segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Jumentos, uma classe de animais em extinção


Resultado de imagem para jumento nordestinoA canção "O Jumento", escrita por Chico Buarque em 1977, já revelava as tristes condições de vida do animal. O trecho inicial diz: “Jumento não é o grande malandro da praça. Trabalha, trabalha de graça. Não agrada ninguém. Nem nome não tem. É manso e não faz pirraça, mas quando a carcaça ameaça rachar, que coices, que coices que dá”.

Nos mais de 30 anos que se passaram desde a composição, pouca coisa mudou no cotidiano do jumento, animal típico nordestino também conhecido como jegue. Em 2012, ele foi alvo de uma grande polêmica, depois que a China sinalizou a intenção de comprar no Brasil mais de 300 mil animais. O destino seria a produção de cosméticos.
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Na época, os jumentos atraíram a atenção de uma das mais célebres defensoras de animais do mundo: a atriz Brigitte Bardot, que, em carta, pediu à presidente Dilma Rousseff que evitasse tal carnificina.

De acordo com Fernando Viana, agrônomo e presidente da Associação Brasileira dos Jumentos Nordestinos, no entanto, a intenção da China de adquirir os animais do Nordeste do Brasil, que responde por mais de 90% do rebanho brasileiro, não se concretizou naquele ano. “Foi assinado um protocolo de intenções entre uma missão de chineses e o governo do Rio Grande do Norte, mas não houve registro de comércio”, disse.

Ainda que os animais nordestinos não estejam virando cosméticos, sua miserável existência não foi amenizada com a chegada da modernidade. Trata-se de uma classe de animais fadada ao trabalho no campo. “Um jumento forte e bom para o trabalho não tem preço”, diz Viana. Em compensação, animais não tão fortes já foram comercializados pelo valor de uma galinha, lembra o agrônomo.

Na semana passada, durante a visita da ministra da agricultura Kátia Abreu à China, ele escreveu em seu microblog Twitter que foi abordada por um empresário chinês que lhe pediu que intermediasse a venda de pelo menos 1 milhão de jumentos. A ministra disse que não sabia qual era a intenção do homem. "Morro e não vejo tudo", escreveu ela.

A sorte dos mais fracos, no entanto, é serem abandonados nas beiras das estradas e morrer de inanição ou atropelamento. “A tradição do jumento é o trabalho rural e, depois que os tratores de pequeno porte e as motocicletas chegaram ao campo, os animais migraram para a cidade ou foram abatidos de maneira indiscriminada, o que fez o rebanho brasileiro cair mais de 70% nas ultimas quatro décadas, de 2,7 milhões de cabeças em 1967 para apenas 590 mil cabeças em 2010. Nas cidades, eles tiveram serventia no transporte de objetos e pessoas até a chegada das motocicletas.

“Parece não haver saída para a recuperação do rebanho do Brasil”, diz Viana. Uma alternativa, segundo ele, seria o governo federal obrigar a destinação de jumentos para trabalhos em assentamentos rurais, mas em época em que o bem estar animal é altamente respeitado, dificilmente essa idéia tomará alguma forma e sensação é de que a classe caminha a passos largos para extinção no Brasil. “Em países subdesenvolvidos o rebanho cresce ou se mantém, diferente do que ocorre nos países em desenvolvimento ou desenvolvidos, onde a queda é contínua”, avalia Viana. 
 
Por Redação Globo Rural  

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