Produção de trigo deverá ter crescimento 
  
  
  
    
 
Paulo Kurtz
       
    
    
   
A área de trigo no Brasil deverá crescer 5,9% em relação ao ano 
passado, mas o incremento na produção deverá chegar a 19,6% (CONAB, maio
 2013). A estimativa considera um possível aumento no rendimento médio 
das lavouras depois da quebra de 30% na última safra. Clima e preço 
favoráveis constroem o cenário positivo da triticultura em 2013.
Nesta safra, o Brasil deverá retomar a média histórica de 
produção de trigo, entre 5 e 6 milhões de toneladas. Segundo 
levantamentos de intenção de plantio, a área que começou a ser semeada 
em abril e se estende até julho deverá contar com pouco mais de 2 
milhões de hectares (ha), apontando crescimento da área semeada nos 
estados do Paraná (+10,5% com 897 mil ha), Minas Gerais (+10,2% com 23,7
 mil ha), Santa Catarina (+5% com 66,6 mil ha), Goiás (+4,5% com 9,4 mil
 ha) e Rio Grande do Sul (+3,8% com 1.027 mil ha). O rendimento médio 
esperado sobe de 2.260 kg/ha em 2012 para 2.700 kg/ha em 2013.
Em SC, o crescimento deverá ser acompanhado de maior investimento
 pelo produtor. A razão apontada pela economista da Epagri, Márcia 
Cunha, é o bom preço do cereal no início dos plantios de inverno. “Em 
algumas regiões encontramos novos silos em construção destinados ao 
armazenamento do trigo. Mas ainda é cedo para projeções, pois tudo pode 
mudar em função dos preços dos insumos e da cotação do cereal”, avalia 
Márcia Cunha.
De acordo com a Embrapa Trigo, o ganho genético nas lavouras de trigo
 tem sido de 50 kg/ha ao ano, refletindo nas lavouras que passaram de 
2.000 para 2.500 kg/ha na última década, exceto em anos de frustrações 
climáticas como 2003, 2006 e 2012. Hoje, o produtor dispõe de mais de 
106 cultivares de trigo (com sementes disponíveis no mercado e 
registradas no MAPA) para cultivo nas em três regiões tritícolas e 
adaptadas às mais diversas realidades e padrões tecnológicos. Conforme o
 pesquisador Pedro Luiz Scheeren, “a pesquisa está oferecendo o que 
existe de melhor em termos de genética. O produtor está cada vez mais 
profissional na condução da lavoura. Neste cenário, eu acredito que, nos
 próximos dez anos, o Brasil será competitivo no mercado internacional 
de trigo. O mundo olha para nós com especial atenção, pois sabe do nosso
 potencial de crescimento e inovação”.      
Clima
O clima que prejudicou o trigo na última safra não deverá se repetir 
neste ano. Segundo o agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto 
Cunha, a tendência, em função dos grandes indicadores globais, é de uma 
condição climática normal em 2013. As chances de El Niño, trazendo 
excesso de chuva na primavera, são baixas. Este cenário  indica menor 
incidência de doenças e melhor qualidade do produto colhido. Contudo, o 
pesquisador ressalta que, mesmo não sendo possível prever como será o 
tempo na época de colheita e quando exatamente ocorrerão as geadas, 
principais intempéries que representam riscos à cultura, “a antecipação 
de que não deveremos ter El Niño nessa safra é uma boa notícia para os 
triticultores do sul do Brasil”, e recomenda: “o produtor deve seguir o 
zoneamento agrícola, fazer escalonamento de semeadura com diferentes 
cultivares, investir em adubação e tratamento fúngicos conforme 
necessidade, enfim, zelar pelo manejo da lavoura do começo ao fim da 
safra”, orienta Cunha.
Outra recomendação da pesquisa ao produtor é semear apenas o que 
terá capacidade de colher: “se eu posso plantar 50 hectares por dia, é 
porque minha capacidade é para colher 50 hectares num único dia. O que 
acontece, muitas vezes, é que o trigo é plantado todo num dia, mas a 
colheita pode levar até uma semana. O cereal fica pronto para colher, 
mas acaba estragando enquanto espera na lavoura”, alerta o pesquisador 
Pedro Scheeren.
Preços
Em 2012, a redução da produção mundial e a queda de rendimento e 
de qualidade do trigo no RS resultaram em pressão positiva sobre os 
preços, ultrapassando R$700,00/t. Fatores como o consumo (681,0 milhões 
de t) maior que a produção (653,6 milhões de t), resultaram em uma 
relação estoque/consumo de 26%, a menor observada nos últimos três anos,
 e, juntamente ao aumento de preços de milho e soja e restrições de 
exportações em alguns países, impulsionaram os preços no final de 2012. 
“Os preços internos têm forte influência dos preços do mercado 
internacional, seguindo um padrão de evolução de comportamento 
semelhante, com algumas exceções pontuais, principalmente, em 
decorrência de problemas de frustração de safra”, explica a pesquisadora
 da Embrapa Trigo, Cláudia De Mori.
No entanto, o cenário mostra-se favorável à recuperação da oferta
 global, com ampliação da área semeada em países da União Europeia, 
Rússia, Ucrânia, Cazaquistão e Canadá. Também está previsto o retorno 
aos rendimentos normais na Rússia e na Ucrânia que sofreram com a seca 
no ano passado, embora um aumento de consumo dificulte a recomposição 
dos estoques.
A primeira estimativa da FAO para a produção mundial de trigo em 2013
 é de 695 milhões de toneladas, o que representa 35,4 milhões de 
toneladas acima da safra 2012 e a segunda maior safra no registro. 
Porém, o consumo mundial tem apresentado crescimento de 2,1% ao ano, 
enquanto a produção tem crescido 1,54%. Some-se, ainda, a demanda 
crescente do uso do trigo na alimentação animal (impulsionado pelo 
balanço de oferta e demanda do milho) e na produção de biocombustível 
(tendência na Europa pela perda de mercados de exportação de trigo para 
os países do Mar Negro), além do mercado interno na China que está 
aquecido, são fatores que poderão influenciar a curva de preços.
 A redução de rendimento nas lavouras americanas, pelas adversidades 
enfrentadas pelos cultivos de inverno e a ocorrência de chuvas e 
alagamentos em algumas áreas que poderão refletir na qualidade, os 
possíveis problemas de qualidade na Ucrânia (especula-se que metade 
possa ter destino forrageiro) e as chuvas excessivas na Europa Ocidental
 têm mantido as cotações do cereal firmes nos últimos meses.
No mercado interno, a relação estoque/consumo estimada para a safra 
2013/2014 é baixa, na ordem 6,3%, o que poderá neutralizar efeitos de 
queda de preços no mercado internacional em decorrência da maior oferta 
prevista. Apesar das estimativas de aumento de produção global, da 
isenção da TEC e importação de trigo americano, e dos leilões da CONAB 
ocorridos em maio, os preços internos têm se mantido firmes. O preço 
médio no RS, no mês de maio, de R$30,75/saca 60 kg, é 28,1% superior ao 
valor médio de maio de 2012 e, no PR, a cotação de R$38,39/saca de 60 
kg, é 49,6% superior ao registrado em maio de 2012. No mercado 
internacional, as cotações observadas na última quinzena de maio, para 
entrega em dezembro, foram de US$264,80/t FOB em Chicago, US$ 276,66/t 
FOB em Kansas e US$275,85/t FOB na Argentina.
“É importante lembrar que além dos fatores tradicionais, como 
produção, consumo, estoques e comércio internacional, que exercem 
influência na formação de preços, os aspectos relacionados à qualidade 
tecnológica do cereal também condicionam a definição de preço do produto
 e devem ser considerados, assim como a implementação de formas de 
interação comercial com os elos industriais com especificação de produto
 fim”, conclui De Mori.
Joseani M. Antunes (MTb 9693/RS )
Embrapa Trigo