Futuro aberto a ideias
Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)
Com o olhar liberal econômico do novo
governo, está cada vez mais presente a defesa de maior abertura e
integração do Brasil no comércio mundial. Para o agro, a médio prazo,
isso significaria buscar estratégias para conquistar novos mercados,
fomentar transações com produtos alimentares de maior valor agregado,
desenvolver serviços tecnológicos para todo espectro do complexo
agroindustrial e criar inteligência de marketing para competir em
mercados maduros e conectado ao consumidor. Enfim, vai chegar a hora de
buscar inovações em produtos e novas competências em gestão, para as
quais não demos ainda foco mais forte.
Encontramos um exemplo interessante
dessa cultura diferente de agribusiness na Dinamarca, onde há 11 anos
foi criado o Nordic Food Lab (“Laboratório de Alimentos Nórdicos”, em
tradução livre), ligado ao Departamento de Ciência dos Alimentos da
Universidade de Copenhagen. Com abordagem científica e humanística
multidisciplinar -- e pesquisadores de países da Europa, América do
Norte, América do Sul e Ásia – a instituição estuda a conduta alimentar
das pessoas em várias etnias, o uso de ingredientes novos e técnicas
culinárias ou de processamento com maior potencial para o sabor. Visa
aumentar a diversidade da oferta de alimentos da região, privilegiando
um enfoque de inovação e saúde.
Outro exemplo instigante, daqui do
Brasil, aliás: uma máquina (B.Blend) capaz de preparar bebidas quentes e
frias – como refrigerantes, sucos de frutas, chás e café, a partir de
cápsulas similares àquelas que se vê em cafeteiras. Ideia que pode mexer
no conceito de consumo, processamento, players e logística dessas
categorias de produto. Por enquanto, o projeto engatinha no mercado, mas
aparentemente é proposta voltada ao consumidor do futuro, pois tem
afinidade com valores de consumo das novas gerações, como o fato de ser
digital, simples, de fácil mobilidade e com menos resíduos plásticos.
Ainda em território brasileiro,
encontramos empreendedores que estão desbravando a China, longe dos
holofotes da soja ou de proteínas animais. Cafeicultores mineiros que
estão ensinando os chineses a trocar seu tradicional chá por cafés finos
do nosso país, a maior parte em café verde. Recebem cerca de 15% a mais
do que o preço médio da bebida e fazem uma ação mais ousada sobre o
mercado, trabalhando o hábito de beber café entre a população chinesa
mais jovem, surfando a atração cada vez maior que os hábitos de consumo
ocidentais exercem sobre a juventude urbana daquele país.
Nesses três exemplos, chamo a atenção
não tanto para os fatos em si, mas para o que eles contêm de estratégia
empreendedora. Neles se observa aposta para o futuro, foco em valor
agregado, valorização da ciência & tecnologia e visões consistentes
de marketing. Devemos entender o lugar de nosso agronegócio no mundo, em
bases mais amplas de oferta e qualidade. As oportunidades – para uma
economia do nosso porte e já protagonista na produção de alimentos –
podem ser imensas. E, aproveitá-las, não é só missão de governo. É
missão de todo o complexo agroindustrial – de preferência devidamente
integrado.
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