Pesquisadores desenvolvem protocolo para tratar da pseudogestação em cabras e ovelhas
A hidrometria anula a capacidade reprodutiva do animal e ocasiona prejuízos ao sistema de produção
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Cientistas da Embrapa desenvolveram um protocolo para o tratamento da hidrometra, ou pseudogestação, uma doença que acomete principalmente cabras leiteiras, comprometendo seu desempenho reprodutivo e trazendo prejuízos econômicos aos criadores. O método, que já vem sendo usado com sucesso em capris de diferentes regiões brasileiras (veja quadro abaixo), se baseia na utilização de três doses do hormônio prostaglandina, que ajuda a drenar o fluido uterino e estimula a ocorrência de cio e a ovulação.
A enfermidade é bastante comum nos rebanhos leiteiros de alta produção e costuma acometer as fêmeas de forma recorrente. Ela avança de forma lenta e só é diagnosticada clinicamente depois de estabelecida. É uma das causas mais comuns de subfertilidade e infertilidade em caprinos leiteiros e raramente acomete as ovelhas. A hidrometra não representa grave risco à saúde dos animais, mas anula sua capacidade reprodutiva, além de diminuir a produção de leite do rebanho, ocasionando prejuízos ao sistema de produção.
As cabras com hidrometra apresentam sintomas similares aos da gestação, levando ou não ao aumento no volume abdominal, dependendo da quantidade de líquido acumulado no útero (foto ao lado). Elas não apresentam estro (ovulação), o que amplia o intervalo entre partos e pode reduzir a produção de leite, resultando em perdas econômicas importantes para o criador. Por isso, os pesquisadores recomendam uma avaliação periódica do rebanho com realização de ultrassonografia, a fim identificar precocemente e minimizar o prejuízo econômico causado pela doença.
A médica-veterinária Marina Monteiro Netto, que possui um rebanho de 200 animais da raça Saanen no município de Santo Antônio do Aventureiro (MG), afirma que costuma avaliar os animais antes da estação de monta, com um aparelho de ultrassom, e que é comum diagnosticar casos da doença. “O tratamento não é difícil. Muitas vezes o que falta é o diagnóstico, já que a maioria dos produtores só solicita o exame ultrassonográfico para diagnóstico de gestação”, explica.
Os pesquisadores acreditam que a presença do fluido no útero dos animais deve-se à secreção prolongada do hormônio progesterona, seja pela permanência de um corpo lúteo após uma ovulação sem gestação (normalmente, essa estrutura se desfaz quando o processo de fecundação não se completa) ou por esse corpo lúteo permanecer ativo após a fêmea sofrer uma perda precoce da gestação. Outras possíveis causas são o uso indiscriminado de hormônios fora da época de reprodução. Eles afirmam, no entanto, que um tratamento hormonal bem conduzido em rebanhos caprinos não deixa sequelas e não pode ser considerado causa de hidrometra.
O estudo foi patrocinado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e realizado pela Embrapa em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF)
Protocolo mostra bons resultados nos caprisDurante o experimento, os cientistas mantiveram as cabras em sistema intensivo, dentro de currais de 15 metros de comprimento por dois metros de largura, que acomodavam dez animais cada, proporcionando 3 m2 por animal, garantindo seu bem-estar. As cabras foram alimentadas com silagem de milho e capim-elefante, além de suplementação de concentrado, sal mineralizado e água potável sempre disponível. O médico-veterinário Jeferson Fonseca, pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos responsável pelo desenvolvimento do novo tratamento, explica que anteriormente eram utilizadas duas doses de prostaglandina nas fêmeas com hidrometra e o protocolo da Embrapa prevê três doses com intervalo de dez dias entre elas. “Percebemos que depois de duas doses algumas cabras ainda tinham conteúdo uterino. Ultimamente, temos avançado para três doses com intervalo de sete dias com sucesso em vários capris, mas é necessário concluir os estudos”, pontua. O tratamento já está sendo utilizado a campo com sucesso. Um exemplo disso é o trabalho do médico-veterinário Felipe Seabra Cardoso Leal, em rebanhos de animais da raça Saanen em Teresópolis (RJ) e Leopoldina (MG). “Foram 11 casos de hidrometra em três anos, em um rebanho de 1.200 animais. E na outra propriedade, tivemos três casos em 120 animais. O tratamento foi feito com três aplicações de cloprostenol (um tipo de prostaglandina), com intervalo de 7,5 dias entre as aplicações. Normalmente, conseguíamos resolver com duas aplicações, mas em alguns animais era necessário aplicar três vezes”, afirma. Leal relata que todas as cabras diagnosticadas com a doença e que receberam o tratamento seguiram bem na reprodução após serem curadas. Fotos: Ana Lúcia Maia (cabra com hidrometra à esquerda e após o tratamento, à direita) |
Publicações sobre o tema:Confira publicações técnicas sobre a hidrometra, impactos nos rebanhos e resultados do novo protocolo de tratamento: |
Fêmeas mostram boa recuperação após tratamento
O protocolo desenvolvido pela Embrapa é eficaz para drenar o fluido uterino e estimular a ovulação, e as fêmeas que passam pelo tratamento costumam se recuperar bem, mantendo boas taxas de reprodução. No entanto, cabe ao criador avaliar como a manutenção desses animais no rebanho vai impactar a lucratividade do seu negócio.
Os
pesquisadores afirmam que se não houver drenagem do útero do animal,
após tentativas subsequentes, ele deve ser descartado. Aqueles que têm o
útero drenado, mas não entram no processo de estro (ovulação), e a
fêmeas que tiveram o útero drenado, foram acasaladas, mas não ficam
gestantes por apresentarem dificuldades na fixação dos embriões, também
podem comprometer o desempenho do rebanho.
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