Produtores de algodão se arrependem de ter reduzido área plantada em 16%
Novo presidente da Abrapa diz que rápida recuperação do consumo e dos preços, que despencaram no começo da pandemia, foi uma surpresa no campo
Uma decisão tomada no início da pandemia se transformou de cautela em arrependimento entre os produtores de algodão. “Estamos bravos com a gente mesmo por ter reduzido nossa área de plantio neste ano", diz Julio Cezar Buzato, que assumiu a presidência da Associação Brasileira dos Plantadores de Algodão (Abrapa) em janeiro.
Ele explica que a redução de 16% da área no país foi definida por volta de abril e maio, quando os produtores fazem o planejamento da safra que vai ser plantada em novembro. A decisão foi influenciada pela derrubada do consumo mundial de 27 milhões para 22 milhões de toneladas devido à pandemia da Covid-19.
“A gente achava que ia ganhar pouco ou nada neste ano, já que o preço da pluma na Bolsa de Nova York, que precifica o algodão, chegou a US$ 0,48 dólar por libra peso para um custo de produção de US$ 0,60", ressalta.
Mas, atualmente, o valor pago pela pluma é de cerca de US$ 0,82 por libra peso. “O preço está excelente. Pena que não vamos aproveitar porque 70% do nosso algodão já foi vendido abaixo de US$ 0,67", salienta.
Agrônomo e produtor de soja e algodão em Barreiras (BA), Busato diminuiu sua área ainda mais que a média dos produtores: 20%. “Foi a minha primeira redução e, logicamente, diante da recuperação rápida do consumo mundial, me arrependi muito.”
Ele diz, no entanto, que se o setor tivesse feito um cálculo matemático, teria reduzido ainda mais a área. “Não fizemos isso por três motivos: precisamos manter nosso mercado externo, especialmente na Ásia; as equipes especializadas que trabalham com o beneficiamento do algodão; e temos que resguardar nossos investimentos na cultura. Uma colheitadeira de algodão, por exemplo, custa caro e só colhe algodão.”
Com a queda de área, o setor deve produzir 2,5 milhões de toneladas neste ano ante as 2,9 milhões de toneladas de 2020. Busato afirma, no entanto, que o volume será suficiente para atender às demandas de exportações e suprir o mercado interno, estimado em 700 mil toneladas, já que o estoque de passagem da pluma é de 400 mil toneladas.
“Mas, em 2022, vamos voltar a bater recordes de produção e exportação”, garante o presidente da Abrapa. Ele acrescenta que a entidade, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil) e a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), montou um escritório em Cingapura para promover o algodão brasileiro na Ásia, para onde vão 95% das exportações brasileiras.
Estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que o Brasil deve exportar 2,18 milhões toneladas na safra 2020/21, se mantendo como segundo maior no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, com 3,27 milhões de toneladas.
Plantio avança
Bahia e Goiás já encerram o plantio da safra, segundo Busato. Mato Grosso, responsável por cerca de 70% do algodão nacional, deve terminar o plantio no próximo dia 15.
Dados do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), apontam que a semeadura do algodão no Estado alcançou 59,52% das áreas na última semana, um avanço de quase 30 pontos percentuais em relação à semana anterior. “Para imprimir este ritmo em algumas regiões, os produtores estão semeando o algodão durante o dia e à noite”, diz o boletim.
O presidente diz que muitos produtores do MT, que plantam soja primeiro e depois algodão, desistiram da soja neste ano, por conta do atraso das chuvas, e investiram direto na pluma. “Tivemos um aperto das chuvas, mas as lavouras estão excelentes devido aos avanços da tecnologia.” A colheita começa em junho ou julho.
Exportações
Depois de fechar o ano da pandemia com o embarque recorde de 2,12 milhões de toneladas, as exportações de algodão em janeiro caíram 26% em janeiro na comparação com as 309 milhões de toneladas de janeiro de 2020.
Em relação a dezembro, quando se registrou o recorde para um único mês, com 370,4 mil toneladas, a queda foi de 11,3%. As 273,9 mil toneladas de pluma embarcadas em janeiro, no entanto, são 118,5% maiores que a média do mês dos últimos cinco anos. Os dados são do Ministério da Economia.
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