Com realismo e objetividade
Por Coriolano Xavier, membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS) e Professor da ESPM.
Começa o novo governo com ímpeto,
efervescência política, alguns cacoetes de palanque e enormes desafios,
jogando as expectativas lá em cima. E o agro, se quiser manter seu ritmo
histórico recente de expansão, contribuir e ser protagonista em uma
virada econômica do país, terá que superar (mais uma vez) a si mesmo. No
geral, o setor não padece da ameaça de baixa produtividade, que
espreita outros setores da economia. Pelo contrário. Mas carrega no
lombo o surrealismo dos impostos e do tamanho do Estado, o peso da crise
fiscal e de outras mazelas do “custo Brasil”, como de resto carregam
todos os brasileiros.
Fazer o Brasil crescer será a
determinante chave para um bom encaminhamento de todas as outras
mudanças esperadas pela sociedade no jeito de ser, fazer e pensar do
país. E esse esperado sucesso na gestão macroeconômica significará
melhor potencial de avanço das cadeias produtivas de alimentos. Em 2017,
só a indústria de alimentação movimentou R$645 bilhões e manteve-se
ascendente em 2018, diz a associação setorial (ABIA). Representa cerca
de 10% do PIB e 25% da indústria, somando 36.000 empresas que investem
4,5% a 5% do faturamento em inovações, informa a entidade. Por isso, a
economia recuperada impacta no vigor quantitativo e qualitativo do agro
inteiro, alimentando uma espécie de círculo virtuoso.
As lideranças do setor também podem
ficar de olho e se preparar para um cenário de abertura comercial mais
profunda (provavelmente gradual), contemplando inclusive serviços, novas
tecnologias e alguma desregulamentação de investimento estrangeiro
direto. Ou seja, está aí um fator para o agro ponderar desde já em suas
estratégias de médio prazo, principalmente na perspectiva de explorar
oportunidades para produtos com valor agregado, serviços tecnológicos e
parcerias internacionais.
Toda essa prontidão também deve existir
para os riscos, pois o mapa do mercado internacional pode não ser tão
sereno assim. Basta lembrar a questão do Brexit e seus impactos na União
Europeia, uma já falada perda de fôlego da economia norte americana, os
tropeços de Trump dentro do país e suas escaramuças comerciais com a
China. Como tempero temos algum descrédito na globalização,
revisionismos nacionalistas em certas partes do mundo e resistências
culturais à ciência, em segmentos do consumo alimentar.
Somando tudo, podem surgir tremores
localizados no mercado internacional, que será um espaço cada vez mais
estratégico para o crescimento de nossas cadeias produtivas de
agronegócio. Ao agro e à indústria da alimentação, apesar do bom momento
e das vantagens competitivas construídas nos últimos tempos, convém
encarar o futuro próximo acima de tudo com realismo e consciência dos
negócios. Foi assim que fizemos a diferença dentro e fora do Brasil e
2019 será um ano decisivo para o setor inaugurar mais uma década de
bonança.
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