Citricultores ganham sistema orgânico de produção de lima ácida Tahiti
		
		
		
			   
  
 A proposta é que sirva de modelo e possa ser ajustado para outros polos
 produtivos do País, já que contempla os princípios básicos da produção 
orgânica. 
      
 Especialistas
 da Embrapa e parceiros desenvolveram mais um sistema orgânico de 
produção de frutas, o da lima ácida Tahiti, popularmente conhecida como 
limão Tahiti. O sistema orgânico
 para a produção dessa fruta, uma das principais exportadas pelo Brasil,
 foi elaborado com base nos experimentos realizados na área da empresa Bioenergia Orgânicos,
 em Lençóis, na Chapada Diamantina (BA), sendo recomendado para essa 
região, mas a proposta é que sirva de modelo e possa ser ajustado para 
outros polos produtivos do País, já que contempla os princípios básicos 
da produção orgânica.
 Os experimentos registraram produtividade 
de 30 toneladas por hectare (t/ha), no sexto ano, valor superior aos 
registros da média nacional no modo convencional, em torno de 26 t/ha. O
 número é bem superior à produtividade média do estado da Bahia, que em 
2021 ficou próxima a 12 t/ha (IBGE), o que também pode ser explicado pelo uso de irrigação no trabalho conduzido em Lençóis.
  
  
  Pesquisadora Ana Lúcia Borges fala sobre o sistema orgânico de produção para a cultura da lima-ácida Tahiti
  
 Embora
 o rendimento seja similar à média brasileira, esse resultado foi 
comemorado pela equipe de pesquisa, pois representa mais um incentivo ao
 cultivo orgânico e à sustentabilidade da agricultura brasileira. Há um 
fator que deve ser ponderado quando se compara o cultivo sob manejo 
orgânico ao convencional: a não utilização de insumos químicos 
sintéticos, os quais facilitam a produção.
 “Nosso objetivo com 
esse documento não é obter produtividades muito maiores, mas conseguir 
desempenho competitivo em relação ao pomar convencional, na base de um 
sistema orgânico, mais amigável ao meio ambiente e aos trabalhadores”, 
pontua Eduardo Girardi pesquisador da Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA), editor técnico do documento com a pesquisadora Ana Lúcia Borges.
 A publicação reúne um conjunto de informações técnicas sobre 
cultivares, produção de mudas, calagem, gessagem e adubação, implantação
 do pomar e plantio, tratos culturais, manejos da irrigação, doenças, 
nematoides e pragas, além de colheita, beneficiamento, embalagem e 
mercado. Ao todo 16 profissionais assinam o documento, entre eles 
pesquisadores da Embrapa, um fiscal agropecuário da Agência de Defesa 
Agropecuária da Bahia (Adab) e um sócio da Bioenergia Orgânicos.
 O sistema é mais um resultado do projeto Desenvolvimento de sistemas orgânicos de produção para fruteiras de clima tropical,
 conduzido em parceria desde 2011 em parceria. Esse trabalho conjunto já
 desenvolveu sistemas orgânicos de produção para abacaxi, maracujá e 
manga.
 A escolha da lima ácida Tahiti
 A
 cultura dos citros foi incluída no projeto em 2014. Girardi destaca que
 dois preceitos básicos são levados em consideração na hora de se 
implantar um sistema orgânico: ser uma região preferencialmente livre 
das principais pragas e doenças da cultura e contar com variedades ou 
espécies que sejam mais resistentes a essas ameaças fitossanitárias. E 
esse sistema alia os dois.
 “A Chapada Diamantina é livre de 
várias pragas e doenças complexas da cultura, como o HLB huanglongbing 
(HLB)e o cancro cítrico, causadas por bactérias, a morte súbita e a 
pinta-preta. Isso facilita muito o trabalho, porque implantar sistemas 
orgânicos onde existem essas doenças é muito mais desafiador. Além 
disso, entre os citros, que incluem também laranja, tangerina, limão e 
pomelo, a lima ácida Tahiti é mais resistente a algumas pragas e 
doenças. É imune, por exemplo, à leprose, causada por vírus, à mancha 
marrom e à pinta-preta, causadas por fungos e à Clorose Variegada dos 
Citros, a CVC." Ela é também menos suscetível ao cancro cítrico, por 
isso, é uma cultura mais interessante por ser mais fácil de manejar. No 
orgânico, então, facilita e muito a vida do produtor, tanto é que é uma 
das fruteiras mais utilizadas nesse sistema de produção no País.
 O
 sócio da Bioenergia Orgânicos Osvaldo Araújo, um dos autores do 
documento, acrescenta que, a partir do momento que se decidiu pela lima 
ácida Tahiti, foi adotada uma série de cuidados, já que se trata de uma 
cultura sensível ao clima e requer condições específicas para um bom 
desenvolvimento. As variações de temperaturas muito baixas ou muito 
altas podem afetar negativamente o crescimento e a produção. “A região 
da Chapada Diamantina costuma apresentar variações climáticas, com 
períodos de chuva intensa e outros secos. Foi necessário implementar um 
sistema de irrigação adequado para fornecer água de forma regular e 
controlada, sendo necessário monitorar a umidade do solo, pois tanto o 
excesso quanto a falta prejudicam o ciclo da cultura”, completa.
  
    |  Variedades avaliadas
Os
 experimentos tiveram início em julho de 2014 e seguiram até 2021, 
totalizando 1.175 plantas, com irrigação por gotejamento. O pesquisador João Roberto Oliveira,
 que conduziu as atividades, conta que foram avaliados 16 porta-enxertos
 – variedades que correspondem à parte radicular da planta de citros –, 
em sua maioria novos híbridos em desenvolvimento, em combinação com o 
clone CNPMF-02 . Trata-se da copa, parte aérea da planta de citros), 
obtido e recomendado pela Embrapa e amplamente adotado na Bahia, no 
espaçamento de plantio de 7,0 metros x 3,0 metros. “Pudemos 
verificar a importância do porta-enxerto. Em função dele, a planta se 
desenvolvia de forma diferente. Vários aspectos são analisados: tamanho 
do fruto, qualidade do fruto em relação à casca, quantidade de frutos 
por planta, desenvolvimento da copa – quanto menor, mais fácil a 
colheita –, enfim, tudo isso são fatores importantíssimos na produção, 
não só de lima ácida, mas de qualquer produto. E vimos que os 
porta-enxertos que se destacaram mais foram os citrandarins Riverside, 
Indio e San Diego, o limoeiro Rugoso Maranhão, além dos híbridos BRS 
Victoria e HTR – 010”, conta Oliveira. O documento do sistema de 
produção traz o resultado dos experimentos na Chapada Diamantina e 
também dados gerais dos porta-enxertos comerciais mais utilizados para a
 limeira ácida Tahiti no País. Os porta-enxertos devem ser adaptados às 
condições ambientais da região em que serão utilizados, tolerantes a 
doenças, e indutores de alta produtividade e qualidade de frutos. A 
publicação indica que, como não existe um único porta-enxerto capaz de 
atender completamente a todas essas condições, os pomares devem ser 
planejados de modo a diversificar os porta-enxertos, contribuindo para a
 sustentabilidade da cultura, e descreve os mais utilizados em geral 
pela citricultura brasileira.   
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 Preparo e manejo do solo
 A
 base do sucesso da produção em sistema orgânico é o preparo do solo, o 
qual deve ser manejado adequadamente, com redução do revolvimento e 
manutenção da cobertura vegetal (viva ou morta). A publicação enumera as
 principais exigências da limeira ácida Tahiti, que se adapta bem a 
diversos solos. Os mais indicados para o seu cultivo são os de textura 
franco-arenosa a franco-argilosa, com boa aeração, profundos e sem 
impedimentos de ordem física. Em Lençóis, a limeira ácida Tahiti vem 
apresentando bom desenvolvimento sob produção orgânica em uma área 
irrigada e adequadamente manejada sobre um latossolo, naturalmente muito
 pobre em nutrientes.
 Ana Lúcia Borges conta que o preparo do 
solo se iniciou quase dois anos antes de efetivamente se introduzir a 
cultura. “Primeiro fizemos a calagem e gessagem com base na análise 
química para corrigir o solo e depois entramos com as plantas 
melhoradoras, cuja finalidade é condicionar uma boa estrutura do solo e 
aumentar o teor de matéria orgânica. Implantamos coquetéis vegetais 
compostos por leguminosas, como feijão-de-porco, mucuna-preta e 
crotalária júncea, e gramíneas, como milheto e sorgo forrageiro, que 
demonstraram excelentes desenvolvimentos vegetativos”, acrescenta.
 Segundo
 a pesquisadora, um dos grandes problemas do cultivo das fruteiras 
orgânicas nesses solos pobres em nutrientes é a questão do potássio. “A 
fonte de potássio permitida no sistema orgânico, o sulfato de potássio, 
obtido por procedimentos físicos, é importada e, por isso, tem um custo 
alto. No documento, apontamos algumas alternativas de baixo custo, como 
cinzas de madeira e estercos e também as espécies vegetais, como as 
leguminosas e gramíneas. Soluções adequadas para pequenas áreas, para o 
agricultor familiar”, destaca.
 
 A importância das mudas sadias
 O
 sistema de produção preconiza que mudas sadias são fundamentais para 
que a atividade seja iniciada com pleno potencial de alcançar sucesso. 
Por esse motivo, somente mudas produzidas em ambiente protegido são 
recomendadas. As mudas podem ser adquiridas de viveiros comerciais ou 
produzidas em viveiro do próprio citricultor, como fez a Bioenergia.
 “A
 lima ácida Tahiti, desde a definição de plantar essa espécie, nos 
trouxe preocupações, pois é uma cultura muito delicada. Tivemos que 
produzir as mudas internamente em estufa com telado antiafídeo com 
orientação e supervisão dos pesquisadores da Embrapa”, complementa 
Araújo.
 Desafios fitossanitários
 O 
maior desafio para implantação de um sistema orgânico de produção é o 
controle de pragas e doenças, tendo em vista a impossibilidade de uso de
 defensivos químicos. É preciso haver o manejo da vegetação natural, o 
manejo nutricional e o monitoramento populacional constante das pragas e
 dos inimigos naturais. Nas condições de Lençóis, o primeiro problema 
fitossanitário da espécie enfrentado foram as formigas cortadeiras.
 “Testamos e validamos um produto registrado no Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa)
 para agricultura orgânica. Passamos mais de um ano testando, ajustando 
principalmente a parte de como aplicar a isca granulada à base de 
extrato natural de Tephrosia candida, matéria-prima desse produto 
biológico utilizado para controle de formigas cortadeiras. E foi um 
sucesso”, relata o pesquisador Antonio Nascimento.
 Ele
 diz que foi desenvolvida também uma calda saponificada, formada por 
álcool etílico, soda cáustica e óleo vegetal, que funcionou bem para 
diferentes pragas, não só na limeira ácida Tahiti como em outras 
culturas. O documento traz informações sobre como preparar a calda, 
ilustradas com fotos. A lima ácida Tahiti, por exemplo, é suscetível à 
ortézia, espécie de cochonilha que suga a seiva da planta, injeta 
toxinas e provoca o aparecimento da fumagina sobre folhas, frutos e 
ramos. Os frutos se tornam aguados, a planta definha e pode até morrer. A
 calda saponificada, conforme destaca o pesquisador, controlou 
adequadamente esse inseto. 
 O pesquisador salienta ainda a 
importância do monitoramento constante no controle de pragas e doenças 
no sistema orgânico. “A questão da aplicação de produtos orgânicos 
requer uma frequência maior. Em vez de aplicar de mês em mês, é preciso 
aplicar de 15 em 15 dias; em alguns casos, semanalmente”, diz 
Nascimento.
 Araújo também ressalta que manter o pomar livre de 
ataques de pragas e doenças é o maior desafio para o desenvolvimento da 
cultura. “Durante esses anos, conseguimos, com controle rígido, manter o
 pomar livre de ataques, porém em 2020 iniciou-se um ataque severo de 
alguns insetos, como ortézia, pulgão e mosca negra. Para contornar a 
situação, implantamos um programa de controle integrado, envolvendo 
medidas preventivas, como poda adequada, uso de produtos fitossanitários
 quando necessário e monitoramento regular do pomar.”
 O sistema 
de produção traz informações sobre as principais pragas e doenças da 
cultura, não só as identificadas na região da Chapada Diamantina, e suas
 formas de controle. Há também informações sobre manejo de nematoides, 
popularmente conhecidos como vermes. As doenças incluem as causadas por 
bactérias, fungos e vírus. O documento enumera ainda as doenças em 
pós-colheita e desordens fisiológicas.
  
    | Agricultura orgânica no BrasilEntre
 2012 e março de 2021, o número de estabelecimentos agrícolas no País 
dedicados à produção orgânica cresceu cerca de 300%, atingindo 24,7 mil 
propriedades com mais de 1 milhão de hectares cultivados, conforme dados
 do Mapa. Do total de propriedades com agricultura orgânica cadastradas 
no Ministério da Agricultura e Pecuária, 10% e 25% registraram, em 2021,
 alguma atividade com cultivo orgânico de outros citros e limão, 
respectivamente. Para ser considerado orgânico, o produtor 
precisa utilizar técnicas ambientalmente sustentáveis, com proibição do 
uso de agrotóxicos e adubos químicos solúveis e deve seguir o que está 
disposto na Lei no 10.831, de dezembro de 2003, bem como nas instruções 
normativas e na Portaria 52/2021, e fazer parte do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Mapa. Não
 há informações oficiais sobre a quantidade da produção orgânica de 
limões e limas ácidas no Brasil. Em todo o mundo, de acordo com dados de
 2021 da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Ifoam),
 aproximadamente 30 mil hectares de limões e limas ácidas estão sob 
manejo orgânico, o que equivale a 2,2% da área cultivada dessas culturas
 no mundo. Com base nesse percentual, a estimativa, segundo Ana Lúcia 
Borges, é que, no Brasil, em torno de 1,3% da área desses citros seja 
cultivada em sistema orgânico, o que representa cerca de 760 hectares, e
 o estado da Bahia conta com a maior área.  “A produção ainda é 
muito incipiente, mas o objetivo da elaboração desse sistema de produção
 é justamente contribuir para o crescimento do cultivo orgânico da lima 
ácida na região da Chapada Diamantina e, ao mesmo tempo, influenciar 
outras regiões brasileiras”, afirma a pesquisadora que representa a 
Embrapa na Comissão de Produção Orgânica da Bahia, fórum composto por 
membros de entidades governamentais e não governamentais. | 
  
  
      A lima ácida no Brasil e no mundo
A lima ácida no Brasil e no mundo
 No ranking da
 produção mundial de lima ácida Tahiti, o Brasil foi, em 2020, o maior 
produtor. Entretanto, considerando todas as frutas cítricas ácidas 
(limas e limões), ocupou a quinta posição, respondendo por 7,42% da 
produção mundial, com 1.585.215 toneladas em 58.438 hectares colhidos, 
de acordo com dados de 2020 da Organização das Nações Unidas para a 
Alimentação e a Agricultura (FAO).
 Em
 2021, os principais estados produtores foram São Paulo, Minas Gerais, 
Pará e Bahia, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
 (IBGE). Somente em São Paulo, a produção foi de 1.073.437 toneladas, em
 32.564 hectares colhidos, sendo que a lima ácida Tahiti respondeu por 
cerca de 90% da área cultivada com frutas cítricas ácidas nesse estado, 
segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
 Ela ocupa a quarta posição em exportação entre as frutas frescas 
brasileiras, atrás apenas de manga, melão e uva, conforme dados de 2019 
disponíveis na plataforma Comex.