BURRA DE CIGANO
“Está mais enfeitada que burra de cigano.” Era uma expressão usada no interior quando uma pessoa estava toda arrumada. Os ciganos são pessoas nômades, sem moradias definidas . Andavam em tropas pelos sertões afora, de cidade em cidade, de fazenda em fazenda. Ganhavam a vida trocando e vendendo animais.
Havia várias tropas de ciganos pelo interior do Estado. Em Pedro Avelino sempre passava a tropa comandada por Cândido, que era o cigano chefe. Acampavam próximo ao açude do governo, o que facilitava no uso da água para o consumo humano e animal. O animal de montaria de Cândido dava gosto de se vê. Era uma burra mula cardan, com sete palmos de altura, de passada macia, um galope em cima da mão. Seus arreios eram de couro, todos trabalhados com argolas de metal. A sela tinha desenhos no couro. Em cima da sela, uma corona que servia para guardar e transportar objetos. Uma manta longa sob a sela cobria o lombo do animal, feita de couro de bode.
As ciganas andavam em grupos, com seus vestidos longos e estampados, sempre com um dente de ouro na boca, procurando ler a mão das pessoas para amealhar algum dinheiro. O que fazia medo era a praga da cigana, quando não conseguia seu intento.
Certa vez, um fazendeiro comprou um cavalo de um cigano e, na hora da transação, foi perguntado se o animal tinha algum defeito, no que o cigano respondeu: “O defeito está na vista, ganjão.” O fazendeiro comprou o animal, levou para a fazenda. Chegando lá, notou que o mesmo era cego de um olho.
Voltou para devolver o animal, pois não lhe servia para o trabalho. Foi quando o cigano velho lhe falou que tinha dito a verdade, que o defeito do cavalo estava na vista.
Numa dessas passagens do bando por PA, papai comprou a Cândido um burro mulo, que nunca tinha sido montado. Levou para a fazenda, entregou ao vaqueiro Compadre Zé Gregório, para amansar.
Colocou o nome de Capricho e começou a açoitar o animal. Ficou uma pimenta, correndo entre a Jurema, o xique-xique e a macambira, mostrando que dava para o serviço.Esse animal se prestou para o trabalho de campo na fazenda por muitos anos.
Hoje não se vê
mais ciganos como antigamente por esse sertão afora, sertão de mulher
séria, de homem trabalhador, como diz a música de Luís Lua Gonzaga. Até
isso está desaparecendo.
Autor: Geraldo José Antas
Engenheiro Civil e Agropecuarista
Nota do Blog: Amigo Geraldo José Antas. Conheci o cigano Cândido, quando tinha suas andanças por Angicos e Fernando Pedroza. Quando meu pai Seu Anildo, foi residir na fazenda São Miguel, adquirida na década de 20 pelos ingleses, ele tinha 13 anos. E certa vez, eu via em meu pai, um carinho muito grande pela Fazenda São Miguel. Perguntei a ele sobre esse carinho que tinha pela Fazenda. E ele me explicou! quando a Fazenda foi comprada pelo grupo dos ingleses, o primeiro gerente foi um Escossez chamado Vicente Roque, meu tio Chico Chagas era a segunda pessoa da fazenda, assim continuou meu pai a falar. Quando a Usina começou a operar, Dr. Vicente Roque que era assim chamado pelo povo, chegou para Chico Chagas e disse: Chico Chagas, a Fazenda São Miguel, vai começar a operar e precisamos botar um barracão aqui na Fazenda. Então, Dr. Vicente, perguntou a Chico Chagas, você conhece alguma pessoa que saiba ler e escrever para agente botar um barracão? Chico Chagas protamente respondeu. Tenho. O meu cunhado José Francisco de Souza(meu avô pai do meu pai, que residia com sua família na Fazenda "Estrela do Norte") que o povo o chamava de Zé Magro. E assim, meu avô veio residir e trabalhar na Fazenda São Miguel. Foi o dono do primeiro barracão, na fazenda São Miguel. Meu pai dizia que chegou a fazenda com 13 anos. Então eu perguntei a ele? quem era seus amigos nesse tempo? ele me respondeu: Zé Bizinho, Chico Jurema, Antônio Maria,(pai de Chico Maria, Raimundo Maria, Nobinha e outros.) o cigano Cândido era irmão de Chico Jurema, foi dada a maternidade de Cândido, a cigana Chiquinha, mãe do cigano Praxedes. Então Cândido, não tinha sangue cigano, assim me contou meu pai. Mas, Cândido era um homem de negócios e amansador de burro brabo. Sempre visitava meu pai, na sua padaria em Fernando Pedroza e Angicos.
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