terça-feira, 17 de março de 2020

ENERGIA SOLAR

Conta mais cara e mais crédito tornam energia solar no campo um bom negócio

Movimento vai ao encontro de um grande potencial brasileiro
Técnicos do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP se debruçaram sobre a questão para avaliar em que situação valeria à pena instalar painéis fotovoltaicos na propriedade rural
Na última década, uma série de fatores, como novas legislações, barateamento de equipamentos e até mesmo o aumento no preço da energia elétrica, tornou a energia solar (ou fotovoltaica) uma alternativa interessante aos olhos do produtor rural, que está cada vez mais tecnificado, conectad0 e – portanto – mais dependente da energia.  Se antes os painéis solares eram equipamentos caros para fazer a conversão da luz em energia valer a pena, hoje, com a disponibilidade de novas linhas de crédito e novas possibilidades de arranjo junto à rede elétrica, essa opção se tornou bastante atrativa.
Esse movimento vai ao encontro de um grande potencial brasileiro, porém pouco explorado: a excelente incidência solar. Mesmo nos Estados mais ao Sul (portanto, distantes da linha do Equador, onde o sol é mais intenso), como o Paraná, o índice de incidência solar ainda é muito superior ao encontrado na Alemanha, por exemplo, país que lidera o uso da energia solar no planeta.
Recentemente, técnicos do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP se debruçaram sobre a questão para avaliar em que situação valeria à pena instalar painéis fotovoltaicos na propriedade rural. De acordo com a análise elaborada pelos técnicos do Sistema FAEP/SENAR-PR Luiz Eliezer Ferreira e Werner Meyer, nos últimos anos, diversos fatores contribuíram para um cenário favorável à adoção desta tecnologia.
“Em suma, foram dois fatores principais [que tornaram a tecnologia solar viável]: o equipamento ficou mais barato e a energia ficou mais cara”, resume Meyer. “A linha de payback [quando a economia proporcionada pelo uso do equipamento paga o seu custo de aquisição] foi sendo reduzida ao longo da década, motivada por novas legislações que desoneraram os equipamentos”, explica Ferreira. Além disso, a existência de novas linhas de crédito voltadas à atividade tornou a adesão à tecnologia mais fácil.
Cenários
Os técnicos do DTE analisaram diferentes cenários do ponto de vista do consumo energético em duas atividades que têm na eletricidade um importante insumo: a avicultura e a bovinocultura de leite.
Para a avicultura foi considerado um consumo mensal de dois galpões de 2.560 m² cada e capacidade para alojamento de 66,5 mil aves. Neste tipo de estabelecimento, a fatura de energia é de R$ 8.299 para o consumo mensal de 21.279 kWh (considerando a tarifa de R$ 0,39 por kWh consumido).
Nesse caso, de acordo com a simulação realizada pelos técnicos, o tempo de retorno do investimento de R$ 1 milhão é de sete anos. “A partir deste período, o saldo positivo passa a ser crescente por mais 18 anos, considerando a durabilidade do equipamento, que é de 25 anos”, aponta a análise. Ou seja, após pagar o investimento, o produtor ainda teria 18 anos de energia quase de graça (quase, pois ainda existe uma taxa referente ao custo de disponibilidade do sistema que deve ser paga mensalmente, independentemente do consumo. Isso ocorre quando o produtor está conectado à rede da distribuidora).
No caso da bovinocultura leiteira, o modelo utilizado no cálculo é o de uma propriedade com 74 animais, sendo 60 em lactação, e um consumo médio de 3.050 kWh (R$ 1.189). Neste caso, o tempo de retorno do investimento foi menor, apenas cinco anos.
Na propriedade do produtor João Alvez Gonçalves Neto, em Tomazina, no Norte Pioneiro, a expectativa é pagar o financiamento feito para comprar os equipamentos em quatro anos. Os painéis solares foram instalados no telhado do barracão de confinamento (sistema free stall). Com 45 vacas em lactação, o produtor gastava, em média, R$ 2 mil com a fatura de energia elétrica por mês. “Agora tem mês que [a fatura] dá R$ 190. Isso, sem falar que a energia eu não uso só na leiteria, mas em toda propriedade”, afirma.
Economia e segurança
Na avicultura, a energia elétrica representa cerca de 20% do custo de produção. Além de ser um insumo representativo, também é comum no interior do Estado situações de queda no fornecimento (causada por falhas na distribuição), o que gera prejuízos severos. Afinal, os produtores dependem da eletricidade para manter a temperatura e ventilação nos galpões. Como as aves são animais frágeis, qualquer variação brusca pode por a perder um lote inteiro.
Na região Norte, o avicultor Guilherme Carnelossi decidiu apostar nos painéis solares para reduzir o valor da conta de luz no final do mês e também contar com mais segurança no fornecimento. Com capacidade para alojar 700 mil aves, divididas em 25 galpões nos municípios de Colorado e Itaguajé e um consumo mensal da ordem de 160 mil kWh, o produtor encontrou no sol um grande parceiro para economizar.
“Já temos três usinas de energia solar instaladas e estamos em processo de mais cinco. Até o final do segundo semestre queremos estar com 13. Com isso pretendemos gerar entre 80% e 90% do que consumimos”, calcula Carnelossi.
Com a família atuando na avicultura desde 2004, Carnelossi conta que já havia procurado a alternativa da energia solar antes, mas os valores não compensavam. “Antigamente, o custo era caro e não havia linha de crédito. Hoje existem linhas bem favoráveis”, aponta.
Linhas de crédito
Nesse sentido, o material elaborado pelo DTE da FAEP identificou as principais linhas de crédito e instituições financeiras que podem financiar este tipo de equipamento. Foram mapeadas 41 linhas de crédito diferentes (confira a planilha completa na seção Serviços, no site www.sistemafaep.org.br). As taxas mais baixas giram em torno de 4% e 6% ao ano.
Segundo o gerente de crédito do Sicredi Campos Gerais, Rafael Furuzawa, a procura por estas linhas tem crescido significativamente nos últimos tempos. “Estão utilizando bastante. Tanto empresas parceiras como produtores estão buscando, na área urbana quanto rural. Faz um ano, mais ou menos, a procura aumentou bastante, até porque antes quase não tinha [linhas como essas]. Hoje temos recursos do [Banco Interamericano do Desenvolvimento] BID específicos para estas linhas”, comenta.
O avicultor Sebastião Antonio, de Serranópolis do Iguaçu, na região Oeste, utilizou uma destas linhas para instalação de 426 placas solares na sua propriedade. “O valor total da obra financiado pelo Sicredi foi de R$ 645 mil, com prazo de 12 anos e juros de 4,3%”, revela.
“Com o pagamento da parcela men sal de R$ 5,9 mil, pretendemos ainda ter uma economia de R$ 2,6 mil por mês nesta fase inicial, pois as parcelas do financiamento são regressivas e o aumento da energia, como todos sabem, é progressivo”, analisa Antonio, que prevê o retorno do investimento entre seis e sete anos.
Do ponto de vista da instalação, o avicultor optou por montar uma usina solar no solo, com 296 painéis e alocar outros 130 painéis no telhado de um dos seus quatro aviários. “Resolvemos fazer uma das usinas sobre o aviário novo, porque ele é feito de chapas de aluzinco, enquanto que os outros três aviários são de telhas de barro. Como essas são estruturas mais velhas, teríamos que ter manutenção com esses telhados”, explica o avicultor.
Energia excedente pode virar crédito para quem gera
De acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o Paraná é o quarto Estado com maior potência instalada com base na matriz solar, somando 205,6 MW. No campo, segundo a Copel, hoje existem 1,4 mil unidades consumidoras rurais com sistema fotovoltaico no Estado, cuja potência instalada soma 25.692,4 kW.
Quando uma propriedade gera mais energia do que precisa (seja por meio de painéis solares, biogás ou outras fontes) é possível injetar esse excedente na rede de distribuição, gerando assim um “crédito” em energia. Posteriormente, o consumidor pode utilizar em outras unidades consumidoras (no campo ou na cidade), desde que sejam da mesma titularidade (CFP ou CNPJ) da unidade geradora e estejam dentro da área de concessão da mesma empresa distribuidora de energia. Estes créditos têm validade de 60 meses. Essa possibilidade está prevista na Resolução Normativa 482/2012, da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).
O sol é para todos
Apesar da energia elétrica ser bastante representativa nos custos da avicultura e da bovinocultura de leite, o uso dos painéis solares não se restringe a estas atividades. Também em Serranópolis do Iguaçu, o suinocultor Dorival Back instalou painéis solares em busca de mais economia e segurança. “A gente já teve bastante problema de energia, muitas quedas”, afirma. No caso, os painéis foram instalados em cima do galpão de máquinas e no telhado de três casas. A energia é utilizada em todas as atividades da propriedade, em especial na suinocultura.
“O valor do financiamento dos equipamentos, pago mensalmente, é quase igual ao valor da conta de luz. No final de oito anos, quando tiver o retorno do investimento, ainda vou ter energia de graça por mais 17 anos”, calcula, referindo-se à vida útil dos equipamentos, avaliada em 25 anos pelos fabricantes.
Também na bovinocultura de corte, em que o custo da energia não chega a ser representativo, já existem iniciativas para transformar a luz em eletricidade. Em Porecatu, na região Norte, a produtora Ana Thereza Costa Ribeiro, presidente do sindicato rural do município, instalou os painéis solares no final do ano passado. “Em janeiro já zeramos a conta [de luz]”, afirma. A energia gerada alimenta todas as estruturas da propriedade: sede, oficina, escritório, entre outros espaços.
Mas antes de partir para a instalação, a produtora fez um projeto para colocar na ponta do lápis de quanto seria a economia. De acordo com os cálculos, o prazo para o retorno total do investimento é de quatro anos e cinco meses. A economia anual estimada é superior a R$ 21 mil. Êta solzinho amigo!

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