Essa oleaginosa já é uma velha conhecida da região, utilizada tradicionalmente na confecção de doces caseiros. O cultivo, no entanto, estava praticamente restrito aos fundos de quintais, sem aproveitamento do seu potencial econômico.
A planta tem sido uma aposta da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a região, por uma conjunção de diversos fatores. O principal deles é a grande adaptação dessa cultura às condições de clima e de solo, que são historicamente os maiores limitantes da atividade agrícola no Semiárido. Além disso, é também adequada à cultura local, facilitando a aceitação por parte dos produtores.
Na propriedade do agricultor Antonio Gessildo de Oliveira, no município de Lucrécia (RN), o gergelim sequer tinha espaço entre os cultivos de milho, feijão, sorgo e girassol. Com o incentivo da Embrapa ele começou a plantar gergelim orgânico, em 2011, inicialmente em uma pequena área de 50m². Animado com os bons resultados da primeira produção, aumentou a área para 1,5 hectare, de onde tirou mais de uma tonelada em apenas uma safra. Ele conta que, em pouco tempo, já conseguiu melhorar a renda e a qualidade de vida da família, e o gergelim se tornou sua prioridade de cultivo.
Outro benefício que o agricultor e sua família também estão experimentando é a redução da insegurança alimentar, com a inserção de um produto com alto valor nutricional em sua dieta. Gessildo está satisfeito com os novos hábitos alimentares da casa: “Substituímos o óleo de soja pelo de gergelim, que é orgânico e mais saudável, e usamos também o tahini (pasta de gergelim), no lugar da manteiga, para passar no pão”.
Processamento – Como forma de incentivar o consumo e de agregar valor ao produto, a Embrapa tem oferecido aos agricultores cursos para processamento do gergelim, com o viés do aproveitamento alimentar e agroindustrial. Em todas as localidades atendidas pelos projetos da empresa, nos estados do Piauí e do Rio Grande do Norte, foram instaladas pequenas agroindústrias para extrair o óleo nas próprias comunidades.
Uma das comunidades, localizada no município de São Francisco de Assis do Piauí (PI), percebeu o grande potencial do produto e almeja conquistas mais ousadas: já tem certificação orgânica para suas sementes, agora está buscando a certificação do óleo de gergelim orgânico.
Além da extração do óleo, o resíduo da prensagem do gergelim também é aproveitado para a fabricação de diversos coprodutos, como biscoitos, doces, cocadas e bolos. “Nas capacitações que damos aos agricultores, buscamos valorizar as tradições de cada local, aproveitando e adaptando as receitas que eles já utilizam. À medida que a comunidade vai avançando, também passamos a trabalhar com produtos mais elaborados”, destaca Ayice Chaves Silva, técnico agroindustrial da Embrapa Algodão (Campina Grande, PB).
“A vantagem é que o mesmo gergelim que o agricultor planta e colhe para fazer seu doce, também é consumido na Europa, EUA, no Japão, na China, Coreia e em vários lugares do mundo. Então ele pode vender tanto na bodega ou na feira local, como também pode exportar”, observa Silva. Além disso, existe uma demanda internacional por alimentos funcionais, por produtos da agricultura orgânica e com apelo social de geração de trabalho e renda para produtores familiares.
O tema gergelim orgânico foi discutido em uma mesa redonda, no workshop “Agrobiodiversidade e Agroecologia no Nordeste”, durante a qual foram apresentadas as experiências de agricultores familiares do Piauí e do alto sertão paraibano. O workshop, organizado pela Embrapa, segue até o dia 17 de maio, em Petrolina (PE).
Fernanda Birolo – Jornalista (0081DRT/AC)
Embrapa Semiárido
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