quinta-feira, 7 de maio de 2020

 
ESTUDO

Pandemia pode resultar em uma grande crise alimentar, diz estudo

Brasil não pode vacilar frente à clara oportunidade de valorização e aprimoramento de seu papel no mundo agroalimentar
Na sétima edição do especial temático de “Coronavírus e o Agronegócio”, pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, apresentam um panorama geral da pandemia de coronavírus nos segmentos econômico, social, comercial e comportamental.

O estudo mostra que a atual pandemia de coronavírus pode resultar em uma grande crise alimentar – mas com efeitos distintos de acordo com o nível de desenvolvimento dos países –, a menos, claro, que sejam tomadas medidas para fornecer alívio econômico emergencial e manter a demanda a um nível minimamente adequado, principalmente nas economias de menor renda.

Pesquisadores do Cepea também indicam que uma das piores consequências da Covid-19 pode ser uma acentuada condição de miséria em países que já lidam com esse problema. Assim, é de suma importância que lideranças tomem medidas políticas harmonizadas no que tange a políticas fiscais, monetárias e de comércio. Além disso, os governos devem proporcionar o mínimo de recursos para a sobrevivência dos países e populações mais pobres. Caso contrário, a Covid-19 pode provocar mais mortes não apenas pela transmissão, como também pela pobreza e fome de boa parte da população mundial.

E as possíveis soluções para a atual crise precisam ser multilaterais, ou seja, exigem esforços de cooperação entre os governos para, de um lado, evitar restrições que reduzam ainda mais a atividade econômica, e de outro, proporcionar o apoio para as economias menos desenvolvidas para que tenham condições de manter políticas fiscais e monetárias que viabilizem os volumosos fluxos de bens, capitais, serviços e pessoas.

Nesse momento, pesquisadores do Cepea indicam que é fundamental que os organismos e foros internacionais intervenham, garantindo soluções coordenadas e transparência por parte dos exportadores e importadores de alimentos básicos. O foco deve estar nas medidas que visam conter a recessão global e minimizar a insegurança quanto ao acesso de comida. Para isso, é necessária uma coordenação mundial na introdução de pacotes de estímulos fiscais e monetários, incluindo recursos para conter a propagação da doença e garantir a disponibilidade de cuidados de saúde adequados. Além, é claro, do aporte social adicional para compensar trabalhadores e famílias afetadas pelo vírus e por medidas de contenção.

OPORTUNIDADES PARA O BRASIL – O Brasil é considerado o maior celeiro do mundo, sendo o setor do agronegócio responsável por 23,5% do PIB nacional. A possível crise de abastecimento internacional pode ser vista como uma grande oportunidade para o País aumentar suas exportações, sendo favorecidas, ainda, pela atual depreciação do Real frente ao dólar, o que possibilita a geração de superávits na balança comercial. Desafios para que isso ocorra são de natureza logística, impedindo o escoamento da produção de forma eficaz e a custos que não corroem as vantagens comparativas do País em diversos mercados globais. Além disso, é necessário garantir a abertura dos portos e também o acesso ao crédito para investimentos e manutenção do setor.

Com relação às questões sanitárias, a experiência do País sinaliza aos parceiros comerciais a qualidade do produto nacional pela aplicação de legislações sanitárias que buscam adequação às boas práticas adotadas internacionalmente. Entre as medidas adotadas internamente, são citadas a criação e a manutenção de cadeias frias nos processos que abarcam desde o abatimento de animais até a preparação final do alimento e, também, a adoção do modelo de integração vertical entre produtor e processador nas cadeias de aves e suínos, em que cooperativas e indústrias alimentares fornecem todo o auxílio para aprimorar a sanidade e a segurança dos alimentos.

Dessa forma, o Brasil não pode vacilar frente à clara oportunidade de valorização e aprimoramento de seu papel no mundo agroalimentar.
Informações do Cepea

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