incipiente, carece de comunicação e infraestrutura necessária para o atendimento das necessidades dos produtores rurais. “Parece não haver dúvidas de que a realidade da maioria dos agricultores familiares e produtores rurais reflete a falta de capital e conhecimento apropriado para o uso dos recursos disponíveis, o que resulta em situações de exclusão”, comenta o Abel.
A organização de mercados e a “inovação do eixo de inovação” também mereceram destaque entre os principais desafios para o desenvolvimento da nova agricultura. Segundo o pesquisador, o eixo de inovação deve focar o aumento da produtividade econômica por meio do aumento na produtividade física, agregação de valor, diversificação da produção e reduções do desperdício. “Mas não se pode perder de vista a sustentabilidade ambiental e social da produção no espaço rural”, completa.
A previsão é a de que o documento final, resultante das oficinas sobre os desafios dos sistemas agroalimentares nos biomas brasileiros, seja entregue ao Banco Interamericano de Desenvolvimento até o final do ano. A partir das conclusões, a instituição internacional vai ter subsídios para formular estratégias de investimento, como a abertura de programas e linhas de financiamento específicas em áreas e setores apontados como prioritários em cada bioma.
Principais desafios de cada bioma
Amazônia: intensificação do conhecimento do bioma com vistas à inteligência regional, recuperação de pastagens degradadas e incentivo aos sistemas agroflorestais; dotação de infraestrutura de energia, transporte e armazenamento, combate à pobreza, regularização fundiária, promoção do ecoturismo e da aquicultura.
Caatinga: superação das alternativas agrícolas limitadas, a partir da articulação e do desenvolvimento, considerando-se a existência de várias “caatingas” com desafios distintos, redução da defasagem de indicadores sociais, concentração no bioma da agricultura familiar e dos mais pobres, superação do baixo dinamismo econômico e produtividade da agropecuária, desertificação e restrições de água e promoção da multifuncionalidade, incluindo atividades como o turismo.
Cerrado: aumento da produtividade econômica e preservação do meio ambiente, por meio da intensificação produtiva, gestão de recursos hídricos, infraestrutura com ênfase na agricultura 4.0, uso da biodiversidade na geração de novos negócios, viabilização da pequena produção, aprimoramento das políticas públicas e informação e planejamento com base na inteligência regional.
Mata Atlântica: dimensionar e considerar a heterogeneidade do bioma nos projetos, tratar a questão ambiental com ênfase na gestão hídrica e serviços ecossistêmicos, promover a utilização de recursos com potencial econômico, dualidade entre o urbano e o rural, conciliar rentabilidade com preservação ambiental, com incentivo a programas como Plano ABC, produtores de água, entre outros, e recuperação do bioma original em áreas remanescentes e o esvaziamento populacional de áreas inadequadas à produção agrícola.
Pantanal: conciliação entre pecuária e conservação, diversificação das atividades (considerando os eixos econômicos, como turismo, extrativismo e apicultura), desenvolver mecanismos de proteção do bioma frente ao desenvolvimento em outros biomas e fronteiras, melhorar a infraestrutura considerando a diversidade de atividades possíveis de serem desenvolvidas no bioma e promover a extensão rural, assistência técnica e capacitação de mão de obra.
Pampa: fortalecimento dos sistemas produtivos, com o objetivo de aumentar a produtividade, a competitividade e a sustentabilidade (econômica, social e ambiental), exploração do potencial de arranjos produtivos locais, informação e planejamento voltados à inteligência regional, capacitação de mão de obra, fortalecimento de pesquisas dedicadas ao fortalecimento da agricultura sustentável na região e atenção aos efeitos sociais, ambientais e econômicos associados à “sojicização” (produção de soja) no Pampa.
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