Turistas e moradores de Fernando de Noronha vão ajudar a fazer o censo de um pássaro que não existe em nenhum outro lugar do mundo
A mobilização de moradores e turistas que vão a ernando de Noronha começou neste fim de fevereiro. O objetivo é mobilizar todos para colaborar com o monitoramento de duas espécies de aves que não são encontradas em qualquer outro lugar do mundo: o Sebito-de-noronha e o cocoruta.
O levantamento pretende reunir informações e dados desconhecidos relacionados com a reprodução, alimentação e natalidade do sebito-de-noronha (Vireo gracilirostris) e da cocoruta (Elaenia ridleyana), pesquisadores do projeto Aves de Noronha têm como meta traçar estratégias e políticas públicas para proteção das espécies, apontar práticas de conservação e criar um observatório para pesquisadores e turistas.
“Apesar de os avistamentos dessas duas espécies endêmicas da ilha serem frequentes, até o momento não existem muitas informações sobre elas. Pouco se sabe sobre o período e o sucesso reprodutivo dessas aves que estão ameaçadas de extinção”, afirma Cecília Licarião, coordenadora do projeto Aves de Noronha, iniciativa do Instituto Espaço Silvestre que está prestes a completar cinco anos de atuação em Noronha. O projeto recebeu apoio técnico e financeiro da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e tem a intenção de preservar a maior diversidade de espécies de aves marinhas do Brasil, além de estimular a economia local, a ciência, a comunicação e o engajamento social.
Para somar informações ao trabalho do projeto, os pesquisadores lançam um pedido à população e aos turistas das ilhas para que enviem aos biólogos da equipe informações sobre essas aves endêmicas, como localização, data e fotos dos avistamentos de ninhos. O contato pode ser feito por mensagem direta pelo perfil @avesdenoronha do Instagram ou via whatsapp (81) 98204-9965.
De acordo com dados da Lista Vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), existem cerca de mil sebitos e cocorutas nas ilhas. Os ninhos avistados serão monitorados por uma tag de identificação e as aves receberão anilhas – similares a anéis – para serem acompanhadas.
“O envolvimento da população local e dos turistas, chamado de ciência cidadã, tem o objetivo de contribuir com informações preciosas para a pesquisa”, avalia Cecília. “Sabemos que essas aves fazem muitos ninhos nos quintais das casas. Nada melhor que os proprietários desses endereços compartilharem conosco as informações. A circulação dos turistas também ajuda nesse processo de coleta de dados. Com as tags e anilhas, conseguimos identificar as aves e saber como se locomovem, em quais espécies de árvores preferem fazer seus ninhos, quantos anos vivem etc. No ano passado, conseguimos registrar um ninho com três filhotes, algo pouco usual, pois o mais comum são apenas dois filhotes. Dados como esse podem ajudar a atualizar o status de conservação das espécies e levantar novas necessidades de atuação para protegê-las”, completa.
Até o momento, a equipe de pesquisadores tem 28 ninhos registrados em 2023, sendo que 18 continuam em atividade. São números altos comparados ao ano passado, quando foram registrados 108 ninhos no total.
Arquipélago de Fernando de Noronha abriga a maior diversidade de aves marinhas do país. Ao todo, são quase 90 espécies de aves registradas que usam a ilha para descanso, alimentação e reprodução. Destas, 17 são residentes, ou seja, moram em Noronha e podem ser observadas durante todo o ano. Das espécies encontradas, seis estão em perigo de desaparecer e duas delas, o sebito-de-noronha e a cocoruta, só existem em Fernando de Noronha.
O Sebito-de-noronha ou juruviara-de-noronha é o nome desse pássaro que habita florestas, jardins e áreas arborizadas, com preferência pelas copas dos mulungus. Alimenta-se de insetos e artrópodes, como pequenas aranhas. As aves têm cerca de 15 cm de comprimento, pesam, em média, 10 gramas, e coloração verde-acinzentada nas partes superiores e marrom-claro e creme no ventre. A fêmea coloca cerca de três ovos, que são chocados durante 12 ou 13 dias. Seu ninho, em formato de tigela funda, é feito de folhas e preso nas forquilhas das árvores. O pássaro sofre ameaça pela degradação de seu habitat, introdução de espécies exóticas na região e o turismo desordenado.
Já o Cocoruta é um pássaro de 17 centímetros de comprimento, com pescoço branco e laterais e peito em tom acinzentado. A barriga é de coloração amarelada. Alimenta-se de insetos e frutos e, segundo os pesquisadores, uma cocoruta pesa, em média, 20 gramas. É encontrada em matas secas e áreas antrópicas do Arquipélago de Fernando de Noronha. É uma espécie ameaçada de extinção devido à ocupação humana e ao turismo desordenado no arquipélago.
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