"O controle e a prevenção das doenças infecciosas dos recém-nascidos começam pelo bom estado fisiológico e sanitário da vaca prenha."
Para atingir "tal estado", precisamos dar bastante atenção aos detalhes apresentados a seguir:
Oferecer pasto de boa qualidade e transferir após o parto mãe/filho, para uma invernada previamente preparada (pasto-creche), após a relação materno-filial estar bem estabelecida (o que ocorre no segundo ou terceiro dia de vida), mostra ser um manejo adequado no gado de corte.
Um esquema de vacinação estratégico com aplicação de vermífugos de amplo espectro, pouco antes do parto, deverá diminuir a carga parasitária do rebanho de cria. A vacinação da vaca antes do parto estimula a produção de anticorpos específicos (defesa do organismo), que são, então, transferidos para o filho, através colostro, tornando-o mais resistente.
As Infecções NeonataisOferecer pasto de boa qualidade e transferir após o parto mãe/filho, para uma invernada previamente preparada (pasto-creche), após a relação materno-filial estar bem estabelecida (o que ocorre no segundo ou terceiro dia de vida), mostra ser um manejo adequado no gado de corte.
Um esquema de vacinação estratégico com aplicação de vermífugos de amplo espectro, pouco antes do parto, deverá diminuir a carga parasitária do rebanho de cria. A vacinação da vaca antes do parto estimula a produção de anticorpos específicos (defesa do organismo), que são, então, transferidos para o filho, através colostro, tornando-o mais resistente.
Em bovinos, as infecções neonatais mais comuns são as septicemias causadas por Escherichia coli, Listeria monocytogenes, Pasteurella spp., Estreptococcus ou Salmonella spp.; enterites por Clostridium perfringens tipos A, B e C; doenças do trato respiratório provocadas pelo virus da rinotraqueite infecciosa bovina; enterites provocadas por rotavirus e leucose.
Os recém-nascidos são sensíveis às infecções porque nascem com níveis baixíssimos de células de defesa (gamaglobulinas), sendo essas fornecidas no momento da ingestão do colostro, quando absorvem quantidades suficientes de lactoglobulinas. O sistema de defesa do recém-nascido é menos maduro não respondendo eficazmente ao antígeno para produzir anticorpos como o animal adulto.
A vacinação nesta faixa etária é dispensável para animais que ingeriram colostro, pois o sistema imunológico do terneiro perde parte da capacidade de produzir anticorpos humorais (anticorpos produzidos no organismo por exposição a um antígeno - substância estranha ao organismo) porque estes são inibidos pelos anticorpos circulante do colostro.
Transferência passiva da imunidade
A transferência de imunoglobulina pela placenta não ocorre normalmente em terneiros. Em um animal recém-nascido, que não ingeriu colostro, se encontrarmos anticorpos, estes foram produzidos pelo sistema imunitário do feto que inicia a produção contra alguns vírus aos 90-120 dias de vida fetal.
Após a ingestão do colostro, as imunoglobulinas são absorvidas no intestino delgado (micropinocitose) no interior das células cilíndricas do epitélio. A absorção continua até 24 horas após o nascimento, mas o ponto máximo de absorção é atingida entre 6-8 horas. Se houver demora para ingerir o colostro, a absorção das globulinas será prolongada. Quanto maior o volume ingerido menor será o período de absorção. Sendo isso importante porque bloqueia a entrada de agentes patogênicos no epitélio intestinal.
Em bovinos, com as sucessivas parições, há aumento do volume do colostro e da concentração de imunoglobulinas, assim terneiros nascidos de novilhas podem não apresentar níveis de imunoglobulinas iguais aos nascidos de vacas adultas.
Fatores que levam a ingestão insuficiente de colostro pelo recém-nascido
Comportamento maternal inadequado que impede o terneiro de mamar;
Configuração defeituosa do úbere e/ou tetas;
Fraqueza do terneiro após parto difícil ou doença deste, impossibilitando a mamada;
Movimentação inadequada da vaca no momento ou logo após o parto.
Declínio da imunidade passiva
Os níveis de anticorpos da imunidade passiva caem rapidamente após o nascimento e, normalmente, desaparecem em torno do 6° mês de vida.
Porta de Entrada Para as Infecções Neonatais
Normalmente o desenvolvimento de infecção neonatal é uma septicemia, com reação sistêmica grave, com pouco ou nenhum sinal do organismo, para depois haver localização do agente agressor em vários órgãos.
A principal via de entrada dos microorganismos patogênicos é, em primeiro lugar, onfalógena (via umbilical) e, em outros casos, por via digestiva, produzindo nos dois uma septicemia que pode acabar originando uma poliartrite e abcessos com múltiplas localizações no organismo.
Para visualizar a porta de entrada mais comum dessas infecções (umbigo), o exame clínico deve ser meticuloso. Instalada a inflamação local no umbigo - onfalite - a infecção pode estender-se acometendo o fígado ou a vesícula urinária, via úraco, e resultar em enfermidade crônica subclinica ou generalizar-se e ocasionar septicemia.
Terapeutica das Infecções dos Neonatos
Atualmente, pode-se fazer avaliação laboratorial da suscetibilidade do recém-nascido à doenças infecciosas, com dosagens das imunoglobulinas no sangue, no fluido intestinal e das secreções mamarias, inclusive com separação posterior das imunoglobulinas em subclasses. O sangue pós-colostro é colhido do neonato para avaliação do nível de imunoglobulina sérica obtido do colostro, indicando se foi ingerido em tempo e em quantidades suficientes. Este procedimento auxilia, também, no prognóstico para decidir se a terapia com gamaglobulina é indicada, sendo que, esta é mais usada como profilaxia e não como tratamento curativo. O inconveniente dessa terapia é o alto custo das aplicações de gamaglobulina.
Os terneiros com níveis baixos são altamente suscetíveis à diarréia infecciosa e pneumonias, principalmente, os estabulados de rebanhos leiteiros, precisando de um manejo adequado com boas condições de higiene no local. Os animais doentes devem ser isolados e tratados com agentes antimicrobianos e uma terapia intensiva de manutenção.
O ideal é primeiro fazer o diagnóstico etiológico, para saber a que medicamento a bactéria é sensível, porém isto nem sempre é possível, então, normalmente, se escolhe um antibiótico baseado em experiências antigas.
A fluidoterapia de manutenção é, geralmente, necessária. Para animais muito fracos, faz-se transfusões de sangue (10-20 mg/Kg de peso). O doador deve ser um animal mais velho do rebanho que não esteja em gestação adiantada.
Cuidados Terapêuticos.
1- remoção da causa da enfermidade no ambiente do recém-nascido: os animais devem nascer em ambiente limpo e seco e o umbigo deve ser curado com iodo. Em ambientes contaminados se deve fazer a ligadura dos vasos umbilicais, rente ao abdômen.
2- remoção do recém-nascido do ambiente infectado, se necessário: principalmente em rebanho leiteiro, onde a concentração de animais por área é maior.
3- Aumento da resistência pelo colostro: as fêmeas prestes a parir devem ser diariamente observadas e toda a assistência deve ser dada. Após o nascimento assegurar que o terneiro ingira colostro o mais cedo possível, devendo ser um volume em torno de 5% do seu peso corpóreo nas primeiras 3-5 horas.
O colostro pode ser estocado em congelador, devendo ser colhido da mãe no prazo de 2 horas após o nascimento para assegurar o máximo da concentração de imunoglobulinas.
4- Aumento da resistência por meio de vacinações: A resistência especifica do recém-nascido pode ser reforçada pela vacinação da mãe antes do parto, para estimular a produção de anticorpos específicos, que são transferidos pelo colostro. A vacinação do recém-nascido antes dos 2 meses não é muito usada porque a resposta é ineficaz.
Considerações sobre a Poliartrite Séptica
A poliartrite é a patologia mais frequente nos terneiros neonatos, sendo provocada por vários agentes como o A. pyogenes, E. colli, Streptococcus, Salmonella, Mycoplasma, Staphylococcus e outros menos frequentes A causa principal é a falta de higiene na zona umbilical do terneiro recém-nascido e/ou uma ineficiente imunidade passiva produzida por ingestão insuficiente do colostro, por ingestão tardia passado as 12 horas de vida, ou porque este é de má qualidade.
Como foi dito anteriormente, a principal via de entrada da infecção é a via umbilical, e em alguns casos pode ser a digestiva, produzindo nos dois casos uma septicemia . Chegando, então, a articulação, via sangüínea, causando artrite.No início ocorre uma sinovite seguida por mudanças na cartilagem articular e algumas vezes no osso. A membrana sinovial fica inflamada, edematosa ocorrendo distensão da cápsula articular provocando danos e destruição da cartilagem. Isso pode acarretr uma artrose e redução dos movimentos no membro atingido.
Os sinais clínicos são: inflamação da articulação, em casos avançados crepitação audível e mobilidade reduzida, evoluindo, quando a infecção é por germes piogênicos, até formação de abcesso que terminará drenando para o exterior. Outros sinais que ocorrem são a depressão, febre, anorexia e possível comprometimento de outros órgãos
O tratamento consiste em antibioticoterapia adequada por vários dias aplicados por via parenteral. A artrite micoplasmática não responde totalmente ao tratamento e os animais afetados podem claudicar por semanas antes que ocorra melhora. O antibiótico mais indicado pode ser administrado parenteralmente e/ou por via intrarticular. A injeção articular parece ser a maneira de vencer o inadequado nível de antibiótico na articulação obtido por meio de aplicação parenteral. Uma assepsia rigorosa é necessária devendo ser feito por um veterinário.
A resposta negativa ao tratamento parenteral ou intrarticular requer abertura cirúrgica da cápsula articular e irrigação diária desta com medicamentos.
Todas essas complicações podem ser evitadas se for implantado um manejo preventivo, após o nascimento, com a fricção do umbigo do recém-nascido com tintura de iodo, para prevenir a entrada da infecção. Com esses cuidados de manejo a taxa de morbidade e a poliartrite infecciosa reduzirá drasticamente.
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