Produtor de queijo tipo exportação é convidado para competição mundial na França
As lágrimas rolam com facilidade
quando Lucenildo Souza, mais conhecido como Galego, lembra da sua
trajetória. “Um matuto véi”, como ele mesmo define, que começou a
produzir queijo na fazenda do patrão em Jucurutu quando tinha 20 anos,
hoje é dono da própria queijeira, acumula nove premiações nacionais e
regionais e agora foi convidado para participar 4ª edição da Mondial Du
Fromage – Et Des Produits Laitiers em Tour, na França, uma competição
internacional de queijo.
“Nunca imaginei que isso fosse acontecer
um dia. Sempre procurei fazer um produto bom, para quando chegasse na
mesa do consumidor, ele sentisse a diferença. Tenho muito orgulho de ter
chegado nesse patamar”, diz, emocionado. O convite para participar da
competição na França veio depois da queijeira Serra de Santana ser
premiada por dois anos consecutivos no Prêmio Queijo Brasil, realizado
em São Paulo. Em 2017, o queijo de coalho de Galego recebeu medalha de
ouro na categoria tradicional e em 2018 foi a vez do de manteiga ser
reconhecido com o segundo lugar.
O evento de alcance mundial é um marco na
história do produtor, que coloca na rua 160 quilos de queijo de coalho
diariamente. O item é produzido de maneira artesanal, na zona rural de
Tenente Laurentino Cruz, com ajuda da esposa e de dois funcionários. Mas
esse número vai mais do que dobrar quando a queijeira de Galego estiver
construída e certificada, através do investimento do Governo do Estado
por meio do acordo de empréstimo com o Banco Mundial. Ele foi um dos
selecionados pelo Edital de Leite e Derivados lançado em 2017, e que
agora será retomado pela governadora Fátima Bezerra.
A nova queijeira terá capacidade para
processar até dois mil litros de leite, podendo ser em dois circuitos em
turnos diferentes, totalizando quatro mil litros diários. O que na
produção de Galego significa em torno de 360 quilos de queijo de coalho,
além de uma pequena parcela de queijo de manteiga e manteiga de
garrafa. Um dos maiores sonhos do produtor é ampliar mercado e conseguir
eliminar a figura do atravessador de seu negócio.
“Quero chegar aos grandes supermercados,
agregar valor ao meu produto e não ficar morrendo na mão de um
atravessador. Chego a vender em Natal o quilo de queijo por R$ 30,
enquanto o atravessador me paga R$ 14,50. Esse projeto abriu uma grande
porta e nós vamos aproveitar”, projeta.
O secretário de Gestão de Projetos,
Fernando Mineiro, destaca a importância de se investir no pequeno
produtor e acreditar na agricultura familiar. “Este é um setor
prioritário para o Governo do Estado e a história de Galego nos mostra o
potencial que existe no interior do Rio Grande do Norte. São produtores
como ele, que batalham, vão atrás de seus objetivos e encontram meios
de sobreviver no campo que provam quão fundamental é a agricultura
familiar no RN”, disse.
De funcionário a dono de queijeira
A história de Galego com o queijo começou
em 1998, quando passou a tomar conta da queijeira de seu patrão, na zona
rural de Jucurutu. O proprietário adoeceu e deixou o negócio nas mãos
dele. Foi lá que aprendeu a fazer queijo de coalho, com a produção de
leite das vacas da fazenda. Treze anos se passaram, quando, em 2011, seu
irmão, queijeiro em Tenente Laurentino, o convidou para trabalhar com
ele.
“Fui morar em Tenente para ser uma espécie
de gerente da queijeira, eu fazia de tudo, inclusive a parte
financeira. Eu fui trabalhando e gostando do negócio”, conta. Em 2016,
quando o irmão demonstrou interesse em passar o negócio para frente,
Galego decidiu que era hora de se tornar dono. Pegou uma reserva
financeira que tinha de uma criação de porcos e deu entrada na compra
dos equipamentos da pequena fábrica. O resto parcelou do jeito que
podia. A compra da queijeira custou R$ 70 mil.
Nos últimos três anos, Galego não só
quitou a dívida com o irmão, como viu o negócio crescer. Afeito aos
números e à administração da queijeira, fez cursos no Sebrae, entre eles
o Empretec, e mudou sua visão. Um novo momento começava ali. “Quando
comprei a queijeira, tinha como foco fazer um queijo padrão, diferente
dos outros. Queria que fosse o mais puro possível, preservando a
tradição. Depois desses cursos, isso ficou ainda mais forte dentro de
mim”, relata.
Foi ainda em 2017, na Festa do Boi, que o
queijeiro recebeu o primeiro reconhecimento do seu produto. Foi
escolhido como o queijo destaque do Espaço Terroir montado pelo Sebrae
no evento. A partir da repercussão através de matérias e reportagens,
veio o primeiro convite para participar do Prêmio Queijo Brasil, em São
Paulo. Apenas 30 dias separavam um evento do outro. Foi o tempo
necessário para criar o nome “Serra de Santana”, logomarca, rótulos e
cartões de visita do negócio.
O produto voltou de São Paulo sendo
considerado o melhor queijo do Brasil na categoria tradicional e a
repercussão foi ainda maior. No ano passado, participou do Encontro
Nordestino de Leite e Derivados, em Maceió, que lhe rendeu o segundo
lugar do Nordeste para o queijo de manteiga e o terceiro para o de
coalho. Dois meses depois, estava novamente no Prêmio Brasil, em São
Paulo, e voltou de lá com a medalha de prata para o queijo de manteiga.
Já são nove premiações no bolso.
Quando a nova queijeira estiver pronta,
ele quer ampliar a produção e gerar mais empregos. “Hoje onde trabalho
não é um lugar bonito de se ver, o ponto não é meu. Com esse projeto,
abriu-se uma baita de uma porta, uma coisa que não sei nem explicar o
que significa. Vou receber uma queijeira pronta, toda bonitinha, que eu
só vou entrar pra fabricar meu queijo. É um sonho realizado”, comemora.
Saiba mais
A queijeira Serra de Santana vai receber
R$ 365 mil em investimentos, entre obras e equipamentos. No total, os
recursos aplicados nas 39 queijeiras somam R$ 23 milhões e são oriundos
do Edital de Apoio à Cadeia Produtiva do Leite e Derivados da
Agricultura Familiar, lançado com intuito de dar apoio financeiro e
técnico às organizações que produzem leite e derivados no Seridó.
O objetivo é a regularização sanitária das
queijeiras por meio da adequação da infraestrutura, aquisição de
maquinário e equipamento necessário, melhoria na logística do
transporte, comercialização e capacitação dos funcionários da
comunidade. A regularização é importante para que as cooperativas
recebam o selo das instituições sanitárias vigentes: Serviço de Inspeção
Municipal; Instituto de Defesa e Inspeção Sanitária (IDIARN);
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
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