segunda-feira, 17 de junho de 2013

Madame Kirchner acordou em Pernambuco



Enfrentar o clima rude, o solo áspero, a morte em cada crise, a decadência rural, as vantagens urbanas - tudo isso é fácil, mas difícil é lutar contra o próprio governo quando insiste em ser pior do que o clima e o solo, tirando do sertanejo o pouco que lhe subsiste. 
Madame Kirchner - Sempre houve pecuária na Argentina. Em 1866 nascia a Sociedade Rural Argentina (SRA), com o lema: “cultivar o solo é servir à Pátria” - refrão de gente séria. Em 1875 já acontecia a primeira Exposição organizada pela Sociedade Rural Argentina, enchendo os cidadãos de orgulho. Em 1880 foi introduzido o gado Holstein, o melhor do planeta. Em 1920 entraram as raças Friburgo, Flamenco, etc. Em 1924, a Sociedade Rural Argentina adotou o nome “Holando-Argentino” para as misturas de várias origens, tentando acertar o rumo. Eram iniciativas erradas, pois contrariavam o solo e o clima. Então, surgiram os carrapatos. Depois de algumas epidemias que arrasaram a pecuária, a Argentina descobriu o Brasil, ou melhor, descobriu o Zebu Brasileiro. Fez algumas importações e acabou salvando parte do gado. Descobriu, assim, que cada solo tem o gado que merece.
A seguir, tendo assumido o solo (coisa que os governos nordestinos ainda não fizeram, mas os sertanejos já - e sofrem por isso), a Argentina deu um salto, passando a ser considerada a “Europa latina”. Viveu muito bem por um período. Ultimamente, porém, sucumbiu diante de governos melífluos e populistas, que persistem no cargo até hoje, promovendo uma derrocada no setor rural. O “modelo ruralista” da América do Sul está em frangalhos por conta de maus governantes que distribuem esmolas às pessoas, comprando seus votos, ao invés de estimular o trabalho e a produção.
É o “adeus à produção e viva a inércia do cidadão” - exatamente como acontece no Brasil moderno. Quando políticos resolvem ser ditadores, usando a democracia para destruí-la, os desastres vão se acumulando e o prato do povo vai se esvaziando - é sempre assim. O rebanho argentino já foi de 61,0 milhões de cabeças. Caiu para 57,6 milhões (2008), chegando a 48,95 milhões (2012), por erro governamental, por ter desprezado os pecuaristas e o próprio solo. Agora, a Madame Kirchner vai gastar pelo menos 12 anos para a recuperação do campo. Azar do povo, claro! Enquanto isso, a Madame trata de botar a culpa nos pecuaristas, claro!
A Sociedade Rural berrou, berrou (e continua berrando) e a Madame não gostou. Resolveu mostrar que é durona, a dona do cangaço de lá. Em 2012, determinou a expropriação do prédio onde está a Sociedade Rural Argentina, dentro do Parque de Exposições de Palermo. Ora, o Parque está lá há mais de 100 anos! Trata-se, então, de um gesto claramente ditatorial e de escárnio, deixando claro que “quem manda na casa é ela”. Ora, Palermo é uma das exposições mais conhecidas do planeta por conta do esforço permanente da Sociedade Rural.
O governo da Madame nunca prestara, mas entrou em queda livre desde 2006, quando disse que iria proteger a mesa do cidadão. Pretendia trocar a imagem do bife no prato por votos eleitoreiros. Politizava assim o preço da carne. Depois, aumentou os impostos para 27,5%, um absurdo a mais na direção do desastre! Os pecuaristas, que nunca conseguiram assinar um acordo com São Pedro, também perderam a briga com a Madame e a imprensa comprada. Agora sobra Seca e a Ditadura no costado do fazendeiro argentino que já foi um dos mais eficientes do planeta.
A Argentina despencou de terceiro maior exportador (2005) para um modesto undécimo lugar (2012). O quilo subiu 44% para o cidadão e, em 2012, chegou a 167% - enquanto o gado era dizimado. Muitos pecuaristas migraram para a agricultura da soja, mais sólida e sem tanta pressão governamental. Quase igual ao que acontece no Brasil.
Foram perdidos 7.000 empregos na pecuária e mais 7.000 serão perdidos em 2013. Foram fechadas 120 fábricas, perdendo-se mais 13.200 empregos. Fecharam 20 frigoríficos e outros 12 estão fechando. No geral, a capacidade ociosa é de 40%. Belo desastre argentino!
Governos populistas sempre terminam assim: praticam gestos de “lesa-pátria” e não são punidos, inventam desculpas na imprensa aliciada; colocam a culpa naqueles que trabalham duramente para continuarem apenas vivos no negócio.
A Argentina é o melhor exemplo da vez. Se tivessem escutado a voz da Sociedade Rural, os argentinos teriam bife na mesa e cordeiros no campo. O povo é levado a esquecer que uma grande nação é alicerçada no setor rural, como os Estados Unidos e todo país sério. Quando um governo tenta derrubar o setor rural (Cuba, Venezuela, Argentina, etc.) dá com os burros n´água e quem paga a conta é o cidadão simplório.

O caso pernambucano - Não satisfeita com o desastre argentino, a Madame Kirchner resolveu, agora, acordar em Pernambuco. O governador está querendo tirar proveito político da área onde está o famoso Parque de Exposições do Cordeiro, onde acontece a famosa Exposição Nordestina há muitas décadas. Outros Governos já tentaram derrubar a Sociedade Rural Nordestina. Um deles loteou o recinto com favelados e sem-tetos, durante uma Exposição Nacional. A revista “Agropecuária Tropical” publicou uma reportagem que ficou famosa, mostrando a “A Feira dos Mangaios”, uma doidice governamental. Ditadura dá nisso!
Agora, sem consultar qualquer pecuarista, ou economista rural, o governador resolve rebentar uma tradição secular de Pernambuco, na calada da noite. “Nada foi comunicado à Sociedade Rural, nada foi solicitado e, para piorar, o Estado está mergulhado numa pavorosa seca. Só mesmo a Madame Kirchner poderia querer uma medida tão drástica, sem motivo e sem nexo. Esta é a pior seca dos últimos 40 anos. A produção de leite caiu de 2,2 milhões litros/dia para 800 mil. O setor rural combalido precisa de toda a ajuda possível, para manter a criação e aplacar os prejuízos e eis que o governo resolve gastar uma montanha de dinheiro para ajudar os que vivem da cidade, ou seja, para agradar os eleitores de uma única cidade. Tenta destruir uma atividade econômica para lucrar alguns votos em Recife, maior celeiro eleitoral de Pernambuco. É um crime de lesa-pátria.
Madame Kirchner inspirou o governador pernambucano, assim como Cuba inspirou Bolívia, Venezuela e outras republiquetas que navegam de mal a pior.
Em Goiânia - Também em Goiânia, capital de Goiás, o Governo quis (e continua querendo) assumir a área onde está o famoso Parque da SGPA. O Governo está certo, e os agropecuaristas concordam, mas ainda não chegaram a um acordo. Democracia é isso: diálogo; nada de usar a força!
O Governo de Goiás ofereceu tudo: fez maquete e projetos com o seguinte:
a) uma área maior que a atual, mas fora da cidade;
b) um metrô especialmente construído para levar o povo até o novo Parque;
c) infraestrutura muito mais moderna, em comum acordo com a SGPA;
d) aeroporto e heliporto à disposição dos agropecuaristas;
e) centro de convenções no recinto;
e) garantia de que seria o melhor parque do Brasil; etc.
f) participação maciça do governo para viabilizar a primeira exposição no novo recinto.
Mesmo oferecendo tantas compensações, os pecuaristas de Goiânia ainda não aceitaram e continuam com o famoso Parque, no centro da capital de Goiás, atravancando o trânsito nos dias de festa.
A tradição tem peso, não pode ser vencida com gestos de ditadores. Se os goianos não aceitaram tudo que foi oferecido, por que os pernambucanos estão sendo massacrados a troco de nada? O povo goiano sabe o valor de seu setor rural, da produção rural. Um dia, o parque de Goiânia irá sair da cidade, claro! - mas com apoio total da classe rural. Parabéns à democracia em Goiás.
Voltando a Pernambuco - Várias tentativas de diálogo foram tentadas junto do governo, mas nada foi adiante. Em dezembro de 2011, a Sociedade apresentou uma carta relatando as carências mais urgentes do Parque, em busca de soluções que pudessem trazer melhores condições de trabalho aos criadores e ao público visitante.
“Há dois anos estamos aguardando uma resposta que nunca veio. Este local tem sido modelo para o país, onde os criadores encontram apoio e têm a possibilidade de discutir avanços no setor agropecuário, além de também encontrar espaço para expor e vender seus animais” - comenta o presidente da ACP, Manassés de Melo Rodrigues. Warner Silva, diretor da ACP, acusa: “Não entendemos porque, justo num momento tão difícil, quando todo apoio é mais do que necessário, estão pensando em fechar portas da atividade”.
Construir uma praça de lazer para os recifenses? Ora, o Parque do Cordeiro pode propiciar esse lazer, pode compartilhar com o povo, com parceria do Estado, sem desmantelar a estrutura que é o ponto de convergência de uma importante atividade econômica do Estado. Ao invés de destruir o Parque, bastaria somar uma área de lazer compatível.
Golpe no escuro - “A necessidade mais urgente é o apoio aos criadores. Queremos e devemos ser ouvidos. Ficamos surpresos e estamos sem entender porque não fomos consultados a respeito. Então, vão mesmo tirar o nosso maior apoio no pior momento que a agropecuária está vivendo? Toda a classe agropecuária pernambucana está surpresa” - finaliza o presidente da ACP.
Gidalte Magalhães, presidente da APECCO-Associação Pernambucana de Criadores de Caprinos e Ovinos, realça: “solicitamos que o Governo do Estado construísse um novo parque em São Lourenço da Mata, ao lado da cidade da copa (o governo tem área para isto), mas não tivemos sucesso em nosso pleito”.
Emanuel Rocha, vice-presidente da ACP lembra: “São R$ 26 milhões que poderiam ser empregados para a ajuda que o setor tanto precisa, com extrema urgência e de fundamental importância para Pernambuco”.
Argentina x Pernambuco - A peça burlesca está mais parecida com Kirchner do que com Goiânia: mais um gesto de ditadura num Brasil que está acumulando gestos e gestos similares sem as devidas punições. Cabe a última reflexão: “nas repúblicas das bananas e na terra de Pindorama nada é feito de graça. Se esta mudança nefasta está sendo feita no escuro é porque alguém está auferindo bons lucros. Quem será”?
Kirchner fechou jornais e televisões para somente levar ao público o que ela bem quiser, como acontece no início de qualquer ditadura. Será que Pernambuco já começa a trilhar o mesmo caminho? Afinal, o Nordeste está amargando a Transposição, já chegando aos R$ 8,0 bilhões, dinheiro suficiente que poderia quase solucionar, de vez, os problemas dos sertanejos, sem explodir uma única dinamite nas caatingas. A Transposição tinha dois objetivos: eleger o sucessor de Lula e prestigiar cartéis de agroindústria. Água para o povo? Ora, o povo!
O povo nordestino precisa de governos fortes, que façam coisas fortes, para fortalecer a produção, pois atrás dela estão os empregos e o bem-estar das pessoas. Trocar obras por votos, ou apenas para aliciar a opinião pública, é um crime de nações pequenas comandadas por gente miúda. O Brasil precisa de grandeza; o Nordeste, muito mais, segundo inspirava Celso Furtado e tantos pensadores.

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