Produtores de ovinos da Bahia apostam em qualidade e tecnologia para alcançar novos mercados
Em função das limitações de oferta de carne na região, o setor tem investido em animais de alta qualidade para aumentar o retorno de investimentos
O Nordeste é referência nacional quando o assunto é criação de ovinos. A espécie responde por 32% de todo o rebanho da região e representam 56% do efetivo brasileiro de animais, segundo dados de 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mesmo assim, hoje, tem sido um problema na região aumentar a oferta de carne em larga escala para acompanhar a demanda da indústria. De olho em novos mercados, produtores investem na qualidade da carne para superar esse e outros obstáculos.
De acordo com Anderson Pedreira, diretor da
Associação de Criadores de Caprinos e Ovinos da Bahia (ACCOBA), “são
necessários investimentos da ordem de R$ 5 milhões para que uma planta
frigorífica de pequeno porte opere de forma regular, uma conta que só é
paga com 2 a 3 mil abates por dia”, diz. Ele explica que a quantidade é
incompatível com a oferta de qualquer Estado. Outro agravante é a
concorrência do abate informal, que resulta em perda de matéria-prima
para atravessadores. “Sem saber para quem fornecer a carne, muitos
produtores acabam seduzidos por uma promessa de melhor remuneração.“
Segundo ele, esse mercado já remunera o produtor a uma média de R$ 14 o
quilo de carcaça.
O interesse em negociar com frigoríficos
esbarra também no fato de exigirem um padrão mínimo de qualidade.
Entretanto, parcela considerável dos ovinos fornecidos apresenta manejo
sanitário e acabamento de carcaça inadequados. Já não fossem esses
problemas, um fator que impacta diretamente na qualidade de carcaça é a
genética utilizada no plantel.“Muitos produtores elegem o macho mais
‘fortinho’ do grupo para ser o reprodutor do rebanho ou acredita que um
mestiço será um bom pai, abrindo mão do ganho de peso, da precocidade e
da qualidade de carcaça garantida a partir de reprodutores puros e
avaliados”, lamenta Pereira.
O que a maioria desconhece é que a Bahia reúne um acervo genético excelente de raças especializadas na produção de carne. “E ao abrir mão dessa tecnologia, perdem-se ótimas oportunidades de fazer o melhoramento do plantel”, frisa Augusto Sérgio de Oliveira Barbosa, representante da Associação Brasileira dos Criadores de Dorper (ABCDorper) na Bahia. Uma alternativa, segundo ele, é instruir os produtores sobre os benefícios financeiros de investir na genética do rebanho. “Cordeiros meio sangue Dorper ou White Dorper atingem peso de abate (35 a 50 quilos) aos 150 dias de vida.” Uma iniciativa importante nesse sentido tem sido o apoio de criadores que cedem a genética para pequenos produtores melhorarem a precocidade e o rendimento de seus cordeiros. Eles recebem também garantia de compra da produção e apoio técnico dependendo da parceria, revela Augusto.
Apesar
dos obstáculos à consolidação da cadeia produtiva no Nordeste - o que
aumenta a importação de carne do Uruguai, da Nova Zelândia e do Rio
Grande do Sul - outras portas estão se abrindo para o segmento.
Superando desafios
De
olho no potencial da ovinocultura baiana, foi criado às margens do Rio
São Francisco o The Royal Sheep Farm Of Xique Xique, na cidade baiana,
que planeja chegar a 10 mil matrizes ovinas nos próximos anos. O foco é a
alta gastronomia no Sudeste, onde o consumo de cordeiro é mais
elitizado. “Um diferencial que buscamos, além da qualidade, é a
padronização. De nada adianta entregar para a indústria carrés de formas
e tamanhos diferentes”, explica Décio Ribeiro dos Santos, um dos
parceiros do projeto.
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