Um olhar integrado para o futuro da agricultura
Atualmente no Brasil existem 80 empresas no mercado e 220 produtos registrados
O mercado global
de produtos biológicos para agricultura vem demonstrando uma trajetória
ascendente na comercialização segundo a pesquisa feita em conjunto pela
ABCBio (Associação Brasileira das Empresas de Controle Biológico) e
Agrobusiness Consulting para a Revista Agroanalysis de outubro deste
ano. Foram estimados US$ 2,5 bilhões em comercialização de biodefensivos
somente em 2016, com a Europa representando 30% das vendas, seguida por
América do Norte e Ásia-Pacífico (27%) e América Latina (13%). A
previsão é que a América Latina cresça em mais de 40% até 2021, entre os
países com maior crescimento estão Brasil, México, Chile e Argentina,
apontando grande potencial para novos produtos e indústrias.
Atualmente no Brasil existem 80 empresas
no mercado e 220 produtos registrados, os quais podem ser segmentados
pelas classes agronômicas ilustradas no gráfico abaixo, e demonstram um
grande número de inseticidas e produtos contendo parasitoides. Os fungos
entomopatogênicos são os mais registrados, 33 produtos focados em
pastagem e cana-de-açúcar contendo o fungo Metarhizium anisopliae contra
a cigarrinha-das-pastagens (Deois flavopicta, D. schach e Zulia
entreriana) e cigarrinha-das-raízes (Mahanarva fimbriolata). 24
biodefensivos com o agente de controle Beauveria bassiana contra alvos
importantes como mosca-branca (Bemisia tabaci raça B) e ácaro-rajado
(Tetranychus urticae). Trichoderma spp. utilizado principalmente para
doenças causadas por fungos de solo, entre eles, Fusarium solani,
Rhizoctonia solani e Sclerotinia sclerotiorum.
Entre as bactérias entomopatogênicas a
espécie mais registrada é Bacillus thuringiensis com 27 produtos do
total de 46 biodefensivos com Bacillus spp. utilizados no controle de
lepidópteros e coleópteros pragas de diversas culturas agrícolas.
Produtos à base de Baculovírus utilizados contra Helicoverpa sp.,
Lagarta-da-soja (Anticarsia gemmatalis) e Lagarta-do-cartucho
(Spodoptera frugiperda) possuem especificidade e eficácia comprovada. Na
cultura da cana-de-açúcar, a praga que pode gerar grandes perdas é a
broca-da-cana (Diatraea saccharalis), para seu controle, no mercado
existem 28 produtos à base de parasitoides da espécie Cotesia flavipes
que ataca a fase de lagarta e para as demais lagartas de importância
econômica, 16 biodefensivos contendo os parasitoides Trichogramma galloi
e T. pretiosum prontos para comercialização. Para as principais pragas
que contaminam os solos brasileiros, nematoides-das-galhas (Meloidogynes
javanica) e nematoides-das-lesões (Pratylenchus zeae), estão
disponíveis 24 nematicidas biológicos contendo fungos e bactérias em sua
composição.
Oportunidade de Nicho de Mercado
Os nematoides além de serem responsáveis
por prejuízos significativos em diversas culturas atacando suas raízes,
possuem espécies que oferecem potencial para o controle biológico de
insetos pragas. O Instituto biológico em publicação sobre nematoides
contra insetos, cita informações de 11 famílias de nematoides com
potencial para uso como biodefensivos. As principais famílias são:
Mermithidae, Neotylenchidae, Steinernematidae e Heterorhabditidae. Os
nematoides das espécies Steinernema spp. e Heterorhabditis spp. possuem
associação com as bactérias Xenorhabdus e Photorhabdus, resultando na
morte rápida do inseto alvo e os tornando mais adequados para o
controle, já sendo utilizados com sucesso em diversos países.
Levantamentos recentes realizados por vários grupos de pesquisas no
Brasil têm mostrado a incidência de nematoides entomopatogênicos em
diversas regiões do país, dentre eles, os programas com Heterorhabditis
spp. e Steinernema spp. contra cochonilha-da-raiz (Dysmicoccus
texensis), lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), mosca-das-frutas (Ceratitis
capitata), estão em desenvolvimento para a produção massal desses
agentes, avaliar o potencial de uso para o controle de insetos pragas e
fomentar a participação da empresa privada nesse setor.
A necessidade da adoção do Manejo
Integrado de Pragas, por meio de uma agricultura preventiva e mais
sustentável, permite a abertura de um leque de oportunidades de mercado
para o uso de nematoides entomopatogênicos no Brasil. Ainda não existem
produtos registrados ou com solicitação de registro nos ministérios
contendo nematoides como agentes de controle biológico, devido às
características de clima tropical do Brasil, que possui temperatura e
umidade oscilantes no mesmo dia, dificultando sua estabilidade em
produtos. Este é um nicho de mercado em expansão, necessitando de
pesquisas avançadas e implantação de biofábricas para a produção
comercial.
Registro de Biodefensivos
Segundo informações da ABCBio, a fila de
solicitações de registro de produtos biológicos é bem menor e mais
rápida se comparada com a fila de produtos químicos, pois possuem
tramitação de processos priorizada na Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis (IBAMA), devido sua baixa toxicidade e periculosidade. Em
média o processo de um produto biológico contendo espécie nova leva 3
anos devido às exigências solicitadas pelos órgãos avaliadores e a
morosidade nas respostas por parte das empresas. No caso de espécies já
conhecidas no Brasil, o processo de registro é mais rápido,
aproximadamente 1 ano após o protocolo nos ministérios.
Uma etapa obrigatória do processo que
atrasa o registro de biológicos no Brasil é a solicitação de Registro
Especial Temporário (RET), documento que concede o direito de
importar/produzir a quantidade de produto necessária à pesquisa, que
atualmente ainda é realizado em meio físico, chamado de “RET de papel”, e
leva aproximadamente 12 meses para sua aprovação. Porém, o IBAMA
juntamente com a ABCBio criaram o módulo online para produtos biológicos
no SISRET (Sistema Eletrônico de Requerimento e Análise de Registro
Especial Temporário), com implementação prevista para dezembro de 2018, o
qual facilitará a aprovação do processo. São essas melhorias nos
procedimentos regulatórios que ajudarão na viabilidade de novos
produtos, proporcionando aos agricultores opções e tecnologias
apropriadas para cada tipo de praga.
Marciele Pandolfo, Bióloga
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