Mapa e CBI lançam Plano de Investimento para Agricultura Sustentável
Objetivo é dar maior visibilidade ao cenário de oportunidades de investimento verde no agronegócio brasileiro
Os
sucessivos aumentos de produção e produtividade, obtidos a partir da
utilização de modernas tecnologias e práticas sustentáveis no campo,
contribuem para impulsionar o mercado de títulos verdes no Brasil. A
avaliação consta do Plano de Investimento para Agricultura Sustentável
lançado nesta terça-feira (23) pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa) e a Climate Bonds Initiative (CBI), durante o
webinar “Destravando o Potencial de Investimento Verdes para Agricultura
no Brasil”.
O plano foi elaborado para fornecer
maior entendimento e visibilidade sobre o cenário de oportunidades de
investimento verde no agronegócio brasileiro. A CBI é a principal
autoridade mundial no tema e a única certificadora global de títulos
verdes.
A ministra Tereza Cristina
(Agricultura, Pecuária e Abastecimento) lembra que o plano nasceu a
partir da assinatura de um protocolo entre o Mapa e a CBI em novembro do
ano passado, em Nova York. “Queremos ser protagonista desta nova
tendência. Daí a importância de se fortalecer esse mercado de finanças
verdes no Brasil, que é uma potência agroambiental, comprometida com a
sustentabilidade”, afirmou.
A ministra citou medidas que têm
tornado a agropecuária brasileira uma das mais sustentáveis do mundo,
como a produção em áreas degradadas sem a necessidade da abertura de
novas áreas, o que possibilita a preservação de 66% da vegetação nativa
nacional, e tecnologias de sustentabilidade desenvolvidas pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a criação de animais
sadios a partir de sistemas de Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta
(ILPF). “Precisamos do desenvolvimento das finanças verdes do agro como forte indutor da concretização deste cenário”, afirmou.
Segundo a ministra, os investimentos
verdes podem alcançar cifras bilionárias no Brasil, levando em conta que
o capital de giro para movimentar atividades agropecuárias se aproxima
de US$ 100 bilhões por ano. O montante aumenta ao se considerar todo o
agronegócio, como a produção de insumos, logística, industrialização e
comercialização.
No webinar, o ministro da
Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, destacou que o governo
federal dispõe de uma carteira de investimentos em infraestrutura
bastante robusta, e que todos os projetos já incluem na fase de
planejamento a perspectiva da sustentabilidade, como uso menor de
combustível fóssil no transporte de cargas. “Tenho certeza que a nossa
inserção na questão da sustentabilidade e na obtenção de títulos verdes
será um sucesso”, disse.
Já o presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, apontou que a governança sustentável passou a ser
tema na agenda de todos os Bancos Centrais do mundo. Segundo Campos
Neto, o Brasil tem um grande potencial nas finanças verdes, que precisa
ser desenvolvida. Ele citou, por exemplo, que somente 20% das emissões
de carbono do país são precificadas. “As políticas de governança
influenciam nos investimentos. Nós podemos e devemos participar mais
deste mercado”.
Para a presidente do Banco UBS no
Brasil, Sylvia Coutinho, o Brasil dispõe de todas as condições para se
tornar o líder mundial em investimentos verdes, destacando a Lei 13.986,
que torna os títulos de crédito do agronegócio mais simples, menos
burocráticos e flexíveis para o mercado financeiro verde. A executiva
mencionou que uma pesquisa com 3 mil investidores de 85 países revelou
que os investidores brasileiros lideram ranking como os mais estão
atentos ao tema ao destinar recursos para empreendimentos. “O Brasil tem
os maiores ativos ambientais do planeta e o mais competitivo
agronegócio do planeta”.
De acordo com o diretor de
investimentos do PGGM (fundo de pensão da Europa), Jeroen Verleum, o
país necessita capacitar os investidores para ampliar a aplicação de
recursos nas finanças verdes.
A diretora-executiva da CBI, Justine
Leigh-Bell, ressaltou que os investimentos verdes no Brasil podem
crescer em grande escala, por meio de melhor visibilidade dos segmentos
aptos para investimento. “Estamos na direção certa, mas há muito
trabalho a ser feito. Eu tenho expectativa de que haverá muito sucesso
por parte do Brasil”.
Sustentabilidade
Os resultados expressivos do mercado
agropecuário brasileiro - maior exportador de carne bovina, aves, soja,
café, suco de laranja, açúcar – já o transformaram no segundo maior
mercado de títulos verdes da América Latina e Caribe. O país representa
34% da emissão na região, somando quase US$ 6 bilhões.
O primeiro título verde do país foi
emitido em junho de 2015 e, desde então, já são 25 títulos emitidos.
“Mas é um mercado no Brasil ainda incipiente, considerando o potencial
do setor. Há inúmeras oportunidades, mas essas precisam ser
identificadas e promovidas, incluindo os tipos de ativos e projetos que
podem ser classificados como aptos para financiamento verde”, afirma
José Ângelo Mazzillo Jr, secretário-adjunto da Secretaria de Política
Agrícola do Mapa.
No cenário global, esse volume, somente
em 2019, chega a emissão recorde de aproximadamente US$ 260 bilhões. No
acumulado, desde 2013, são US$ 800 bilhões, segundo o Plano de
Investimento para Agricultura Sustentável.
O plano é resultado dos esforços
desenvolvidos pelo Mapa e a CBI por meio de consultas a representantes
de governo federal, de entidades de classe e do setor agrícola.
Políticas
Nas últimas quatro décadas, aponta o
Plano, o Brasil implementou várias práticas agrícolas sustentáveis, como
o plantio direto, a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) e a
fixação biológica de nitrogênio, conduzidas pelo Ministério da
Agricultura. O plantio direto, por exemplo, foi adotado na produção de
soja e milho, melhorando a fertilidade do solo e diminuindo o uso de
fertilizantes químicos.
A adoção do Código Florestal e o Plano
de Agricultura de Baixo Carbono (ABC) têm sido vitais para a expansão de
uma agricultura sustentável. Por meio do aumento da produtividade
agrícola e da adoção de boas práticas e tecnologias, apenas 7,8% do
território brasileiro - 66 milhões de hectares - são destinados à
produção agrícola.
Uma avaliação do Plano ABC, que
completa 10 anos em 2020, mostra que as tecnologias de baixo carbono
foram implementadas em 59 milhões de hectares, cerca de 25% da área
utilizada para atividades agropecuárias. A expansão dessas tecnologias e
outras práticas agrícolas aumentará a produtividade e a eficiência e,
consequentemente, elevará o número de novas oportunidades de
investimento. O uso de pastagens de baixa produtividade para fins de
cultivo é outra alternativa para aumentar a produtividade e a
eficiência.
Entre outras práticas e técnicas já
presentes na agricultura nacional para aumentar a eficiência e a
produtividade está a utilização de biofertilizantes e biodefensivos. O
país já conta com uma política nacional de bioinsumos. A Embrapa
desenvolveu diferentes iniciativas de baixo carbono para a produção de
carne bovina, como a Carne Carbono Neutro (CCN) e a Rede ILPF.
Expansão
Para fortalecer o crescimento do
mercado de capitais verde no Brasil, o plano elenca uma série de medidas
a serem adotadas como a expansão do plano (política) e do programa
(crédito)ABC. Uma das diretrizes é a adoção de novas tecnologias para
aumentar a produtividade, máquinas, armazenamento, insumos, além de
permitir uma maior implementação de práticas existentes.
Outro ponto será necessário aperfeiçoar
a regulamentação infra legal da matéria, a fim de criar os incentivos
adequados para melhorar o ambiente de negócios e facilitar o acesso do
produtor ao mercado de capitais. A promoção de mecanismos de melhoria de
crédito, de instrumentos como seguros e mecanismos de compartilhamento
de perdas serão providências importantes para alavancar capital público e
atrair investidores privados.
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