Soja na renovação dos canaviais
Para um melhor aproveitamento do solo, entre o período de renovação de um canavial (set/out) e o estabelecimento de um novo canavial (fev/mar), os canavieiros estão sendo orientados a aproveitar esse período para semear cultivares de soja precoces, cuja colheita ocorrerá antes de a área ser demandada para uma nova lavoura de cana.
Soja em palhada de cana-de-açúcar. Pedro Luiz de FreitasA cana-de-açúcar é a terceira maior lavoura do Brasil, depois da soja e do milho. São cultivados no País cerca de seis milhões de hectares (mais de 50% no estado de São Paulo). A cana-de-açúcar é considerada uma lavoura perene, embora precise ser replantada a cada período de 5 a 6 anos, a depender da variedade, da fertilidade do solo e do clima da região.
Para um melhor aproveitamento do solo, entre o período de renovação de um canavial (set/out) e o estabelecimento de um novo canavial (fev/mar), os canavieiros estão sendo orientados a aproveitar esse período para semear cultivares de soja precoces, cuja colheita ocorrerá antes de a área ser demandada para uma nova lavoura de cana.
Essa área não é pequena; se considerarmos que o Brasil cultiva mais de seis milhões de hectares de cana-de-açúcar e que a renovação do canavial ocorre a cada 5 ou 6 anos, a área disponível para rotação com soja (milho ou amendoim) a cada temporada, seria de aproximadamente um milhão de hectares. Também, o agricultor pode optar pelo estabelecimento de pastagens ou adubos verdes nesse espaço e assim melhorar as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, sem considerar a redução no custo de estabelecimento do novo canavial e o incremento da sua produtividade.
Merece destaque a migração que está ocorrendo de muitos canavieiros para o cultivo da soja, substituindo total ou parcialmente a lavoura de cana, com o argumento de que a oleaginosa está rendendo mais do que a gramínea. De acordo com uma análise da CNA (safra 2018/2019), a cultura da soja apresentou margem líquida 10% superior ao da cana e essa diferença, aparentemente, aumentou a partir de então.
No entanto, é importante lembrar ao produtor rural que tudo o que
sobe, depois desce. Portanto, antes de trocar de cultivo e de
maquinário, analise o cenário futuro previsto para cada lavoura e decida
pela melhor perspectiva, considerando as implicações decorrentes de uma
mudança tão drástica no manejo da propriedade. Por enquanto, a vantagem
está com a soja, mas até quando! A vantagem já foi da cana.
No início deste século, era a cana que estava avançando sobre espaços
ocupados pelo cultivo de soja; agora a tendência se inverteu. Isto
explica porque, em anos recentes, o Estado de SP tem crescido
significativamente na produção de soja, visto que suas áreas
agricultáveis e disponíveis são limitadas. Para crescer na produção de
soja, SP depende de trade off entre culturas, como o que está ocorrendo
agora com a soja, substituindo lavouras de cana.
A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), no entanto, alerta que a tendência é de queda para o mercado futuro da soja, que foi muito favorecido pelo crescimento da demanda no período de pandemia da COVID-19. É importante ressaltar que os altos preços do grão no mercado internacional, vigente nos últimos anos, despertou o interesse pelo seu cultivo, não só no Brasil, mas no mundo todo e essa produção adicional deverá influenciar o mercado futuro da soja. Até a Rússia e a Ucrânia, atualmente em conflito, estão despontando como importantes produtores da oleaginosa, já respondendo pela 8º e 9º posição no ranking mundial, com a produção de 4,5 e 3,7 milhões de toneladas, respectivamente.
A parceria com a soja é benéfica para a nova lavoura de cana, pois a soja deixa o solo mais estruturado e rico em nitrogênio deixado pela fixação biológica realizada pela soja. Como são espécies diferentes, o ciclo de pragas e doenças de ambas as culturas é interrompido. Soja e cana-de-açúcar, duas riquezas do nosso país tropical.
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