Conheça o trator movido a ‘esterco’
Em uma granja de galinhas de
postura e gado de corte de Santa Helena, no Oeste do Paraná, uma
novidade tem atraído o olhar dos curiosos. Desde o fim de dezembro a
fazenda usa um trator no qual não vai diesel, gasolina ou qualquer outro
combustível líquido. Em vez de tanque, a máquina tem cilindros, pois é
movida a gás. Mas tem mais um detalhe: não é qualquer gás. O motor do
protótipo T6.140, da multinacional New Holland, utiliza biometano como
fonte de energia. Trata-se de um gás extraído da fermentação de matéria
orgânica – no caso dessa propriedade paranaense, de dejetos de bovinos e
de aves.
A promessa da empresa que desenvolveu a máquina é de uma redução de até 40% nos gastos com combustível. Mas esses dados foram obtidos com base em testes na Europa. Por isso, a fabricante decidiu trazer o veículo para algumas propriedades rurais brasileiras para tirar a prova. “Na Europa os tratores têm usos diferenciados, como no transporte de grãos, puxando carretas nas estradas [etc]. Sabemos que o uso no Brasil em algumas circunstâncias pode ser mais intenso. Estamos coletando aqui todos os dados para fazer uma avaliação detalhada para aprimorarmos o produto”, diz Nilson Righi, gerente de marketing de produto da New Holland.
A propriedade da família de André
Haacke, em Santa Helena, não foi escolhida para começar os testes aqui
do Brasil por acaso. Há quatro anos, eles trabalham em um projeto de
biodigestores para o aproveitamento do biogás na geração de energia
elétrica e como combustível de parte dos carros. Eles já investiram
cerca de R$ 750 mil na estrutura automatizada que coleta os dejetos e
processa o gás. “Antes tinha a questão do meio ambiente e dos vizinhos
que reclamavam bastante do cheiro forte. Com o biodigestor, fizemos de
um problema uma solução”, relata.
No entanto, como ressalta o diretor
presidente do CIBiogas (projeto vinculado à Itaipu), Rodrigo Regis de
Almeida Galvão, ainda há entraves que precisam ser melhorados para
incentivar projetos de biodigestores no meio rural. Na avaliação dele,
somente o Paraná, que é um dos grandes produtores mundiais de aves e
suínos, teria hoje a capacidade para fabricar 8,7 bilhões de metros
cúbicos por ano de biogás. Ele estima, porém, que o estado produza
atualmente menos de 5% desse potencial. “Ainda temos entraves
tributários e precisamos de um planejamento energético nacional que
envolva o biogás”, diz.
Informações técnicas
O trator tem capacidade para armazenar
300 litros de metano comprimido. O veículo economiza até 40% em
combustível e emite 80% menos gás carbônico do que o modelo a diesel. Um
dos grandes desafios da fabricante é melhorar a autonomia. Enquanto com
um tanque de diesel é possível trabalhar por cerca de dez horas, com o
gás o tempo máximo de trabalho chega a cinco horas.
Testes
O T6.140 é um protótipo, ou seja, não é
um veículo comercial. Foram produzidas apenas quatro unidades: uma está
na Europa, uma na Oceania, uma na América do Norte e outra no Brasil. Na
Europa, os testes ocorrem desde 2013. Lá inclusive já há uma segunda
versão do trator a biometano, com motor desenvolvido especificamente
para máquina agrícola. O T6.140 possui um motor veicular adaptado. Não
há ainda previsão de lançamento comercial no Brasil, mas assim que for
lançado na Europa, se houver demanda aqui, é possível começar a
fabricação da máquina em aproximadamente seis meses.
Nos próximos dias, o trator movido a
‘esterco’ será exposto no Show Rural, em Cascavel. Depois, a máquina
será levada para uma fazenda com biodigestores na região de Castro, no
Paraná, onde fica a uma das maiores bacias leiteira do Brasil.
* O jornalista viajou a convite da New Holland.
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