As secas, São José e a omissão dos governos
O que
existe é uma empulhação pelos políticos e pela mídia; ambos vivem da
permanência ou ocorrência das tragédias; muito longe do bem-estar das
pessoas que convivem com estas mesmas tragédias no dia a dia.
A
água é questão de vida. Ela possibilita a vida dos seres vivos. Por
aqui pelo Semiárido recebemos a água através das chuvas tão esperadas em
cada período anual. O problema é que estão cada vez mais escassas.
Dia
19 de março, dia de São José passou e pouca ou nenhuma chuva nos
rincões do Semiárido brasileiro! A despeito dessa data festiva as
emissoras de TV trataram de levar ao ar reportagens tratando do tema. As
reportagens que vi na TV fizeram uma ligação entre o dia de São José e a
questão da seca a qual estamos a vivenciar, novamente, nos últimos
anos.
Nelas
o telespectador pôde assistir referências a esse fenômeno da natureza
como causador de desastres, pelo que apresentaram agricultores desolados
lamentando o fato de não poderem plantar e criar seus rebanhos. Como
esperança de dias melhores, trouxeram às telas fiéis rogando pela
interseção de São José para que mande chuva pros nossos campos.
Paradoxalmente,
vimos os céus despejarem chuvas torrenciais no Sudeste brasileiro,
levando casas e pessoas morros abaixo. Notem que os fenômenos, seca e
chuvas em demasia repetem-se sazonalmente causando calamidade pública
aqui e lá. Se São José é o santo que manda chuvas, na certa os fiéis do
Sudeste estão rezando para não mandar mais. São José enlouquece com
tanto barulho, não acham?
A seca sempre vem e faz grandes estragos para o sertanejo e traz grandes benefícios para os políticos.
Deus e as televisões
Sou
daqueles que entende que não devemos nos desligar do plano espiritual.
Se acreditamos é porque temos fé; devemos nos valer desse valioso
instrumento que ajuda a atravessar nossos dias aqui na terra, desde que
não nos aliene do plano material.
Com
certeza, nesse dia 19 de março celebrou-se em diversos municípios do
Semiárido brasileiro o dia de São José, eleito padroeiro da comunidade.
Acho pouco provável que os fiéis tenham ouvido dos seus líderes
espirituais, além do trivial “que é preciso ter fé”, ou ”que é preciso
rezar”, algo mais sólido como “é preciso agir com vistas a que estejamos
mais tranquilos nos próximos períodos de seca prolongada”.
Eles,
padres e pastores, raras exceções e com medo de perder fiéis, não
informam a existência de tecnologias simples, mais baratas, democráticas
e eficientes que possibilitem a plena convivência do homem nas regiões
semiáridas brasileiras. Não informam que tais tecnologias devem ser
urgentemente objeto de políticas de Estado. Esqueceram a máxima de que
“nem só de reza vive o homem”. Quanto muito, ostentando alienação,
lembram apenas a atual transposição do rio São Francisco! Muito
estranho...
Igualmente,
não ouvimos isso nos noticiários mais assistidos veiculados desde o dia
19, tratando de São José e da seca. Para piorar, prestando um
desserviço à humanidade, ouvimos relatos lamúrias, desolação, falta de
esperança. Nossa!
Pé na terra
A
respeito disso, alguém ouviu pronunciamento de algum governante seja
ele das esferas municipal, estadual ou federal, tratando de programas
para convivência com as secas, com propostas duradouras e até mesmo
permanentes? Qual é o Partido político que tem, em seus programas,
posição clara sobre a questão do Semiárido brasileiro e orienta seus
agentes para fazer valer o programa junto às instâncias de governo?
Nenhum! O Nordeste é apenas um celeiro de votos fáceis a serem semeados
em uma tragédia e colhidos na próxima.
Nós,
do Semiárido estamos abandonados, sem líderes políticos, sem líderes
espirituais, sem autoridades sérias em Brasília, que nos façam sair da
alienação a que nos submeteram durante séculos. O que vemos é um magote
de fiéis rezando e se lamentando, desesperançados, abandonando seus
roçados, suas terras queimadas. E os governos, aproveitam-se desse
estado de desolação do povo, acalentada pela fé cega e pela ignorância,
fazem vista grossa a um fenômeno que atualmente é objeto de calamidade
pública, mas tem tudo para deixar de ser.
Nem
tudo está perdido! Vejo que as organizações da sociedade civil como a
Articulação do Semiárido, alguns órgãos do governo como a EMBRAPA, INSA
etc. e todos aqueles que têm um novo olhar sobre essa região têm o
desafio de massificar a divulgação e implantação dessas novas
tecnologias. É imperioso fazer com que o homem simples perceba que ele
tem outro recurso além da fé para tornar a vida menos desolada: conhecer
e implantar as tecnologias atuais para convivência sustentável no
Semiárido. É urgente, também, atuar para que sejam efetivadas através de
políticas públicas a serem levadas a cabo pelos governos municipais,
estaduais e federal.
NOTA DO BLOG: Excelente matéria. A mais pura realidade.
Pedro Reginaldo Gomes - advogado,
ovinocultor em Picuí (PB), 20 de Março de 2013.
ovinocultor em Picuí (PB), 20 de Março de 2013.
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