Conta mais cara e mais crédito tornam energia solar no campo um bom negócio
Movimento vai ao encontro de um grande potencial brasileiro
Técnicos do
Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP se debruçaram sobre a
questão para avaliar em que situação valeria à pena instalar painéis
fotovoltaicos na propriedade rural
Na última década, uma série de fatores,
como novas legislações, barateamento de equipamentos e até mesmo o
aumento no preço da energia elétrica, tornou a energia solar (ou
fotovoltaica) uma alternativa interessante aos olhos do produtor rural,
que está cada vez mais tecnificado, conectad0 e – portanto – mais
dependente da energia. Se antes os painéis solares eram equipamentos
caros para fazer a conversão da luz em energia valer a pena, hoje, com a
disponibilidade de novas linhas de crédito e novas possibilidades de
arranjo junto à rede elétrica, essa opção se tornou bastante atrativa.
Esse movimento vai ao encontro de um
grande potencial brasileiro, porém pouco explorado: a excelente
incidência solar. Mesmo nos Estados mais ao Sul (portanto, distantes da
linha do Equador, onde o sol é mais intenso), como o Paraná, o índice de
incidência solar ainda é muito superior ao encontrado na Alemanha, por
exemplo, país que lidera o uso da energia solar no planeta.
Recentemente, técnicos do Departamento
Técnico Econômico (DTE) da FAEP se debruçaram sobre a questão para
avaliar em que situação valeria à pena instalar painéis fotovoltaicos na
propriedade rural. De acordo com a análise elaborada pelos técnicos do
Sistema FAEP/SENAR-PR Luiz Eliezer Ferreira e Werner Meyer, nos últimos
anos, diversos fatores contribuíram para um cenário favorável à adoção
desta tecnologia.
“Em suma, foram dois fatores principais
[que tornaram a tecnologia solar viável]: o equipamento ficou mais
barato e a energia ficou mais cara”, resume Meyer. “A linha de payback
[quando a economia proporcionada pelo uso do equipamento paga o seu
custo de aquisição] foi sendo reduzida ao longo da década, motivada por
novas legislações que desoneraram os equipamentos”, explica Ferreira.
Além disso, a existência de novas linhas de crédito voltadas à atividade
tornou a adesão à tecnologia mais fácil.
Cenários
Os técnicos do DTE analisaram diferentes
cenários do ponto de vista do consumo energético em duas atividades que
têm na eletricidade um importante insumo: a avicultura e a bovinocultura
de leite.
Para a avicultura foi considerado um
consumo mensal de dois galpões de 2.560 m² cada e capacidade para
alojamento de 66,5 mil aves. Neste tipo de estabelecimento, a fatura de
energia é de R$ 8.299 para o consumo mensal de 21.279 kWh (considerando a
tarifa de R$ 0,39 por kWh consumido).
Nesse caso, de acordo com a simulação
realizada pelos técnicos, o tempo de retorno do investimento de R$ 1
milhão é de sete anos. “A partir deste período, o saldo positivo passa a
ser crescente por mais 18 anos, considerando a durabilidade do
equipamento, que é de 25 anos”, aponta a análise. Ou seja, após pagar o
investimento, o produtor ainda teria 18 anos de energia quase de graça
(quase, pois ainda existe uma taxa referente ao custo de disponibilidade
do sistema que deve ser paga mensalmente, independentemente do consumo.
Isso ocorre quando o produtor está conectado à rede da distribuidora).
No caso da bovinocultura leiteira, o
modelo utilizado no cálculo é o de uma propriedade com 74 animais, sendo
60 em lactação, e um consumo médio de 3.050 kWh (R$ 1.189). Neste caso,
o tempo de retorno do investimento foi menor, apenas cinco anos.
Na propriedade do produtor João Alvez
Gonçalves Neto, em Tomazina, no Norte Pioneiro, a expectativa é pagar o
financiamento feito para comprar os equipamentos em quatro anos. Os
painéis solares foram instalados no telhado do barracão de confinamento
(sistema free stall). Com 45 vacas em lactação, o produtor gastava, em
média, R$ 2 mil com a fatura de energia elétrica por mês. “Agora tem mês
que [a fatura] dá R$ 190. Isso, sem falar que a energia eu não uso só
na leiteria, mas em toda propriedade”, afirma.
Economia e segurança
Na avicultura, a energia elétrica
representa cerca de 20% do custo de produção. Além de ser um insumo
representativo, também é comum no interior do Estado situações de queda
no fornecimento (causada por falhas na distribuição), o que gera
prejuízos severos. Afinal, os produtores dependem da eletricidade para
manter a temperatura e ventilação nos galpões. Como as aves são animais
frágeis, qualquer variação brusca pode por a perder um lote inteiro.
Na região Norte, o avicultor Guilherme
Carnelossi decidiu apostar nos painéis solares para reduzir o valor da
conta de luz no final do mês e também contar com mais segurança no
fornecimento. Com capacidade para alojar 700 mil aves, divididas em 25
galpões nos municípios de Colorado e Itaguajé e um consumo mensal da
ordem de 160 mil kWh, o produtor encontrou no sol um grande parceiro
para economizar.
“Já temos três usinas de energia solar
instaladas e estamos em processo de mais cinco. Até o final do segundo
semestre queremos estar com 13. Com isso pretendemos gerar entre 80% e
90% do que consumimos”, calcula Carnelossi.
Com a família atuando na avicultura desde
2004, Carnelossi conta que já havia procurado a alternativa da energia
solar antes, mas os valores não compensavam. “Antigamente, o custo era
caro e não havia linha de crédito. Hoje existem linhas bem favoráveis”,
aponta.
Linhas de crédito
Nesse sentido, o material elaborado pelo
DTE da FAEP identificou as principais linhas de crédito e instituições
financeiras que podem financiar este tipo de equipamento. Foram mapeadas
41 linhas de crédito diferentes (confira a planilha completa na seção
Serviços, no site www.sistemafaep.org.br). As taxas mais baixas giram em
torno de 4% e 6% ao ano.
Segundo o gerente de crédito do Sicredi
Campos Gerais, Rafael Furuzawa, a procura por estas linhas tem crescido
significativamente nos últimos tempos. “Estão utilizando bastante. Tanto
empresas parceiras como produtores estão buscando, na área urbana
quanto rural. Faz um ano, mais ou menos, a procura aumentou bastante,
até porque antes quase não tinha [linhas como essas]. Hoje temos
recursos do [Banco Interamericano do Desenvolvimento] BID específicos
para estas linhas”, comenta.
O avicultor Sebastião Antonio, de
Serranópolis do Iguaçu, na região Oeste, utilizou uma destas linhas para
instalação de 426 placas solares na sua propriedade. “O valor total da
obra financiado pelo Sicredi foi de R$ 645 mil, com prazo de 12 anos e
juros de 4,3%”, revela.
“Com o pagamento da parcela men sal de R$
5,9 mil, pretendemos ainda ter uma economia de R$ 2,6 mil por mês nesta
fase inicial, pois as parcelas do financiamento são regressivas e o
aumento da energia, como todos sabem, é progressivo”, analisa Antonio,
que prevê o retorno do investimento entre seis e sete anos.
Do ponto de vista da instalação, o
avicultor optou por montar uma usina solar no solo, com 296 painéis e
alocar outros 130 painéis no telhado de um dos seus quatro aviários.
“Resolvemos fazer uma das usinas sobre o aviário novo, porque ele é
feito de chapas de aluzinco, enquanto que os outros três aviários são de
telhas de barro. Como essas são estruturas mais velhas, teríamos que
ter manutenção com esses telhados”, explica o avicultor.
Energia excedente pode virar crédito para quem gera
De acordo com a Associação Brasileira de
Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Paraná é o quarto Estado com
maior potência instalada com base na matriz solar, somando 205,6 MW. No
campo, segundo a Copel, hoje existem 1,4 mil unidades consumidoras
rurais com sistema fotovoltaico no Estado, cuja potência instalada soma
25.692,4 kW.
Quando uma propriedade gera mais energia
do que precisa (seja por meio de painéis solares, biogás ou outras
fontes) é possível injetar esse excedente na rede de distribuição,
gerando assim um “crédito” em energia. Posteriormente, o consumidor pode
utilizar em outras unidades consumidoras (no campo ou na cidade), desde
que sejam da mesma titularidade (CFP ou CNPJ) da unidade geradora e
estejam dentro da área de concessão da mesma empresa distribuidora de
energia. Estes créditos têm validade de 60 meses. Essa possibilidade
está prevista na Resolução Normativa 482/2012, da Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL).
O sol é para todos
Apesar da energia elétrica ser bastante
representativa nos custos da avicultura e da bovinocultura de leite, o
uso dos painéis solares não se restringe a estas atividades. Também em
Serranópolis do Iguaçu, o suinocultor Dorival Back instalou painéis
solares em busca de mais economia e segurança. “A gente já teve bastante
problema de energia, muitas quedas”, afirma. No caso, os painéis foram
instalados em cima do galpão de máquinas e no telhado de três casas. A
energia é utilizada em todas as atividades da propriedade, em especial
na suinocultura.
“O valor do financiamento dos
equipamentos, pago mensalmente, é quase igual ao valor da conta de luz.
No final de oito anos, quando tiver o retorno do investimento, ainda vou
ter energia de graça por mais 17 anos”, calcula, referindo-se à vida
útil dos equipamentos, avaliada em 25 anos pelos fabricantes.
Também na bovinocultura de corte, em que o
custo da energia não chega a ser representativo, já existem iniciativas
para transformar a luz em eletricidade. Em Porecatu, na região Norte, a
produtora Ana Thereza Costa Ribeiro, presidente do sindicato rural do
município, instalou os painéis solares no final do ano passado. “Em
janeiro já zeramos a conta [de luz]”, afirma. A energia gerada alimenta
todas as estruturas da propriedade: sede, oficina, escritório, entre
outros espaços.
Mas antes de partir para a instalação, a
produtora fez um projeto para colocar na ponta do lápis de quanto seria a
economia. De acordo com os cálculos, o prazo para o retorno total do
investimento é de quatro anos e cinco meses. A economia anual estimada é
superior a R$ 21 mil. Êta solzinho amigo!
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