terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Um olhar integrado para o futuro da agricultura

Atualmente no Brasil existem 80 empresas no mercado e 220 produtos registrados

     

O mercado global de produtos biológicos para agricultura vem demonstrando uma trajetória ascendente na comercialização segundo a pesquisa feita em conjunto pela ABCBio (Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico) e Agrobusiness Consulting para a Revista Agroanalysis de outubro deste ano. Foram estimados US$ 2,5 bilhões em comercialização de biodefensivos somente em 2016, com a Europa representando 30% das vendas, seguida por América do Norte e Ásia-Pacífico (27%) e América Latina (13%). A previsão é que a América Latina cresça em mais de 40% até 2021, entre os países com maior crescimento estão Brasil, México, Chile e Argentina, apontando grande potencial para novos produtos e indústrias. 

Atualmente no Brasil existem 80 empresas no mercado e 220 produtos registrados, os quais podem ser segmentados pelas classes agronômicas ilustradas no gráfico abaixo, e demonstram um grande número de inseticidas e produtos contendo parasitoides. Os fungos entomopatogênicos são os mais registrados, 33 produtos focados em pastagem e cana-de-açúcar contendo o fungo Metarhizium anisopliae contra a cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta, D. schach e Zulia entreriana) e cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata). 24 biodefensivos com o agente de controle Beauveria bassiana contra alvos importantes como mosca-branca (Bemisia tabaci raça B) e ácaro-rajado (Tetranychus urticae). Trichoderma spp. utilizado principalmente para doenças causadas por fungos de solo, entre eles, Fusarium solani, Rhizoctonia solani e Sclerotinia sclerotiorum.
Entre as bactérias entomopatogênicas a espécie mais registrada é Bacillus thuringiensis com 27 produtos do total de 46 biodefensivos com Bacillus spp. utilizados no controle de lepidópteros e coleópteros pragas de diversas culturas agrícolas. Produtos à base de Baculovírus utilizados contra Helicoverpa sp., Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e Lagarta-do-cartucho (Spodoptera frugiperda) possuem especificidade e eficácia comprovada. Na cultura da cana-de-açúcar, a praga que pode gerar grandes perdas é a broca-da-cana (Diatraea saccharalis), para seu controle, no mercado existem 28 produtos à base de parasitoides da espécie Cotesia flavipes que ataca a fase de lagarta e para as demais lagartas de importância econômica, 16 biodefensivos contendo os parasitoides Trichogramma galloi e T. pretiosum prontos para comercialização. Para as principais pragas que contaminam os solos brasileiros, nematoides-das-galhas (Meloidogynes javanica) e nematoides-das-lesões (Pratylenchus zeae), estão disponíveis 24 nematicidas biológicos contendo fungos e bactérias em sua composição. 

Oportunidade de Nicho de Mercado
Os nematoides além de serem responsáveis por prejuízos significativos em diversas culturas atacando suas raízes, possuem espécies que oferecem potencial para o controle biológico de insetos pragas. O Instituto biológico em publicação sobre nematoides contra insetos, cita informações de 11 famílias de nematoides com potencial para uso como biodefensivos. As principais famílias são: Mermithidae, Neotylenchidae, Steinernematidae e Heterorhabditidae. Os nematoides das espécies Steinernema spp. e Heterorhabditis spp. possuem associação com as bactérias Xenorhabdus e Photorhabdus, resultando na morte rápida do inseto alvo e os tornando mais adequados para o controle, já sendo utilizados com sucesso em diversos países. Levantamentos recentes realizados por vários grupos de pesquisas no Brasil têm mostrado a incidência de nematoides entomopatogênicos em diversas regiões do país, dentre eles, os programas com Heterorhabditis spp. e Steinernema spp. contra cochonilha-da-raiz (Dysmicoccus texensis), lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), mosca-das-frutas (Ceratitis capitata), estão em desenvolvimento para a produção massal desses agentes, avaliar o potencial de uso para o controle de insetos pragas e fomentar a participação da empresa privada nesse setor.
A necessidade da adoção do Manejo Integrado de Pragas, por meio de uma agricultura preventiva e mais sustentável, permite a abertura de um leque de oportunidades de mercado para o uso de nematoides entomopatogênicos no Brasil. Ainda não existem produtos registrados ou com solicitação de registro nos ministérios contendo nematoides como agentes de controle biológico, devido às características de clima tropical do Brasil, que possui temperatura e umidade oscilantes no mesmo dia, dificultando sua estabilidade em produtos. Este é um nicho de mercado em expansão, necessitando de pesquisas avançadas e implantação de biofábricas para a produção comercial.

Registro de Biodefensivos
Segundo informações da ABCBio, a fila de solicitações de registro de produtos biológicos é bem menor e mais rápida se comparada com a fila de produtos químicos, pois possuem tramitação de processos priorizada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), devido sua baixa toxicidade e periculosidade. Em média o processo de um produto biológico contendo espécie nova leva 3 anos devido às exigências solicitadas pelos órgãos avaliadores e a morosidade nas respostas por parte das empresas. No caso de espécies já conhecidas no Brasil, o processo de registro é mais rápido, aproximadamente 1 ano após o protocolo nos ministérios.
Uma etapa obrigatória do processo que atrasa o registro de biológicos no Brasil é a solicitação de Registro Especial Temporário (RET), documento que concede o direito de importar/produzir a quantidade de produto necessária à pesquisa, que atualmente ainda é realizado em meio físico, chamado de “RET de papel”, e leva aproximadamente 12 meses para sua aprovação. Porém, o IBAMA juntamente com a ABCBio criaram o módulo online para produtos biológicos no SISRET (Sistema Eletrônico de Requerimento e Análise de Registro Especial Temporário), com implementação prevista para dezembro de 2018, o qual facilitará a aprovação do processo. São essas melhorias nos procedimentos regulatórios que ajudarão na viabilidade de novos produtos, proporcionando aos agricultores opções e tecnologias apropriadas para cada tipo de praga.  

Marciele Pandolfo, Bióloga

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