sexta-feira, 31 de julho de 2015

 Planejando a sustentabilidade da pequena propriedade rural


Antônio Roberto Mendes Pereira 
A necessidade pelo estado de sustentabilidade vem aumentando muito nas últimas décadas, com certeza todos os dias, vários produtores buscam se adequar a novas formas de produzir que sejam menos agressivas ao meio ambiente. E para o encontro com este estado uma condição é necessária, o cuidado com o meio ambiente. Sem este cuidar é impossível encontrar este caminho, esta rota que nos guia para a sustentabilidade. 
Embora que precisamos saber que a sustentabilidade nunca é alcançada, pois ela é um caminho, uma lógica, um conjunto de atitudes e comportamento onde se pode usufruir do presente sem privar as gerações futuras de ter as mesmas condições das gerações atuais. É preciso não confundir sustentabilidade com autosuficiência, o primeiro como dito anteriormente é um caminho, é atitude e a segunda está mais ligada a ter todas as necessidades atendidas sem ter que comprar, é a intenção pragmática de buscar produzir todas ou quase todas as necessidades atuais, embora que para se alcançar este equilíbrio produtivo nem sempre se precisa trilhar pela lógica da sustentabilidade, posso me tornar autosuficiente utilizando tecnologias e processos que vão de encontro aos cuidados com o meio ambiente. 
Para se tornar sustentável precisa-se modificar muitas atitudes e comportamentos culturais de produção e de consumo. 
Um dos primeiros passos a ser modificado profundamente é o do CONSUMO, que induz a produção, precisa-se buscar adequar o consumo da família para que ela esteja também direcionada para um consumo consciente e guiada pela lógica da sustentabilidade. Será que você hoje vive de acordo com suas necessidades reais ou com as necessidades criadas pelo mercado? O que fazer para descobrir verdadeiramente quais são as necessidades reais? Como fazer para diminuir o consumo de forma que se tenham as necessidades reais atendidas? 

Um indicador de consumo em uma propriedade rural é possível perceber pela quantidade de lixo que é produzido diariamente. Um consumo baseado na obsolescência artificial, em que os bens de consumo são criados para serem descartados o mais rápido possível, e irem para o lixo e assim gerar mais consumo vão de encontro à busca do estado de sustentabilidade. E esta forma de consumo vem sendo copiada pela maioria das pessoas, o que começou a pressionar imensamente os recursos ambientais. É bom lembrar que este tipo de consumo é insustentável. 
Quanto mais compramos, mais demonstramos o quanto estamos e somos insustentáveis. Em uma propriedade rural onde para se produzir necessita-se comprar sementes, adubos, venenos, entre outros insumos, percebe-se sua deficiência produtiva e de planejamento. Esta atitude nos mostra o quanto esta dependência está acima da capacidade da propriedade. Numa situação onde até para comer precisa-se comprar, imagine em que estado se encontra a propriedade. O principal meio de produção é a terra, e se ela não consegue mais atender a demanda de alimento para a família, significa que seu limite produtivo foi ultrapassado, mal manejado, forçou-se demais o meio e o bem de produção. 
A propriedade deve conseguir produzir necessidades básicas de alimentos para toda família. Programar uma dieta diversificada onde as condições do solo e clima possam atender, é imprescindível como primeira medida de busca de sustentabilidade. Buscar a autosuficiência de forma sustentável é um ótimo norte para o planejamento. 
Toda produção EXAGERADA empobrece o solo, logo forçar o solo para produzir mais do que sua capacidade de produção é ir de encontro à lógica que se deseja alcançar. Aliás, tudo em exagero vai de encontro a qualquer estágio de equilíbrio. Toda idéia de produção exagerada e de consumo desenfreado, inclusive as vendas, são causas para a degradação ambiental das propriedades rurais e de outros ambientes. E não podemos esquecer que a degradação ambiental está estritamente relacionada com pobreza. Enquanto a pobreza tem como resultado determinados tipos de pressão ambiental, as principais causas da deterioração ininterrupta do meio ambiente são os padrões insustentáveis de consumo e produção. 
Logo, especial atenção deve ser dedicada à demanda de uso dos recursos naturais gerada pelo consumo insustentável, bem como ao uso eficiente desses recursos, coerentemente com o objetivo de reduzir ao mínimo o esgotamento desses recursos e de reduzir a poluição nas propriedades rurais. 
Portanto, conceituando consumo sustentável podemos afirmar que “É um tipo de consumo que leva em conta os limites do meio ambiente, tanto para as atuais gerações quanto para as futuras, observando a equidade entre os que consomem mais e os que consomem menos, ou seja, reduzir de quem consome muito, de modo a garantir a quem consome pouco uma vida também equilibrada e permanente”. 
Imagine que para manter nossa subsistência, ou melhor, para manter nosso corpo funcionando como se fossemos uma máquina térmica, consumiríamos energia equivalente a uma lâmpada de 150 watts diariamente (energia para existir como ser humano). Isto apenas para manter o funcionamento interno, agora para manter nossas necessidades EXTRA-SOMÁTICAS, ou seja, em tudo aquilo que chamamos de metabolismo cultural (necessidades modernas, de mídia), isso nos leva a um consumo, da ordem de 8.000 watts, aproximadamente em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, este consumo é equivalente a 25.000 watts. Diante desta lógica posso me perguntar: Se preciso de 150 watts para suprir minhas necessidades básicas, como e quando eu consumo o restante, tomando como referência os 8.000 watts? Verdadeiramente preciso de toda esta energia? Para tornar uma família mais sustentável precisa-se urgentemente mudar o estilo de vida. Em todas as áreas da propriedade, tem-se que repensar as atitudes de consumo e de produção. E vale lembrar que muitos dos bens de consumo que adquirimos para manter o consumo de 8.000 watts, em menos de 06 meses a maioria destes bens irão parar no lixo, por estar fora de moda ou por já ter se danificado, necessitando comprar outro de um novo modelo e da moda (obsolescência programada). 

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