segunda-feira, 14 de junho de 2021

 

Planta nativa da caatinga pode ser importante ajuda no tratamento anti-nflamatório

 

Para domesticar a planta, determinar a composição química e avaliar suas propriedades farmacológicas segundo a época de colheita, foi realizado um projeto de pesquisa que envolveu agrônomos, químicos, biomédicos e farmacêuticos.

O estudo conduzido pela Embrapa verificou que a composição química dos bulbos de açucena variou dependendo da época de colheita, impactando suas atividades farmacológicas. Ao fim da avaliação química, observou-se, ainda, que a açucena apresentava grande quantidade de narciclasina, um bem documentado agente anticâncer segundo relatos científicos anteriores, mas com considerável toxicidade, o que limita sua aplicação clínica.

É um tipo de açucena nativa da Caatinga que tem se mostrado rica em substâncias com atividade anti-inflamatória. A planta foi cultivada e caracterizada quimicamente por pesquisadores da  Embrapa Agroindústria Tropical (CE) e da Universidade Federal do Ceará (UFC), que buscam alternativas para agregar valor à biodiversidade. Coletada nas cidades de Pacatuba e Moraújo, no Ceará, a Hippeastrum elegans é conhecida popularmente como lírio, tulipa, cebola-do-mato, cebola-berrante, flor-da-imperatriz e, principalmente, açucena.

Esse tipo de açucena não possui registro de uso etnobotânico relevante como planta medicinal ou ornamental. Porém a descoberta de alcaloides bioativos pode direcioná-la para possíveis aplicações farmacêuticas, agregando valor à planta. “Como é nativa da Caatinga, é naturalmente bem-adaptada às condições climáticas da Região Nordeste”, acrescenta o pesquisador da Embrapa Kirley Canuto, coordenador dos estudos.

A professora Luzia Kalyne Almeida Moreira Leal, do Centro de Estudos Farmacêuticos e Cosméticos do curso de Farmácia da Universidade Federal do Ceará (Cefac/UFC), explica que a atividade anti-inflamatória foi comprovada em células de defesa do sangue humano (neutrófilos) e do sistema nervoso central de roedores (micróglias). O extrato foi capaz de diminuir a ativação celular e a secreção de mediadores inflamatórios, sem causar citotoxidade.

Os extratos também foram testados em um modelo utilizado para observar a potencial atuação contra a perda das funções cognitivas provocadas pelo mal de Alzheimer, com resultados positivos. Os experimentos, realizados no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (NPDM/UFC), tiveram como alvo a inibição da enzima acetilcolinesterase.

A professora Geanne Matos, que coordenou essa fase dos estudos, esclarece que essa enzima degrada a acetilcolina, um neurotransmissor que age nas funções cognitivas. Medicamentos para o controle do mal de Alzheimer têm como princípio a inibição dessa enzima e o consequente aumento na disponibilidade de acetilcolina, o que resulta na melhoria cognitiva. Em breve, o extrato mais bioativo será testado em modelo experimental in vivo de amnésia.

Um dos maiores desafios da equipe foi identificar a planta, um bulbo subterrâneo que só emerge na estação chuvosa. Quando chove, o bulbo libera hastes com delicadas flores brancas. A pesquisadora Rita Pereira, que desenvolveu o estudo agronômico, relata que não foi simples encontrar a açucena. “Só achamos em duas cidades, Pacatuba e Moraújo. Procuramos em todo o Ceará, mas quando não está florindo é muito difícil identificá-la”, diz.

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