quarta-feira, 7 de setembro de 2022

 

Ovinos quando alimentados corretamente podem superar os efeitos das verminoses

  

Uma pesquisa conduzida pela Embrapa demonstra que, com ajustes nas proporções de alimentos na dieta, ovinos infectados com verminose podem ter indicadores de desempenho, como ganho de peso e características de carcaça, semelhantes aos de animais saudáveis. Com os diferentes manejos nutricionais, equilibrando alimentos que são fontes dos dois grupos de nutrientes dietéticos principais, proteína e energia, os cordeiros do experimento manifestaram até mesmo menor presença de parasitos. O resultado demonstra maior capacidade de resistir à infecção parasitária, por meio de compensações metabólicas e, assim, manter índices produtivos, ou seja, a dieta adequada promove resiliência à verminose.

De acordo com o pesquisador Marcos Cláudio Rogério, da área de Nutrição Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos, o experimento aponta uma novidade: o que incrementou a resiliência dos animais não foi simplesmente um maior aporte de alimentos fontes de proteínas, mas encontrar, na dieta, um nível ideal de aporte das chamadas proteínas metabolizáveis (aquelas de fato absorvíveis pelo organismo dos animais). Esse ajuste implica equilibrar não somente os alimentos proteicos, como também os energéticos, pois estes fornecem energia para a síntese de proteínas microbianas que acontece no aparelho digestivo dos animais.

“Acreditava-se que o incremento da resiliência às infecções parasitárias por conta da adequada nutrição animal estava simplesmente no aporte crescente de proteínas nas dietas para pequenos ruminantes. Isso funciona bem até certo ponto. Porque se formos adicionar concentrados proteicos indefinidamente, o excesso será eliminado nas fezes e não aproveitado. Além disso, simplesmente incrementar os níveis de proteína bruta não dá garantia de absorção dessas proteínas e de seus aminoácidos, que podem ser indigestíveis”, observa    Rogério, que liderou a equipe responsável pela pesquisa.

No experimento, 40 cordeiros machos foram utilizados e divididos em grupos onde parte foi artificialmente infectada pelo Haemonchus contortus, parasita gastrointestinal que é um dos principais causadores de verminoses em caprinos e ovinos. Divididos em grupos, receberam dietas com diferentes proporções de alimentos volumosos (fontes de energia) e concentrados (fontes de proteína).

A partir da inclusão de 35% de concentrado (65% de proporção volumosa na dieta), houve redução de mais de 65% na contagem do número de ovos por grama de fezes (OPG) em animais infectados e redução em mais de 63% da quantidade de Haemonchus contortus presentes no abomaso, estrutura do estômago de ruminantes. O OPG é um indicador que apresenta o grau da infecção por parasitos.

Conforme as dietas avaliadas, também foram verificados em ovinos infectados que consumiram de 58% a até 69% de concentrado, valores de conversão alimentar similares àqueles verificados para animais não infectados, recebendo as mesmas proporções de concentrado. No caso de cordeiros infectados que receberam a dieta com uma formulação proporcional de 69% de concentrado e 31% de volumoso, por exemplo, houve ganho de peso médio diário de 261 gramas (g), um rendimento muito semelhante ao dos animais não infectados que, com essa mesma dieta, apresentaram ganho de peso médio de 265 g/dia. Já o escore corporal final para os animais em dieta com essa composição foi o mesmo para os infectados e também para os não infectados.

“O uso de dietas com 58% de concentrado seguindo as formulações dietéticas desenvolvidas com a pesquisa, por exemplo, já garante o incremento da resiliência às infecções parasitárias. Não precisa se utilizar de dietas com elevada proporção de concentrado para se atingir esse objetivo, nem utilizar excessiva quantidade de concentrados proteicos, que são caros. O importante é o ajuste dietético visando ao incremento no fornecimento da proteína metabolizável”, explica Rogério.

De acordo com ele, os resultados abrem uma nova perspectiva: estabelecer parcerias com o setor produtivo para o desenvolvimento conjunto de rações, aditivos alimentares e suplementos específicos para determinadas categorias de animais – como crias, animais em confinamento, fêmeas em lactação – conforme  suas necessidades nutricionais. Esse incremento da resiliência às infecções pode colaborar também para a sustentabilidade de sistemas de produção, reduzindo a dependência de vermífugos para minimizar as perdas produtivas da verminose.

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