"O Oriente Médio é um grande parceiro do Brasil em termos de alimentação. Temos muitos interesses lá", alertou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Alysson Paolinelli. Ele disse que o embargo dos EUA ao Irã que já existe prejudica os negócios, mas uma radicalização do conflito vai piorar ainda mais o cenário."Devemos ter cautela, não temos de chamar essa briga para nós, não precisamos nos envolver. O que queremos com isso?", questionou o deputado federal Neri Geller (PP-MT), ex-ministro da Agricultura. Para ele, o Brasil deve trabalhar pela pacificação e pela construção de mais relações comerciais no exterior lembrando que o Irã é um comprador importante de produtos como milho, soja e carne bovina do Brasil.
De acordo com dados do Insper Agro Global, o Brasil é o maior fornecedor de alimentos para o Oriente Médio, seguido por Índia e Estados Unidos. O setor de agronegócio representa 97% das exportações brasileiras ao Irã. Em 2018, o Irã foi o quinto maior destino das exportações brasileiras do setor agrícola, após China, União Europeia, EUA e Hong Kong. O Brasil exportou US$ 2,258 bilhões em produtos agrícolas ao Irã e importou US$ 39,92 milhões. Isso gerou um superávit de US$ 2,218 bilhões no ano. Ainda em 2018, o Brasil exportou US$ 550 milhões em produtos agrícolas para o Iraque.
Governo
Na sexta-feira, 3, um dia depois da morte de Suleimani, o Itamaraty divulgou uma nota em que apoiava a "luta contra o flagelo do terrorismo", condenando o ataque à Embaixada dos EUA no Iraque, que havia ocorrido dias antes e acabou por desencadear a ação que matou o general iraniano. O texto, porém, evitou criticar o ataque que matou Suleimani. Em reação, a chancelaria do Irã convocou a encarregada de negócios do Brasil, Maria Cristina Lopes, para uma consulta, um sinal diplomático de reprovação ao texto do Itamaraty. O conteúdo da conversa desta terça-feira, 7, não foi divulgado, mas o órgão diplomático brasileiro descreveu o encontro como "cordial".
Para Bartolomeu Braz, presidente da Aprosoja Brasil, a principal preocupação com a tensão entre EUA e Irã é o aumento dos custos de produção com a alta do petróleo - e não a exportação de alimentos. Braz disse não temer retaliações e afirmou que o País acerta em condenar o terrorismo. "O Brasil exporta alimentos para mais de 200 países, pela qualidade e pela competitividade. Então, esses fatores vão sobressair a uma palavra dita ou não. Acho que isso tende a esfriar", minimizou.
A tensão entre EUA e Irã aumentou desde a morte de Suleimani, que foi enterrado nesta terça como herói nacional. O general era uma das principais referências militares e políticas do Irã e comandante da Força Quds, um grupo de elite dentro da Guarda Revolucionária iraniana.
Os cargueiros iranianos Bavand e Termeh, que trouxeram ureia ao Brasil, ficaram quase 50 dias parados no Porto de Paranaguá, no Paraná, em meados do ano passado, pois a Petrobras havia se negado a vender combustível para os navios, afirmando que a proprietária deles constava na lista de empresas sob sanções dos EUA. Eles só conseguiram zarpar depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou que a Petrobras fornecesse combustível às embarcações. O Irã havia ameaçado cortar as importações do Brasil se os navios não fossem abastecidos e liberados. Dias depois, outros dois cargueiros iranianos, o Delruba e o Ganj, descarregaram ureia no Porto de Imbituba, em Santa Catarina, e partiram em seguida.
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