terça-feira, 5 de julho de 2011

Algaroba no tratamento da Aids

SAÚDE Pesquisador da Paraíba consegue retirar um dos componentes do coquetel a partir do pó da planta nativa

Robson Nóbrega
Especial para O NORTE

Algaroba versus Aids. Por mais estranha que pareça, a frase tem total fundamento. E é apostando nisso que o professor Manoel Ferreira Alves, doutor em Engenharia de Bioprocessos e vinculado ao Centro de Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), desenvolve uma pesquisa de extração do ácido fólico - um dos componentes do coquetel que aumenta a expectativa de vida dos pacientes - a partir de um produto (pó) obtido por meio da fermentação do caldo da vagem da algarobeira.
Nos portadores da doença, o ácido - hoje desenvolvido artificialmente no exterior e que representa um custo de importação bem alto para o Brasil - deverá reduzir significativamente os níveis de anemia sempre presentes nesses casos, fortalecendo o organismo contra enfermidades paralelas que costumam surgir em pessoas acometidas do mal, justamente pela falta de proteínas no sangue.
Por ano, o Brasil gasta algo em torno de US$ 1,2 bilhão com a compra do ácido fólico no exterior. Alguns institutos de pesquisa nacionais, a exemplo do Centro de Especialidades em Doenças Infecto-Contagiosas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), já realizam testes em humanos com o fermento extraído a partir da cana-de-açúcar, mas os resultados ficam aquém daqueles obtidos com a substância encontrada na vagem de algaroba (Prosopis juliflora). A instituição paranaense é, inclusive, pioneira na extração do fermento da cana.

Ácido poderá ajudar pessoas com altos níveis de anemia

A testagem do composto em animais com altos índices de anemia vem sendo feita na Fazenda Santa Rosa, localizada no município de Abaré, na Bahia, com excelentes resultados. O responsável por esse trabalho na localidade é o veterinário e pesquisador da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) daquele Estado, Alberto Brito Soares dos Santos, que já recuperou dezenas de animais de diferentes espécies e considera os resultados acima das expectativas.
"O fermento da algaroba deverá ser usado futuramente na constituição do coquetel por conter alto teor de ácido fólico, o que certamente proporcionará a regeneração de pessoas com níveis preocupantes de anemia, como acontece com boa parte dos portadores da Aids. A substância oriunda da algaroba enriquece muito mais o coquetel que o de cana-de-açúcar, justamente por sua alta concentração proteica", garante o professor Manoel Ferreira Alves.
Sua pesquisa, sob o título de 'Produção de Fermento Biológico a partir da Vagem da Algarobeira', foi desenvolvida na Universidade Federal de Campina Grande. Ele conta que tudo começou em 2002, quando se constatou que o fermento poderia ser utilizado como alimento na fabricação de pão e também na produção de bebidas como aguardente, cerveja, vinho e o próprio álcool. "A algaroba contém altos teores de proteínas e aminoácidos, precursores da formação do ácido fólico, o que não foi observado em nenhuma outra planta do semi-árido nordestino", completa.
Ele acrescenta que vários outros estudos feitos com fermentos da algaroba obtiveram resultados animadores. Além da aguardente, do vinho e do álcool, os pesquisadores elaboraram mel, farinha, café, ração para animais. A vantagem é que esses fermentos que entraram na composição dos produtos têm rendimento muito superior aos fermentos comerciais usados atualmente na agroindústria sucroalcooleira.
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Uso da planta enfrenta restrições

ALGAROBA Considerada valiosa como medicamento em outros países, por aqui ela é vista como “invasora” do solo

Apesar de todas essas vantagens apontadas pelo pesquisador paraibano e ratificadas por especialistas de outras partes do País, o uso da algaroba enfrenta sérias restrições. Aliás, o Brasil é a única nação da América do Sul onde isso acontece. O professor Manoel Ferreira Alves entende que a planta como um todo constitui uma nova alternativa biotecnológica na solução de importantes problemas nutricionais e de saúde da população.
"Nos demais países sul-americanos, a algaroba é tratada como uma matéria-prima de grande valor econômico que tem infinitas aplicações, sem contar com a sua contribuição em termos de reflorestamento e com o meio ambiente", lembra. E vai mais além. "A vagem da algaroba, fruto da algarobeira, ao contrário do que muitos pensam, embora seja uma planta nativa de outros países (o Peru, em particular), é uma matéria-prima com amplas possibilidades de aproveitamento devido ao seu potencial bioenergético", observa.
Os 'problemas' gerados pela algarobeira, segundo seus 'opositores', começam no adensamento e por isso ela é considerada uma 'planta invasora'. O pesquisador rebate a crítica e assegura que tudo se deve à falta de um cultivo planejado e informações tecnológicas adequadas. "O adensamento das plantas de forma desordenada é uma conseqüência da falta de aplicação de técnicas de cultivo como o raleamento, que pode proporcionar o consórcio de outras culturas", explica.
Bem diferente da maioria dos estados nordestinos, a Bahia criou uma lei estadual para proteção da algarobeira. Onde essa concepção protecionista não existe, o resultado é a destruição indiscriminada da planta com o conseqüente desperdício de todo o seu potencial. "Um exemplo claro é a transformação da madeira em carvão, já que a algarobeira possui alto poder calorífico, prevalecendo assim interesses econômicos ditados por grupos empresariais e políticos", denuncia.

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