Embrapa disponibiliza dados expandidos de pesquisa sobre desperdício de alimentos em famílias
Um
retrato da relação entre as famílias brasileiras e os alimentos que
diariamente vão parar nas latas de lixo de todo o País. A realidade
desse traço comportamental arraigado na rotina do brasileiro está
comprovada no relatório final de um projeto que buscou quantificar o
desperdício de alimentos em famílias brasileiras e mapear caminhos que
levassem a respostas sobre o porquê de quantidades tão grandes de comida
deixarem de ser consumidas, a ponto de serem descartadas em um mundo
com fome. Os dados detalhados da pesquisa estão disponíveis na internet
e podem ser acessados na página dos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil,
programa de cooperação que possibilitou a execução da pesquisa liderada
pela Embrapa em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP).
Além
de estabelecer uma métrica dos valores absolutos do desperdício
alimentar domiciliar no Brasil, a pesquisa também evidenciou a
correlação negativa do desperdício, de maneira estatisticamente
significativa, com duas variáveis atitudinais da população: consciência
socioambiental e percepção do impacto no orçamento familiar.
Respondentes com maior consciência ambiental e maior percepção do
impacto do desperdício no orçamento familiar, apresentaram menor
propensão a desperdiçar alimentos.
“Os
resultados enfatizam a importância de ações contínuas para mudanças
comportamentais nos consumidores por meio de campanhas de comunicação e
iniciativas de educação nutricional. O Brasil já dispõe de um plano de
ação abrangente para reduzir perdas e desperdício de alimentos, que é a Estratégia aprovada pela Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional.
O desafio também passa pela vontade política necessária para a
implementação da Estratégia e articulação de ações conjuntas que
envolvam diferentes elos da cadeia agroalimentar”, destaca Gustavo
Porpino, analista da Secretaria de Inovação da Embrapa e líder do
projeto concluído nos Diálogos Setoriais UE-Brasil.
Para
Carlos Eduardo Lourenço, pesquisador da FGV-EAESP, a pesquisa concluída
também contribui para o avanço na compreensão do comportamento de
consumo de alimentos do brasileiro. “As evidências empíricas apontam
para a força da cultura nos hábitos de desperdiçar alimentos dos
brasileiros. A intenção, a partir dos achados deste estudo, é dar
continuidade às pesquisas com novas abordagens sobre os fatores
comportamentais que levam ao desperdício de alimentos”, comenta.
Próximos passos
Na
primeira semana de abril, uma comitiva brasileira viaja à Suécia para
continuar as discussões em sistemas de prevenção do desperdício de
alimentos, iniciado no Seminário Internacional UE-Brasil sobre o tema
ocorrido no mês de setembro em Brasília. Na oportunidade serão abordadas
metodologias para quantificação de perdas e desperdício de alimentos em
todos os elos da cadeia alimentar, a partir das experiências suecas. O
convite partiu da Agência Sueca de Proteção Ambiental que, em conjunto
com o Swedish Environmental Research Institute - IVL e a University of
Boras, vem realizando esforços para estabelecer acordos de cooperação no
Brasil com a Embrapa, FGV-EAESP e Prefeitura de São Paulo. Os
resultados do projeto liderado pela Embrapa nos Diálogos Setoriais
UE-Brasil serão compartilhados durante o “Diálogo nacional da Suécia
sobre prevenção ao desperdício de alimentos”, a ser realizado em 3 de
abril em Jonkoping.
Entre os dias 29 e 31 de
maio, o Rio de Janeiro será a sede da Aliança Latinoamericana para o
Pacto de Milão, reunindo representantes de 25 cidades de oito países da
América Latina para discutir soluções de sistemas alimentares
sustentáveis. O evento será uma oportunidade para debates, trocas de
experiências e constituição de parcerias nacionais e internacionais para
políticas urbanas alimentares mais justas, inovadoras e sustentáveis. O
desperdício de alimentos representa uma das principais diretrizes do
Pacto de Milão com quatro ações recomendadas às 183 cidades signatárias
ao redor do mundo. A constituição da Aliança Latinoamericana para o
Pacto de Milão representa um desdobramento das ações realizadas pelo
projeto em conclusão nos Diálogos Setoriais União Europeia-Brasil e
contou com parceria da WWF-Brasil e FGV-EAESP, além de apoio do
Ministério do Desenvolvimento Social, Prefeitura do Rio de Janeiro e
FAO. A partir dessa iniciativa, termo de cooperação técnica está sendo
constituído com a Prefeitura do Rio de Janeiro e renovado o memorando de
entendimento com o WWF-Brasil. Com esse último, a pauta de trabalho
está voltada principalmente para ações de comunicação e engajamento de
consumidores para conscientização em prol da redução do desperdício de
alimentos, em continuidade às ações da iniciativa #SemDesperdício.
A
Embrapa também integra o Comitê Técnico da Estratégia Intersetorial de
Combate às Perdas e Desperdício de Alimentos no Brasil. A atuação tem
como foco o eixo “Pesquisa, Conhecimento e Inovação” para o levantamento
de informações que subsidiem ações e políticas públicas. “Estamos
elaborando uma proposta para avaliação, em toda a cadeia alimentar, de
perdas e desperdício dos principais alimentos consumidos no Brasil, de
acordo com o IBGE, incluindo cárneos, lácteos, frutas e hortaliças”,
informa Gilmar Henz, pesquisador da Secretaria de Inteligência e
Relações Estratégicas (SIRE), que integra o Comitê. No mês de agosto do
ano passado foram iniciadas discussões sobre métodos de aferição de
perdas e desperdícios em evento realizado no Ministério de
Desenvolvimento Social em Brasília, com a participação da pesquisadora
Felicitas Schneider, do Instituto Thünen, da Alemanha. “Com todas essas
iniciativas em parceria, a Embrapa dá sua contribuição para a Estratégia
nacional para redução das perdas e desperdício de alimentos e reforça o
alinhamento das suas ações com os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável”, conclui Gustavo Porpino.
Embrapa Agroindústria de Alimentos
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