Exportações de carne e de gado em pé ajudam a pecuária a se manter em alta
Expectativa é de que as exportações de carne bovina cresçam com mais plantas habilitadas no Estado
Tradicionais
na pecuária gaúcha, as feiras e remates de Outono já realizadas neste
ano, e que se encaminham para o final nos próximos dias, estão sendo
marcadas por leilões virtuais e preços acima das médias obtidas em 2019.
O quilo pago pelos terneiros, que no mesmo período de 2019 alcançou
média de R$ 6,80, nesta temporada avançou para até R$ 7,50.
Apesar de alta de cerca de 6% neste ano, a
média de R$ 7,20 estimada pelo presidente do Sindicado dos Leiloeiros
Rurais (Sindiler), Ênio Santos, porém, esbarra nos efeitos da estiagem
para que se converta em ganhos melhores ao produtor. O problema é que
estão indo para as pistas de negócio animais com menos peso devido à
falta de chuva em 2020, o que afetou o pasto e a engorda dos animais.
“O preço é acima do ano passado, e a
liquidez está boa, com a venda de 100% do colocado em pista, como
ocorreu recentemente em Caçapava do Sul, com 2,5 mil animais
comercializados. Mas teríamos uma temporada bem mais remuneradora em um
cenário normal”, avalia Santos.
Coordenador da Comissão de Exposições e
Feiras da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Francisco
Schardong assegura que as feiras virtuais foram um sucesso e são um
caminho sem volta para futuros negócios, mesmo pós-pandemia. Isso porque
a oferta on line aumentou o número compradores de fora do Estado. Além
de mais compradores nacionais, avalia Schardong, o que está ajudando a
manter os preços atuais são as exportações de gado em pé.
“Os navios que estão chegando mantém
aquecida a venda de terneiros, procurados pelo mercado árabe,
principalmente. O gado gordo é que está complicado porque a pastagem de
inverno não aparece ainda em função da seca. Esse mercado vai ter
problema”, alerta o representante da Farsul.
Com destino final a Jordânia, por exemplo,
o setor embarcou no final de março cerca de 20 mil animais pelo Porto
de Rio Grande. E uma nova carga já começa a ser preparados nas
propriedades de quarentena organizadas em quatro cidades da zona sul do
Estado: Pelotas, Capão do Leão, Cristal e Rio Grande. “Na carga de 20
mil, pagaram R$ 7,50 o quilo. Em abril, tentaram nova compra com R$
6,50, não encontraram animais no mercado. E aumentaram a oferta para
entorno de R$ 7,50 novamente”, comemora Schardondg.
Agora, diz, o pecuarista, o mercado árabe
já está levado animais da Fronteira Oeste e região Central, por exemplo,
para o Sul do Estado novamente. Quando os compradores fecharem uma
carga de pelo menos 15 mil animais, explica Schardong, atracará um novo
navio. O que pode ocorrer no final de maio, de acordo como a
administração do porto.
Ainda que já ocorressem os leilões
virtuais de gado, normalmente os negócios à distância eram realizados
com animais mais nobres, e não gado geral (comprados para engorda e
abate, e não pela genética). Agora, diz tanto Santos quanto Schardong, é
um caminho sem volta para o setor porque amplia o números de
compradores significativamente. O presidente do Sindiler estima que 60%
dos negócios forma fechados por sites de vendas e remates virtuais e
pelo telefone neste ano.
“Alguns levam o gado no local, ao vivo, e
outros filmam na propriedade e apresentam as imagens para lances à
distância”, explica Santos.
Para o segmento de carnes nobres, avalia o
diretor técnico da Associação Brasileira de Angus, o mercado segue com
bons preços, e tende a subir com a entressafra que se aproxima. Mas pode
esbarrar na retração do consumo interno e pela mudança de hábito dos
consumidores, que pelo isolamento social reduziram, por exemplo, o
consumo de churrasco. Atualmente, calcula Rodrigues, o quilo ao produtor
está na faixa de R$ 13,60 a R$ 13,80, mais bonificação por
certificações de qualidade, de até 10%.
“No ano passado, na entressafra, ficou em
cerca de R$ 15. Ou seja, tende a melhorar. Mas mudou a demanda e o tipo
de corte, com menos procura pelos cortes de churrasco. Mas esperamos que
a redução no isolamento social em alguns locais isso será parcialmente
retomado”, opina o representante da Angus.
Mercado internacional ajuda a equilibrar perdas com a retração no consumo interno
Dois fatores, juntos, devem ajudar a
manter os atuais preços pagos ao produtor mesmo com a provável queda no
consumo interno de carne bovina no ano _ o que é esperado devido ao
aprofundamento da crise, da queda da renda e do avanço do desemprego em
meio à pandemia. Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul, destaca que
o dólar em alta aliado a um maior número de frigoríficos brasileiros
habilitados a exportar, em relação a 2019, traz perspectivas positivas
ao setor.
“O que sabe hoje, certo, é que Brasil
estará em crise e com a economia bastante debilitada no final do ano. A
diferença em relação ao que ocorreu na crise de 2015 e 2016, quando
exportações e câmbio compensaram a queda no consumo interno,é que agora
há mais indústrias no Estado com plantas exportadoras.O que não sabemos é
se, agora, o mercado externo vai drenar todo esse excedente”, pondera
Luz.
Com a pecuária tem atividade mais longo do
que uma safra de grãos, porém _ já que pode durar alguns anos entre a
compra do sêmen ou do touro até a venda do terneiro_ há um nível maior
de incertezas sobre o futuro, diz o economista.
No final de 2018 o preço da arroba, de
acordo com o Cepea/USP, estava próximo de R$ 150 e alcançou em novembro
de 2019 o pico de R$ 231_ alta de 54% estimulada pelos compradores
internacionais, especialmente a China. Hoje na faixa dos R$ 200, a
arroba está cerca de 30% acima dos R$ 151 registrados em 10 de maio de
2019, segundo levantamento do Cepea.
Como se comportaram os preços ao produtor nos últimos 12 meses
10/05/2019: R$ 151,25
09/08/2019: R$ 152,55
11/11/2019: R$ 183,30
29/11/2019: R$ 231,35 (Pico dos preços pagos ao produtor em 2019, com alta de mais de 50% em um ano)
10/12/2019: R$ 208,95
10/01/2020: R$ 196,25
10/02/2020: R$ 195,70
11/03/2020: R$ 203,25
09/04/2020: R$ 198,05
08/05/2020: R$ 201,30 (Os preços atuais estão 33% acima do mesmo período de 2019, quando a arroba era cotada em R$ 151,25)
Fonte: Cepea/USP
09/08/2019: R$ 152,55
11/11/2019: R$ 183,30
29/11/2019: R$ 231,35 (Pico dos preços pagos ao produtor em 2019, com alta de mais de 50% em um ano)
10/12/2019: R$ 208,95
10/01/2020: R$ 196,25
10/02/2020: R$ 195,70
11/03/2020: R$ 203,25
09/04/2020: R$ 198,05
08/05/2020: R$ 201,30 (Os preços atuais estão 33% acima do mesmo período de 2019, quando a arroba era cotada em R$ 151,25)
Fonte: Cepea/USP
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