ALGODÃO
Cotonicultura nacional tem ano histórico
Participação do algodão na China salta de 10% para 30%
Grandes marcas
em produção e produtividade, recordes históricos nas exportações e uma
mais forte no mercado chinês definiram o ano o ano-safra 2018/2019 para a
cotonicultura brasileira. O país colheu 2,9 milhões de toneladas de
algodão, em 1,6 milhões de hectares de lavouras, com produtividade de
1,77 mil quilos de pluma por hectare. Para o ciclo 2019/2020, a
estimativa da Câmara Setorial da Cadeia do Algodão e Derivados do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é de números
ligeiramente mais modestos, com redução de 2,1% de área, 5% a menos no
volume, e de 3,3% de decréscimo na produtividade. Na última quarta-feira
(27/11), a Câmara realizou a última das quatro reuniões anuais de
avaliação de safra, dessa vez, em Cuiabá/MT, na sede da Associação
Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa), com presença de
representantes dos dez estados produtores, indústria, exportadores e
governo.
Apesar de previsões que sugerem
manutenção, em 2019/2020, da performance de 2018/2019, os membros da
Câmara dizem que os números são grandiosos, e consolidam o papel de
grande player do Brasil na configuração atual do mapa global do algodão.
“A partir dessa safra, passamos a influenciar preços e mostramos para o
mercado que nosso algodão, que já era reconhecido pela qualidade e
sustentabilidade, agora também tem escala maior e passa a suprir a
indústria ao longo de 12 meses”, defende o presidente da Associação
Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa) e da Câmara Setorial,
Milton Garbugio. Segundo ele, preços menos atrativos na Bolsa de Nova
Iorque, no segundo semestre de 2019, “frearam um pouco o ímpeto dos
cotonicultores em avançar em área”. O valor da commodity chegou a custar
US$0,57, atualmente, está cotado em U$0,67.
Exportações
Qualidade, volume e, principalmente,
constância na oferta também foram destacados pelo presidente da
Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), Henrique
Sniticovski, como pontos fortes do Brasil perante os compradores
globais. “E, nessa safra, também mostramos que estamos preparados para
entregar o nosso algodão na hora certa. Batemos um recorde histórico num
único mês, quando embarcamos, em outubro deste ano, 274 mil toneladas
de pluma. Antes disso, nossa maior marca havia sido em dezembro de 2018,
com 228 mil toneladas”, compara Snitcovski.
A guerra comercial entre a China e os
Estados Unidos, iniciada em 2018, e o fato de os chineses voltarem a
comprar mais algodão, após um tempo consumindo preferencialmente os
próprios estoques, abriram uma grande janela de oportunidades para o
algodão brasileiro. “Estamos aumentando nossa participação nesse mercado
em relação aos Estados Unidos, que liderava como principal fornecedor.
Mas esse incremento se dá também em função da qualidade,
sustentabilidade, e, sobretudo, capacidade de embarque que vem superando
expectativas”, diz o presidente. Em 2018, o Brasil exportou para a
China 436,5 mil toneladas de pluma. “Agora, de julho até outubro de
2019, já embarcamos 155 mil toneladas. Nossa participação no montante do
algodão que eles compram saiu de 10% para 30%, e isso é muito
significativo”, considera. A China importa no total 2 milhões de
toneladas da commodity, e, acredita-se, tem um déficit de três milhões
de toneladas para suprir o seu parque industrial. “De julho de 2019 a
junho de 2020, 700 mil toneladas do nosso algodão seguirão para lá”,
afirma Snitcovski.
Ainda segundo a Anea, no segundo semestre
de 2019, o Brasil deve embarcar 980 mil toneladas de pluma, e, nos
primeiros seis meses de 2020, 900 mil, perfazendo algo em torno de dois
milhões de toneladas do algodão colhido na safra recém finalizada. De
2013 até 2018, as exportações brasileiras praticamente triplicaram,
saindo de 489 mil toneladas para 1,3 milhões de toneladas.
Indústria
De acordo com o presidente da Associação
Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), Fernando
Pimentel, a indústria nacional deve fechar o ano sem grandes alterações
nas previsões iniciais. “No zero a zero para o setor têxtil ou com uma
ligeira queda; alta discreta na confecção e crescimento no varejo na
faixa de 1% a 1,5%. Portanto, um ano em que nós não tivemos alegrias já
que vamos terminar mais ou menos do mesmo tamanho que começamo”, disse.
Para 2020, se nada mudar no cenário, a
expectativa do setor industrial é de crescer em torno de 2% a 2,5%, com
incremento na faixa de 3,5% para o varejo. Com relação aos empregos, o
setor gerou, até outubro, mais de 15 mil postos formais de trabalho. No
ano passado, no mesmo período, a Abit constatou uma queda de pouco mais
de 2,5 mil postos formais de trabalho. Segundo a associação, não há como
garantir que 2019 finalizará com um número positivo nesse aspecto.
“Mas, podemos imaginar que é provável que fechemos no zero a zero ou com
uma queda relativamente pequena. Já para ano que vem, se nós crescermos
os 2% a 2,5%, estimamos um incremento da ordem de 10 mil empregos
formais”, afirma Pimentel.
Quanto ao consumo de matérias-primas, o
algodão continua sendo o principal insumo produzido e processado no
país, mas o crescimento das fibras sintéticas continua ocorrendo. “Isso
se dá por preços, por tecnologia, processos, enfim uma série de razões. E
é por isso que nós realizaremos um evento na ABIT no dia 11 de
dezembro, para discutir um pouco esse cenário das fibras na indústria
têxtil de confecção, como novas possibilidades advindas da
biodiversidade, para tratar de sustentabilidade, e de como o Brasil vai
lidar com isso”, anuncia Pimentel. “O algodão é uma pluma nobre, mas,
apesar de ser a segunda maior matéria-prima de consumo no mundo, e de,
no Brasil, ser o mais relevante insumo da nossa indústria, vem sendo
erodido na sua posição de mercado”, conclui.
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