domingo, 17 de abril de 2011

A fantástica cabra sertaneja


Em todos os sertões onde andamos, nas labutas diárias da revista "O Berro", pode-se perceber que as melhores cabras, as maiores, as mais produtivas e as mais queridas do sertanejo, são as cabras multicoloridas - cada uma com identidade e estampa própria, com algum "sangue", ou muito "sangue" Anglo-Nubiano. Ou seja, é nubianizada, no duro! Repetindo Rinaldo dos Santos, digo nubianizada e não anglonubianizada, uma vez que a dureza dos sertões liquidou o "sangue anglo" e reestabeleceu o "sangue nubiano, africano". Afinal, todas as anglo-nubianas nasceram das africanas nubianas (da Núbia)! Garante Rinaldo que elas sobreviveram e convivem com as duras condições do semi-árido devido ao sangue nubiano e não ao sangue anglo! Hoje, há as linhagens britânicas, canadenses e é hora de dizer "tropicais"! Cabe ao Brasil informar ao mundo que aqui há legítimas cabras para fazer inveja a qualquer rebanho internacional.

Estou me referindo à fantástica cabra sertaneja, livre no meio das veredas, como bichos soltos nos pastos de meu Deus! Esta cabra graúda, de úberes fartos, sempre parida com um ou dois bons cabritinhos ao pé e mais outra leva no bucho. Essa é a cabra do matuto iletrado, porém sumamente letrado nas artes de bem escolher bons animais, os quais vão lhe garantir a sobrevivência. Essa cabra não come nada de especial - até porque não há nada de especial para comer nas caatingas secas nordestinas - e aí está seu segredo e vantagem. Essa cabra matuta sabe quando emprenhar e se deve, ou não, parir, de acordo com o regime das secas. Sabe alimentar bem as crias soltas no mato e ainda sobra algum leite para as crias dos sertanejos.

A raça Anglo-Nubiana, como bem indica o nome, teve sua origem nos meados do século XIX, na Grã-Bretanha. No início do século XX ela ainda era uma "mestiçona" como essas que andam soltas pelo Piauí. Basta observar as fotografias já publicadas em "O Berro", mostrando as primeiras Anglo-Nubianas importadas para o Rio de Janeiro! A história da origem da raça no mundo e no Brasil já foi exaustivamente descrita por Rinaldo dos Santos no livro "A Cabra & a Ovelha no Brasil" e na edição 47 da revista "O Berro", não cabendo nenhum conserto ou enxerto nesse assunto, pois se faz referência à cabra sertaneja, matuta, do meio do mundo.

Essa cabra que técnicos e governos chamam de SRD, querendo dizer "Sem Raça Definida", mas que bem poderia ser "Super Raça Definida", pois ela é legitimamente sertaneja - e para que melhor? O sertanejo ilustre ou iletrado chama-a de "Lubiana", "Meia-Orelha" ou apenas "Nubiana", acertando na descrição e na filogenia, empiricamente! Ela é sempre dócil, agradável, de olhar carinhoso, comportamento calmo e "traquina", estando presente em todos os sertões: desde as terras secas de Minas Gerais, passando pelos sertões de Canudos chegando ao Recôncavo Baiano; das barrancas de São Francisco ao litoral alagoano; nos sertões do Cariri, Moxotó, Pajeú, aos Inhamuns; do sertão Central Cabugi ao Açu; dos manguezais sergipanos aos semidesérticos Lençóis Maranhenses; da Zona da Mata pernambucana às matas do Pará; do Além São Francisco baiano adentrando pelo cerrado sem fim...

É notável que, cada vez mais, o sertanejo procure cabras grandes, de bons úberes, mais férteis, prolíficas e produtivas e sempre prefere as de meia-orelha. Não, não é apenas intuição!

Em todos os bons criatórios de caprinos que visitamos, é notável que todos - antes de utilizarem o Boer sobre suas cabras comuns - primeiro utilizam o Anglo-Nubiano, para produção de animais de porte grande e leite garantido e, somente então neste F1 (comum x Anglo), intoduzem o gigante Boer, visando a produção de animais com possantes carcaças para produção de carne. Exatamente como descrito pela revista "O Berro", em várias ocasiões.

A raça Anglo-Nubiana é garantidamente a raça mais utilizada no Brasil e no mundo para produção de mestiças leiteiras de grande porte - as quais produzem também um bom cabrito para venda. E também para produção de mestiços de corte, em cruzamento com raças especializadas.

Por ocasião da introdução do Boer, do Dorper, da Savanna e do Kalahari - todos ao mesmo tempo - houve uma retração no interesse sobre as cabras rústicas, mas agora, passado aquele primeiro momento, já há mais compradores do que vendedores de boas mestiças de Anglo-Nubiano - geralmente para servirem de ventres em programas de TE. Na última Exposição Nacional de Anglo-Nubiana, em Natal (RN), durante a Festa do Boi, havia compradores para Anglo-Nubianos de elite e não havia animais à venda! Todos os animais com qualidade genética superior obtiveram bons preços nas comercializações! Afinal, não se liquida um verdadeiro patrimônio genético, pois ele está firmemente fixado na alma dos criadores sertanejos, que não o substituem por modismos. O semi-árido não perdoa a prática de modismos, pois a seca sempre vem e é inimiga das invencionices humanas.

Hoje é consenso que o Piauí é a pátria da raça Anglo-Nubiana nacional, tanto nas suas linhagens leiteiras como de corte. Enfrentar uma "pista-pesada" no Piauí requer muito preparo e precisão na apresentação dos animais, pois no Estado estão representadas todas as grandes linhagens do Anglo-Nubiano nacional e mundial.

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