Mapa da flora vai orientar apicultores no Nordeste
Embrapa
Pesquisa contribuirá para que mel, propólis e pólen apícola fiquem mais acessíveis ao consumidor, com menor preço
Pesquisadores da
Embrapa estão fazendo o mapeamento da flora apícola nos biomas da região
Meio-Norte, que compreende os estados do Piauí e do Maranhão, para que
os apicultores tenham informações mais precisas sobre espécies que
favorecem a produção e épocas de florescimento, a fim de que possam,
então, escolher os locais adequados à instalação de apiários. O trabalho
científico vai contribuir para que produtos como mel, propólis e pólen
apícola cheguem mais facilmente e com menor preço ao consumidor.
A pesquisa contribuirá também para a conservação e incremento das plantas apícolas e das espécies de abelhas nativas nos biomas estudados, como Cerrado, Caatinga, regiões de transição e de manguezais. O estudo, que começou em 2004, vai possibilitar ainda a adoção de estratégias de manejo das colônias conforme os períodos de floração das plantas. O resultado dará segurança e eficiência ao apicultor.
Os trabalhos estão concentrados atualmente nos biomas Matas de Cocais, em Teresina (PI), em áreas de Cerrado do Piauí e do Maranhão e nas Vegetações Litorâneas, no Delta do Rio Parnaíba. O estudo será concluído em dois anos, segundo previsão da pesquisadora Fábia de Mello Pereira, da Embrapa Meio-Norte (PI). As informações chegarão aos apicultores por meio de um livro, com fotos e todo o detalhamento da flora apícola da região. Um artigo também será disponibilizado à comunidade científica.
Diversidade e riqueza
Com financiamento do Banco do Nordeste e do Tesouro Nacional, o projeto está identificando as espécies com maior potencial para a produção de mel e pólen. A ação dos pesquisadores, sempre estruturada em equipes de quatro pessoas, envolvendo profissionais das universidades estadual e federal do Piauí, exige fôlego e muita dedicação.
Cada bioma é estudado por, no mínimo, um ano, período em que os pesquisadores percorrem, quinzenalmente, uma trilha de três quilômetros, em zigue-zague, no início da manhã e no final da tarde, coletando galhos com flor e folhas, que são prensados e secos em estufa para, em seguida, serem armazenados em herbário. A última fase de identificação ocorre em laboratório.
A pesquisa envolve ainda a coleta de abelhas para a identificação das espécies que estão utilizando as plantas no bioma. “Escolhemos as áreas mais representativas de cada região e bioma e evitamos locais que são desmatados e que tenham criações de animais e plantio agrícola”, diz Fábia.
No bioma de transição Caatinga-Cerrado, no município de Castelo do Piauí, a 184 quilômetros ao norte de Teresina, foram identificadas 138 espécies botânicas, distribuídas em 98 gêneros e 39 famílias. Nessa etapa, coordenada pela pesquisadora da Embrapa Meio-Norte Maria Teresa do Rêgo Lopes, foram observados também os períodos de florescimento de cada espécie, as abelhas visitantes e qual o recurso coletado – néctar, pólen ou resina.
Já no bioma Cerrado, no município de São João dos Patos, a 540 quilômetros de São Luís, no leste maranhense, os pesquisadores identificaram 127 espécies, 93 gêneros e 40 famílias. No município de Guadalupe, no sudoeste do Piauí, a 206 quilômetros da capital, os números saltaram: 167 espécies, 54 gêneros e 130 famílias, com 44% de potencial melífera.
A pesquisa avançou um pouco mais e identificou, de 2012 a 2013, no período de seca rigorosa, no bioma Caatinga, no município de São João do Piauí, 516 quilômetros a sudeste de Teresina, 67 espécies em floração, 47 gêneros e 21 famílias. “Esse estudo está permitindo identificar os vegetais que fornecem alimento às abelhas no período seco, quando poucas espécies estão florescendo e as colônias ficam fracas”, ressalta Fábia.
Maria Teresa acrescenta que o conhecimento das plantas visitadas pelas abelhas, seus períodos de florescimento e os recursos ofertados são informações importantes para que os apicultores entendam o relacionamento entre a flora apícola e suas colônias. No Nordeste brasileiro, seis espécies da flora apícola se destacam: marmeleiro (Croton sonderianus), angico-de-bezerro (Pityrocarpa moniliformis), Mofumbo (Combretum leprosum), sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), jetirana (Ipomoea bahiensis), bamburral (Mesosphaerum suaveolens) e unha-de-gato preta (Albízia viridiflora).
Entre os pontos fortes do projeto, a bióloga e técnica de laboratório da Universidade Federal do Piauí Leudimar Aires Pereira destaca o equilíbrio ecológico que o estudo vai proporcionar aos biomas. Ela é responsável pela coleta e identificação das plantas, preparação das lâminas de pólen e de mel, para análises. Para a técnica, o maior desafio no trabalho é agregar o conhecimento teórico com a aplicação no campo.
Marco para o avanço da produção
A maior cooperativa apícola do país, a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis), sediada no município de Picos, 307 quilômetros a sudeste de Teresina, entende o trabalho como um marco para o avanço da produção de mel. Antônio Leopoldino Dantas Filho, o Sitonho Filho, presidente da central, acredita que só um estudo como esse pode ajudar a ampliar as áreas de produção de mel e destacar a região, gerando empregos e renda.
“A pesquisa é necessária, pois existem regiões que nem sequer começaram a produzir mel. O mapeamento da flora apícola vai permitir o reflorestamento de áreas improdutivas, contribuindo para evitar a evasão e morte das abelhas por falta de alimentação nos períodos críticos de seca no Nordeste”, enfatiza Sitonho Filho.
Para ele, a ciência precisa avançar em duas frentes: aumento do número de colmeias, com técnicas de multiplicação dos enxames, e o melhoramento genético desses animais. “Com o melhoramento genético, seria possível selecionar colônias mais tolerantes à seca, que enfrentariam a estiagem sem abandonar as colmeias em busca de melhores condições.”
Presidente da Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapia), Elísio Coelho observa que a pesquisa com flora apícola pode dar um novo rumo à apicultura. “Um projeto com melhoramento genético e a sustentação dos enxames pode aumentar a produção de mel e de outros produtos no campo,” diz o dirigente da cooperativa, que fica no sudeste do Piauí e é uma das maiores do país.
Estudos financiados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revelam que as abelhas, insetos e aves são fundamentais para o aumento da produtividade em lavouras, pomares e matas. Em alguns casos de polinização com abelhas, a produtividade pode aumentar em até 70%. Por meio da polinização, cerca de 35% das lavouras e 94% das plantas silvestres dependem diretamente da ação das abelhas.
País é destaque nas exportações
Os números da produção de mel no Piauí e no Brasil são expressivos. Em 2016, a Casa Apis, que reúne 850 famílias em 56 municípios, produziu 983 toneladas. A produção foi toda exportada para os Estados Unidos, resultando em faturamento U$ 3,5 milhões. Para este ano, a expectativa é que a produção chegue a 1.100 toneladas. Em 2016, a Comapi, que tem 685 cooperados em dez municípios, produziu 412 toneladas e exportou tudo para o mercado norte-americano. A previsão para 2017 é de pelo menos 500 toneladas.
Segundo o IBGE, até 2015 o ranking da produção de mel no Brasil era o seguinte: Paraná, em primeiro, com 6,2 mil toneladas; Rio Grande do Sul, com 4,9 mil toneladas; Bahia, com 4,5 mil toneladas; Minas Gerais, com 4,3 mil toneladas; e Piauí, na quinta posição, com 3, 9 mil toneladas.
Em 2016, as exportações brasileiras alcançaram 24,2 milhões de toneladas de mel. O faturamento chegou a U$ 92 milhões. A informação é do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os Estados Unidos foram os maiores importadores: 19,7 milhões de toneladas, seguido do Canadá, com 1,5 milhão de toneladas; e Alemanha, com 1,3 milhão de toneladas. O Brasil está hoje entre os dez maiores exportadores de mel. Até março deste ano, o País já exportou 5,3 milhões de toneladas, e faturou nada menos do que U$ 24 milhões.
A pesquisa contribuirá também para a conservação e incremento das plantas apícolas e das espécies de abelhas nativas nos biomas estudados, como Cerrado, Caatinga, regiões de transição e de manguezais. O estudo, que começou em 2004, vai possibilitar ainda a adoção de estratégias de manejo das colônias conforme os períodos de floração das plantas. O resultado dará segurança e eficiência ao apicultor.
Os trabalhos estão concentrados atualmente nos biomas Matas de Cocais, em Teresina (PI), em áreas de Cerrado do Piauí e do Maranhão e nas Vegetações Litorâneas, no Delta do Rio Parnaíba. O estudo será concluído em dois anos, segundo previsão da pesquisadora Fábia de Mello Pereira, da Embrapa Meio-Norte (PI). As informações chegarão aos apicultores por meio de um livro, com fotos e todo o detalhamento da flora apícola da região. Um artigo também será disponibilizado à comunidade científica.
Diversidade e riqueza
Com financiamento do Banco do Nordeste e do Tesouro Nacional, o projeto está identificando as espécies com maior potencial para a produção de mel e pólen. A ação dos pesquisadores, sempre estruturada em equipes de quatro pessoas, envolvendo profissionais das universidades estadual e federal do Piauí, exige fôlego e muita dedicação.
Cada bioma é estudado por, no mínimo, um ano, período em que os pesquisadores percorrem, quinzenalmente, uma trilha de três quilômetros, em zigue-zague, no início da manhã e no final da tarde, coletando galhos com flor e folhas, que são prensados e secos em estufa para, em seguida, serem armazenados em herbário. A última fase de identificação ocorre em laboratório.
A pesquisa envolve ainda a coleta de abelhas para a identificação das espécies que estão utilizando as plantas no bioma. “Escolhemos as áreas mais representativas de cada região e bioma e evitamos locais que são desmatados e que tenham criações de animais e plantio agrícola”, diz Fábia.
No bioma de transição Caatinga-Cerrado, no município de Castelo do Piauí, a 184 quilômetros ao norte de Teresina, foram identificadas 138 espécies botânicas, distribuídas em 98 gêneros e 39 famílias. Nessa etapa, coordenada pela pesquisadora da Embrapa Meio-Norte Maria Teresa do Rêgo Lopes, foram observados também os períodos de florescimento de cada espécie, as abelhas visitantes e qual o recurso coletado – néctar, pólen ou resina.
Já no bioma Cerrado, no município de São João dos Patos, a 540 quilômetros de São Luís, no leste maranhense, os pesquisadores identificaram 127 espécies, 93 gêneros e 40 famílias. No município de Guadalupe, no sudoeste do Piauí, a 206 quilômetros da capital, os números saltaram: 167 espécies, 54 gêneros e 130 famílias, com 44% de potencial melífera.
A pesquisa avançou um pouco mais e identificou, de 2012 a 2013, no período de seca rigorosa, no bioma Caatinga, no município de São João do Piauí, 516 quilômetros a sudeste de Teresina, 67 espécies em floração, 47 gêneros e 21 famílias. “Esse estudo está permitindo identificar os vegetais que fornecem alimento às abelhas no período seco, quando poucas espécies estão florescendo e as colônias ficam fracas”, ressalta Fábia.
Maria Teresa acrescenta que o conhecimento das plantas visitadas pelas abelhas, seus períodos de florescimento e os recursos ofertados são informações importantes para que os apicultores entendam o relacionamento entre a flora apícola e suas colônias. No Nordeste brasileiro, seis espécies da flora apícola se destacam: marmeleiro (Croton sonderianus), angico-de-bezerro (Pityrocarpa moniliformis), Mofumbo (Combretum leprosum), sabiá (Mimosa caesalpiniifolia), jetirana (Ipomoea bahiensis), bamburral (Mesosphaerum suaveolens) e unha-de-gato preta (Albízia viridiflora).
Entre os pontos fortes do projeto, a bióloga e técnica de laboratório da Universidade Federal do Piauí Leudimar Aires Pereira destaca o equilíbrio ecológico que o estudo vai proporcionar aos biomas. Ela é responsável pela coleta e identificação das plantas, preparação das lâminas de pólen e de mel, para análises. Para a técnica, o maior desafio no trabalho é agregar o conhecimento teórico com a aplicação no campo.
Marco para o avanço da produção
A maior cooperativa apícola do país, a Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis), sediada no município de Picos, 307 quilômetros a sudeste de Teresina, entende o trabalho como um marco para o avanço da produção de mel. Antônio Leopoldino Dantas Filho, o Sitonho Filho, presidente da central, acredita que só um estudo como esse pode ajudar a ampliar as áreas de produção de mel e destacar a região, gerando empregos e renda.
“A pesquisa é necessária, pois existem regiões que nem sequer começaram a produzir mel. O mapeamento da flora apícola vai permitir o reflorestamento de áreas improdutivas, contribuindo para evitar a evasão e morte das abelhas por falta de alimentação nos períodos críticos de seca no Nordeste”, enfatiza Sitonho Filho.
Para ele, a ciência precisa avançar em duas frentes: aumento do número de colmeias, com técnicas de multiplicação dos enxames, e o melhoramento genético desses animais. “Com o melhoramento genético, seria possível selecionar colônias mais tolerantes à seca, que enfrentariam a estiagem sem abandonar as colmeias em busca de melhores condições.”
Presidente da Cooperativa Mista dos Apicultores da Microrregião de Simplício Mendes (Comapia), Elísio Coelho observa que a pesquisa com flora apícola pode dar um novo rumo à apicultura. “Um projeto com melhoramento genético e a sustentação dos enxames pode aumentar a produção de mel e de outros produtos no campo,” diz o dirigente da cooperativa, que fica no sudeste do Piauí e é uma das maiores do país.
Estudos financiados pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) revelam que as abelhas, insetos e aves são fundamentais para o aumento da produtividade em lavouras, pomares e matas. Em alguns casos de polinização com abelhas, a produtividade pode aumentar em até 70%. Por meio da polinização, cerca de 35% das lavouras e 94% das plantas silvestres dependem diretamente da ação das abelhas.
País é destaque nas exportações
Os números da produção de mel no Piauí e no Brasil são expressivos. Em 2016, a Casa Apis, que reúne 850 famílias em 56 municípios, produziu 983 toneladas. A produção foi toda exportada para os Estados Unidos, resultando em faturamento U$ 3,5 milhões. Para este ano, a expectativa é que a produção chegue a 1.100 toneladas. Em 2016, a Comapi, que tem 685 cooperados em dez municípios, produziu 412 toneladas e exportou tudo para o mercado norte-americano. A previsão para 2017 é de pelo menos 500 toneladas.
Segundo o IBGE, até 2015 o ranking da produção de mel no Brasil era o seguinte: Paraná, em primeiro, com 6,2 mil toneladas; Rio Grande do Sul, com 4,9 mil toneladas; Bahia, com 4,5 mil toneladas; Minas Gerais, com 4,3 mil toneladas; e Piauí, na quinta posição, com 3, 9 mil toneladas.
Em 2016, as exportações brasileiras alcançaram 24,2 milhões de toneladas de mel. O faturamento chegou a U$ 92 milhões. A informação é do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os Estados Unidos foram os maiores importadores: 19,7 milhões de toneladas, seguido do Canadá, com 1,5 milhão de toneladas; e Alemanha, com 1,3 milhão de toneladas. O Brasil está hoje entre os dez maiores exportadores de mel. Até março deste ano, o País já exportou 5,3 milhões de toneladas, e faturou nada menos do que U$ 24 milhões.
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