segunda-feira, 29 de junho de 2020

 
ALGODÃO

Safra mineira 2019/20 da cotonicultura familiar evolui em produção e produtividade

Os pequenos agricultores recebem apoio da Associação e da Coopercat para enfrentar a pandemia na colheita
A colheita do algodão familiar (safra 2019/20), no Norte de Minas, foi iniciada em meados de abril e deve prosseguir até setembro, com perspectiva de maior volume de produção e melhor produtividade em relação ao ciclo passado. Os desafios que marcam as atividades na região, como risco de contágio pelo coronavírus durante a colheita manual e retração no mercado consumidor do produto, vêm sendo superados pelos cotonicultores familiares filiados à Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa) e integrantes da Cooperativa dos Produtores Rurais de Catuti (Coopercat). Assessor técnico da cooperativa, José Tibúrcio de Carvalho avalia que, mesmo com uma área plantada menor, de 540 hectares, a produção e a produtividade devem superar os indicadores da safra 2018/19, cujo plantio totalizou 664 hectares. “A redução de área na safra foi uma decisão da Coopercat, sendo um dos objetivos evitar o risco de endividamento e manter a capacidade de gestão, usando com responsabilidade o capital disponível”, informa.
Na avaliação do profissional, a região deve superar o resultado de produção da temporada anterior, de cerca de 1,1 tonelada de algodão em caroço, com a produção de mais de 1,4 tonelada, sendo mantido o mesmo patamar de rendimento de fibra alcançado na safra 2018/29, de 39,50%. A produtividade estimada deve chegar a 2.700 kg/ha, contra 1.686,56 kg/ha do ciclo anterior. O volume esperado de pluma, após o beneficiamento, é de 583,20 kg, com a produtividade na casa de 1.080 kg/ha.
O campo não pode parar, diz Tibúrcio. Ele conta que a cooperativa é uma entidade que protagoniza a liderança técnica das atividades de 120 produtores familiares, que têm no algodão do Semiárido Mineiro a sua principal fonte de renda. Os pequenos agricultores se distribuem atualmente em 11 cidades, a maioria localizada nos municípios de Monte Azul (34), Catuti (29), Espinosa (21) e Mato Verde (15), outros em Gameleiras (7), Pai Pedro (5), Porteirinha (5) e um produtor nas localidades de Janaúba, Nova Porteirinha, Rio Pardo de Minas e São Sebastião.
Explica ainda que, se os cotonicultores do Norte de Minas cultivam variedades de alta qualidade e rendimento de pluma equiparadas às utilizadas pelos grandes produtores mineiros, é por causa do apoio e assistência recebidos da Associação e da sua mobilização junto ao governo de Minas, por meio do Programa Mineiro de Incentivo à Cultura do Algodão (Proalminas) e do Fundo de Desenvolvimento da Cotonicultura do Estado de Minas Gerais (Algominas). São pilares, desde 2005, para a manutenção da cotonicultura na região, e parceiros da Amipa na implementação de novas tecnologias de produção e suporte em ações a cada safra.
Para o técnico, a perspectiva de bons resultados com a safra 2019/20 também se deve as outras importantes iniciativas da Associação, com o apoio do Fundo Algominas, como a irrigação de salvamento implementada em duas etapas, desde 2013. Foram instalados 31 kits de irrigação por gotejamento, sendo 21 deles custeados pelo Fundo Algominas e o restante cedido pela Fundação Solidaridad.
Outro ponto fundamental que ele cita é o apoio recebido da Associação por meio do Proalminas para manter à disposição da Coopercat veículo e combustível para viabilizar o atendimento presencial aos produtores da região, caracterizado por visitas às fazendas para suporte e orientação prestados por técnicos agrícolas. “Não fosse todo esse apoio, o cultivo do algodão familiar no Norte de Minas não teria se recuperado e atingido o número atual de produtores. A agricultura familiar é um trabalho de construção, porque o produtor planta sem crédito, falta crédito rural”, destaca.
Desafios para colher e vender
Os cotonicultores familiares da região do Semiárido de Minas Gerais são pequenos produtores que ainda fazem a colheita manual. Por causa disso, foi preciso buscar soluções para enfrentar um ano atípico. O desafio imposto pela possível contaminação por Covid-19 na realização das atividades somou-se à insegurança no escoamento da produção, face a uma esperada retração e lenta retomada de compra da commodity pelas indústrias têxteis estaduais, que absorvem praticamente toda a produção do Norte de Minas.
“Houve um período de receio com relação à contaminação pelo coronavírus, superado com ações efetivas de informação sobre os cuidados preventivos e os kits de colheita, também com doações de equipamentos de proteção individual para prevenção contra a Covid-19, entregues a produtores e colhedores em maio pela Coopercat, com apoio da Amipa e da Fundação Solidaridad”, afirma Tibúrcio.
Segundo ele, a Associação assumiu a consultoria para recomendar os EPIs adequados e a negociação de insumos a preços competitivos junto a revenda em Patos de Minas, região do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, e a Fundação Solidaridad cedeu os recursos financeiros para a aquisição dos EPIs e outros materiais necessários para a composição de um kit de colheita.
Em maio, foram entregues 750 kits para produtores e colhedores envolvidos na colheita do algodão, cada um contendo uma unidade de protetor facial (viseira), luvas, botinas, marmita e garrafa térmica. Um dos beneficiados com o kit foi João José dos Santos (72), residente em Monte Azul, que trabalha como colhedor de algodão há 50 anos, a maior parte desse tempo em São Paulo e há nove anos em Minas Gerais. “Foi muito importante receber esses equipamentos, ia ser muito perigoso, acho que ia correr mais riscos. Do kit todo, além da viseira e das luvas, para mim foi muito bom receber as botinas”, comenta João.
Adelino Lopes (62), conhecido como “Companheiro Dila”, é produtor desde 1972 e há pouco se afastou da presidência da Coopercat, posição em que tem atuado por anos, para se tornar candidato a vereador. Tornou-se associado da Amipa, na época em que se deu a retomada do algodão na região. O ano foi 2005, em decorrência de um projeto de reinserção do algodão no Norte do estado, idealizado pela Amipa em conjunto com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa-MG), por meio do Proalminas. Alguns anos depois, Adelino assumiu como diretor regional Norte de Minas na Associação. Em abril deste ano, foi reeleito para um novo mandato, alongando o seu papel de representante da classe produtora local.
“Pretendia contratar 30 colhedores este ano, mas com a parada de compra pelas tecelagens, e também por causa de área separada para o teste de colheita mecanizada, esse número caiu para 15 pessoas. Todos estão trabalhando com protetor facial e outros equipamentos recebidos no kit, afastados uns dos outros, higienizando as mãos, estão sendo cuidadosos”, conta o produtor.
Na avaliação do diretor executivo da Amipa, Lício Pena, a comercialização da pluma produzida pelos agricultores familiares registrou grandes avanços ao longo dos anos do projeto. “Com o fim da participação do atravessador, esses pequenos produtores alcançaram a condição de igualdade com os grandes produtores empresariais. Passaram a vender a pluma para as indústrias têxteis, de acordo com a qualidade, recebendo o benefício do programa Proalminas, de [preço] Esalq + 7,85%, quando comercializada dentro de Minas Gerais”, esclarece.
De acordo com Lício, a Associação busca promover a comercialização justa da pluma do Norte de Minas, realiza todas as análises de HVI necessárias na filial da Amipa, a Minas Cotton e, muitas vezes, intermedia as negociações entre os produtores e a indústria têxtil.
Experimento de colheita mecanizada
Adelino já está com 50% do algodão colhido em duas áreas de algodão: uma pequena, com plantio irrigado, e outra maior, sequeiro, tem expectativa de obter 30.000 kg de algodão em caroço nos 14,5 hectares distribuídos nessas áreas. “Com o apoio da Amipa, a cooperativa conseguiu vender aqui em Minas três cargas com um total de 14.000 kg de algodão, já enviadas para Araçaí e Guaranésia”, informa o produtor.
Adelino conta que parte da área maior está separada para teste com um protótipo de colheitadeira nos próximos dias. “O custo da colheita na produção do algodão é muito alto, a colheita mecanizada vai reduzir essa despesa para a gente. Da minha parte, vou tentar suportar um pouco do custo para ajudar o trabalhador rural a ter trabalho. Vou buscar outras formas também, talvez com plantios  alternados na entressafra”, relata.
De acordo com Tibúrcio, o teste em questão é de um protótipo de colheitadeira acoplada em trator, desenvolvido pelos pesquisadores Odilon Reny Ribeiro e Valdinei Sofiatti, da Embrapa Algodão, que vem sendo experimentado em várias regiões de produção familiar no país, desde o ano passado.
O equipamento foi carregado em Campina Grande (PB), liberado pela Embrapa Algodão, e chegou a Catuti no dia 15 de junho (segunda), com o transporte viabilizado pela Amipa. “O custo da mão de obra na colheita manual gira em torno de 60%, sendo que na mecanizada representa 5% do custo de produção. Esse protótipo foi desenvolvido para uso em pequenas áreas de produção e vai reduzir custo e também a contaminação que pode ocorrer com a saca, ajudando a manter a qualidade do algodão”, informa o assessor técnico.

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