Valor das terras agrícolas no Brasil
Que as terras com aptidão agrícola no Brasil se valorizaram muito, principalmente no correr dos últimos 10 anos, não é desconhecimento de ninguém que lida com o campo. O alto valor das commodities agrícolas, em especial da soja e do milho, foi o motor dessa mudança
Amélio Dall’Agnol, pesquisador da Embrapa Soja
Que as terras com aptidão agrícola no Brasil se valorizaram muito,
principalmente no correr dos últimos 10 anos, não é desconhecimento de
ninguém que lida com o campo. O alto valor das commodities agrícolas, em
especial da soja e do milho, foi o motor dessa mudança. Esta
valorização, no entanto, não foi uniforme. Depende da localização da
propriedade, da topografia do terreno, das benfeitorias construídas, do
regime de chuvas na região, da área efetivamente agricultável (quanto é
reserva legal e preservação permanente), da logística em portos,
rodovias e ferrovias, e da qualidade do solo (arenoso ou argiloso), e se
está com pastagem degradada ou é área com lavoura em plena produção,
entre outros. O que mais conta, é o clima e a qualidade do solo.
Essas características fazem o preço do hectare variar desde
R$500,00/ha até cerca de R$200.000,00/ha em áreas da Região Centro-Sul,
salienta o corretor rural Nilo Ourique. Mas, via de regra, as vendas não
são feitas em dinheiro, mas em sacas de soja/ha, que oscilam desde 200
até 1.500 sacas/há, acrescenta.
Ser proprietário de terras rurais parece ser um bom negócio. Se não
quiser produzir pode arrendar e faturar bom lucro sem as preocupações
com as contrariedades climáticas. Até Bill Gates investe em terras, já
sendo um dos maiores proprietários de terras agrícolas dos Estados
Unidos. Em Goiás, o arrendamento oscila entre 20 a 22 sc/ha, segundo
informa Edimar dos Santos, vice-presidente do Sindicato Rural de
Montividiu.
A pandemia da Covid-19, aliada com os juros baixos, o dólar em alta e a forte valorização das commodities agrícolas, criaram uma tempestade perfeita para a forte valorização das terras agrícolas a partir, principalmente, de 2020. O projeto da ferrovia Ferrogrão e a pavimentação da BR 163 ligando o Centro-Oeste com a Região Norte, ajudaram na valorização das terras da região, principalmente as destinadas para a produção de grãos.
O que mais acontece, segundo os especialistas do mercado de terras,
são investidores comprando terras com pastagens degradadas (mais
baratas) para melhorá-las e depois convertê-las em lavouras de grãos.
O valor das terras agrícolas disparou em todas as regiões do País, mas a
valorização mais expressiva ocorreu na fronteira mais recente de
cultivo da soja: região de Sealba, composta por Sergipe, Alagoas e
nordeste da Bahia, onde predominava o cultivo da cana. Com a descoberta
da possibilidade de cultivar-se soja com sucesso na região e o baixo
rendimento da cana, o preço da terra, que oscilava no entorno de
R$2.000,00/ha até 2010, saltou para R$30.000,00 a R$40.000,00/ha nas
melhores glebas da região, segundo informa o produtor rural Cleiton
Santos. O que muito contribui para o interesse de agricultores, Brasil
afora, de investir em terras na região de Sealba, é sua proximidade aos
portos e centros de consumo da região, o que diminui os custos com o
frete.
Os valores das terras agrícolas acompanham o crescimento do Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP), que, em 2021 foi de R$ 1,113 trilhão (757,23 bilhões das lavouras e R$ 362,72 bilhões da pecuária; respectivamente 11,8% e 6,2% maior que em 2020). Juntos, o algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, milho e soja, somaram 87% do VBP das lavouras. Algodão, café, milho, soja e trigo apresentaram o maior VBP desde 1989 (em 32 anos) e as maiores quedas foram registradas pelo amendoim, banana, batata-inglesa, feijão, laranja e mandioca. Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais lideraram o VBP de 2021 (https://www.gov.br).
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